China expulsa contratorpedeiro e contesta manobras navais dos EUA

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

O Exército de Libertação Popular da China (PLA) afirmou, esta quinta-feira, ter expulsado o contratorpedeiro USS Curtis Wilbur, acusando Washington de colocar em risco a paz e a estabilidade do estreito de Taiwan. Pequim emitiu ainda um novo protesto, o segundo em dois dias, sobre a atividade naval dos Estados Unidos, acusando o navio norte-americano de invadir ilegalmente as suas águas territoriais, em torno das ilhas Paracel, no Mar do Sul da China.

A relação China-Estados Unidos continua tensa, desta vez por razões militares. Horas depois de Joe Biden, na quarta-feira, ter afirmado que se devia garantir o acesso livre à hidrovia, a China acusa um navio de guerra da Marina dos Estados Unigos de ter navegavago "ilegalmente" perto das disputadas ilhas Paracel, controladas por Pequim no Mar da China Meridional.

Depois de o contratorpedeiro atravessar a região na terça-feira, o Governo chinês contestou a passagem do destróier norte-americano USS Curtis Wilbur, designando-o como uma provocação que minou a paz e a estabilidade na região. O coronel Zhang Chunhui, porta-voz do Comando do Teatro Oriental do Exército chinês, afirmou que as atividades navais de Washington "perturbam deliberadamente a situação regional e colocam em risco a paz e a estabilidade no estreito".

Esta quinta-feira, a China voltou a contestar a atividade naval norte-americana referindo que o navio de guerra dos EUA entrou ilegalmente nas suas águas territoriais no Mar da China Meridional, afirmação que Washington nega. Pequim assegurou ainda que as autoridades chinesas já expulsaram da região o contratorpedeiro.

Num comunicado, o Comando do Teatro Sul disse que o USS Curtis Wilbur cometeu uma ação "ilegal", levando à mobilização das forças chinesas para exigir que deixasse a área. A ação dos EUA "aumenta artificialmente os riscos para a segurança regional e pode levar a mal-entendidos, julgamentos equivocados e acidentes no mar", acrescenta ainda.

As autoridades chinesas consideraram ainda as manobras do navio como "pouco profissionais e irresponsáveis", referindo que Pequim está determinado a defender as reivindicações soberanas do país, enquanto mantêm a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China.

Entretanto, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, também expressou firme oposição contra a invasão dos EUA, enfatizando que esta ação norte-americana representa uma violação grosseira da soberania e da segurança nacional da China.
EUA reivindicam "direitos e liberdades de navegação"

Apesar das acusações de Pequim, os EUA recusam-se a reconhecer a reivindicação da China de praticamente todo o Mar do Sul da China e conduzem regularmente o que designam de operações de liberdade de navegação para afirmar o seu direito de navegar em águas internacionais.

Em resposta aos protestos de Pequim, Washington alegou que a embarcação "realizou uma passagem de rotina".

"A passagem do navio através do estreito de Taiwan demonstra o compromisso dos EUA por um Indo-Pacífico livre e aberto. Os militares dos EUA vão continuar a voar, a navegar e a operar em qualquer lugar onde a lei internacional permita"
, comunicou a 7ª Frota da Marinha dos EUA.

A 7ª Frota da Marinha dos EUA acrescentou ainda, num comunicado, que o contratorpedeiro "afirmou direitos e liberdades de navegação" perto das ilhas Paracel, sobre as quais a China, Taiwan e o Vietname reivindicam soberania.

As forças norte-americanas acrescentam ainda que as acusações dos militares chineses sobre a missão são falsos.

"O USS Curtis Wilbur não foi expulso do território de nenhuma nação", lê-se. "O USS Curtis Wilbur conduziu esta Operação de Liberdade de Navegação (FONOP) de acordo com o direito internacional e depois continuou a conduzir as operações normais em águas internacionais".

Na quarta-feira, o presidente norte-americano acusou a China e a Rússia de "ações disruptivas" que desafiam as regras internacionais que protegem o comércio marítimo no Mar do Sul da China e outras vias navegáveis.

Num discurso na Academia da Guarda Costeira dos EUA, Joe Biden afirmou que os "princípios marítimos básicos de longa data, como a liberdade de navegação, são os alicerces de uma economia global e da segurança global".

"Quando as nações tentam enganar o sistema ou virar as regras a seu favor, isso desequilibra tudo", disse Biden aos formandos do academia em New London, Connecticut.

"É de interesse vital para a política externa dos Estados Unidos garantir o fluxo desimpedido do comércio global. E isso não vai acontecer sem que tenhamos um papel ativo para definir as normas de conduta, para moldá-las em torno de valores democráticos, não dos valores dos autocratas".

Embora o Estreito esteja em águas internacionais, a China considera que Taiwan ainda é parte do seu território e, por isso, que a presença da Marinha dos EUA perto da ilha é um apoio à governação autónoma do território - que opera como entidade política soberana, com um governo democraticamente eleito.

O Mar da China Meridional tornou-se, então, um dos muitos pontos de tensão no relacionamento hostil entre a China e os Estados Unidos, com Washington a rejeitar as reivindicações territoriais, que considera ilegais, de Pequim.

Prova disso é que, nos últimos anos, foram vários os navios de guerra norte-americanos que atravessaram Mar da China Meridional com frequência, numa demonstração de força contra as reivindicações chinesas. A travessia do navio Curtis Wilbur é a quinto, nesta região, desde que Joe Biden tomou posse. Em março, o destróier USS John Finn também passou pela região e a 25 de fevereiro, o navio de guerra norte-americano USS Curtis Wilbur já tinha atravessado a área.

Além de ter constituído a maior frota de marinha e de guarda costeira do mundo, a China fortificou as suas propriedades insulares no estrategicamente vital Mar do Sul da China e criou novos postos insulares empilhando cimento de areia em recifes de coral e cobrindo-os com pistas de aterragem e outras infraestruturas.

Pequim continua a ingnorar reivindicações territoriais rivais dos países vizinhos do sudeste asiático, assim como a decisão arbitral internacional que declarou inválida a maioria das reivindicações da China no Mar do Sul da China.
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