"Cidade humanitária" de Israel é "crime contra a Humanidade"

O ministro israelita da Defesa chama-lhe "cidade humanitária" e quer construí-la nas ruínas de Rafah. É para ali que Israel Katz quer mandar todos os palestinianos que vivem em Gaza. Especialistas em direito internacional garantem que este plano de Israel é um crime contra a Humanidade.

Cristina Santos - RTP /
Israel Katz, o ministro israelita da Defesa Ronen Zvulun - Reuters

De acordo com o jornal Haaretz, o ministro deu ordens ao exército para se preparar para estabelecer este campo para os palestinianos de Gaza.

Num encontro com jornalistas, o ministro da Defesa de Israel explica como vai funcionar este campo. Os palestinianos vão passar por uma "triagem de segurança" antes de entrar e, uma vez lá dentro, não têm permissão para sair.
O perímetro deste campo de concentração será controlado pelas forças israelitas e, de acordo com o plano do ministro, vão ser “transferidos” para o local 600.000 palestinianos

A maioria que atualmente está deslocada na região de al-Mawasi (designada por Israel como zona humanitária para albergar os refugiados forçados a abandonar o norte da Faixa de Gaza desde o início da guerra).

Ainda citado pelo jornal israelita Haaretz, o ministro da Defesa revela que todos os palestinianos de Gaza vão ser “transferidos” para a “cidade humanitária”, nas ruínas de Rafah. Depois, Israel pretende implementar "o plano de emigração” dos palestinianos, “o que acontecerá", garantiu Israel Katz.

Desde que Donald Trump afirmou, no início do ano, que um grande número de palestinianos deveria deixar Gaza para "limpar" a Faixa, vários políticos israelitas, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, têm promovido com entusiasmo a deportação forçada, frequentemente apresentando-a como um projeto dos EUA.

Os planos do ministro israelita foram expostos publicamente pelo próprio pouco antes de Netanyahu chegar a Washington para discutir a um acordo de cessar-fogo que termine ou pelo menos interrompa a guerra de 21 meses. Ora, a construção deste campo em Rafah, ou "cidade humanitária" poderá começar durante o cessar-fogo, afirmou Katz. 
Numa altura em que Netanyahu está a liderar esforços para encontrar países dispostos a "acolher" palestinianos, acrescentou o ministro.

Na Casa Branca, na segunda-feira, Netanyahu afirmou apenas que os EUA e Israel estão a trabalhar com outros países que dariam aos palestinianos um "futuro melhor".

Também ontem a Reuters revelou que a Casa Branca já analisou os planos para a construção de campos chamados "áreas de trânsito humanitário" para os palestinianos dentro e possivelmente fora de Gaza.
"Crime contra a Humanidade"
Especialistas em direito internacional garantem que este plano de Israel é um crime contra a Humanidade.

A construção do campo viola o direito internacional, assegura ao The Guardian, Michael Sfard, um dos principais advogados de Direitos Humanos de Israel.

“(Katz) elaborou um plano operacional para um crime contra a humanidade. Não é nada menos do que isso”, afirma Sfard.

“Trata-se de uma transferência populacional para o extremo sul da Faixa de Gaza, preparando a deportação para fora da Faixa”, sintetiza este advogado de Direitos Humanos. “Embora o governo diga que a deportação será ‘voluntária’, as pessoas em Gaza estão sob tantas medidas coercivas que qualquer saída da Faixa não pode ser vista, à face da lei, como voluntária”.
Quando se expulsa alguém da sua terra natal, isso é um crime de guerra, no contexto de uma guerra. Se for feito em grande escala, como Israel planeia, torna-se um crime contra a humanidade”, acrescentou Michael Sfard.
PUB