Cientistas dão voz a múmia com mais de três mil anos

por RTP
Mohamed Abd El Ghany - Reuters

Um grupo de cientistas do Reino Unido conseguiu recriar o som de uma múmia, usando uma versão 3D do trato vocal, que foi digitalizado para estabelecer as suas dimensões reais. Os cientistas cumpriram assim o desejo de um padre egípcio após a sua morte.

A voz de um antigo sacerdote egípcio foi ouvida pela primeira vez desde que ele morreu e foi mumificado há cerca de três mil anos.

Quando morreu, acreditava-se que a causa da morte do sacerdote tenha sido estrangulamento, mas com o avançar do tempo foi proposta a teoria de que Nesyamun foi vítima de uma reação alérgica, que resultou possivelmente de uma picada de um inseto na língua.

Segundo os investigadores, a teoria da reação alérgica pode explicar a razão para a língua da múmia estar furada e não ter nenhum dano nossos ossos que rodeiam o pescoço.

A equipa de cientistas, do departamento de engenharia eletrónica da Universidade de Londres, Royal Holloway, imprimiu em 3D uma reprodução do trato vocal de Nesyamun para ouvir como seria a sua voz.


David Howard, líder da investigação, conseguiram reproduzir o trato vocal da múmia, através de técnicas avançadas de tomografia computorizada e recriar em 3D a garganta do sacerdote, o que lhes permitiu ouvir o registo vocal de Nesyamun como se estivesse vivo no sarcófago.

“Não é um som do seu discurso tal e qual, porque na realidade não é mesmo ele que está a falar”, disse Howard, citado pelo jornal britânico The Guardian.
"A língua estava murcha"

A equipa de investigação revelou ter levado a múmia para a enfermaria geral de Leeds e realizaram várias tomografias computorizadas e, a partir daí, conseguiram produzir uma reconstrução digital do trato vocal.

A mumificação, o enterro e o tempo em que esteve enterrada comprometeram a qualidade da experiência, uma vez que a língua estava murcha e o palato mole era inexistente, o que levou a que os cientistas tivessem de emparelhar o modelo da laringe a um altifalante eletrónico.

“O som da laringe é eletrónico e, se o som fosse produzido por Nesyamun, ele iria passar o ar do pulmão para fora, através da laringe, onde as suas cordas vocais vibrariam para criar o mesmo efeito”, disse o responsável pela investigação.

No caso de Nesyamun ter realmente morrido depois da picada de um inseto, “é possível que o último suspiro dele tenha sido “ai! ou argh!”.

De acordo com os especialistas, as dimensões da laringe e do trato vocal de Nesyamun apontam para que a sua voz tenha sido um pouco mais aguda do que a voz de um homem atualmente.

A equipa escreveu que a voz de Nesyamun seria crucial, uma vez que ele, como consequência do trabalho de sacerdote, teria que conversar e cantar.

O arqueólogo John Schofield, coautor do estudo, afirma que a equipa pretende desenvolver um modelo de computador que “permita mover [o trato vocal] e formar diferentes sons de vogais e, com sorte, finalmente palavras”.
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