Clinton denuncia "guerra aberta à verdade, aos factos e à razão"

por Carlos Santos Neves - RTP
“Estamos a atravessar uma guerra aberta à verdade, aos factos e à razão” Aaron Bernstein - Reuters

Hillary Clinton voltou a quebrar o jejum político a que se remeteu após a derrota na eleição presidencial de 2016. No domingo, durante um evento cultural em Nova Iorque, a antiga secretária de Estado da Administração Obama apontou todas as munições ao 45.º Presidente dos Estados Unidos, equiparando a governação de Donald Trump a um regime autoritário que se inclina para “o fim da liberdade”.

A atual conjuntura política norte-americana, advertiu Hillary Clinton no festival PEN America World Voices, em Manhattan, caracteriza-se por um “assalto” à liberdade de imprensa e de expressão.“Dado o seu histórico, é surpresa para alguém que, de acordo com as últimas revelações, ele tenha gracejado sobre mandar jornalistas para a prisão para os obrigar a falar?”.


“Estamos a atravessar uma guerra aberta à verdade, aos factos e à razão”, alertou a candidata presidencial derrotada por Donald J. Trump na eleição de 2016.

“Quando os líderes negam coisas que podemos ver com os nossos olhos, como o tamanho da multidão na tomada de posse, quando se recusam a aceitar ciência estabelecida, relativamente a desafios como as alterações climáticas, é o começo do fim da liberdade e isto não é uma hipérbole”, continuou Clinton.

Para rematar: “É o que regimes autoritários fizeram ao longo da História”.

Na sua intervenção, a antiga primeira-dama e senadora por Nova Iorque começou por abordar ameaças globais ao exercício da liberdade de expressão, abarcando no acervo o Presidente russo, Vladimir Putin. Mas o discurso depressa incidiu sobre a Administração Trump, sob a qual, segundo Hillary Clinton, direitos consagrados no edifício democrático norte-americano estão em posição de histórica fragilidade.

“Hoje temos um Presidente que parece rejeitar o papel de uma imprensa livre na nossa democracia. Embora obcecado com a sua própria cobertura de imprensa, ele avalia-a com base não no conhecimento que oferece, mas apenas em saber se a cobertura diária o ajuda e atinge os seus opositores”, acusou.
“O que é que eu faço?”

Após esta intervenção, citada na edição online do jornal britânico The Guardian, a ex-candidata presidencial entregou-se a uma conversa com a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Questionada sobre a sua postura durante a campanha, Hillary acabaria por reconhecer que não contra-atacou o suficiente. E tornou a lembrar o debate em que se sentiu fisicamente perseguida pelo adversário.

Clinton descreveu mesmo o que pensou na altura: “O que é que eu faço? Volto-me para trás e digo: afasta-te, seu tarado? A cobertura teria sido: ela não aguenta a pressão, ela zangou-se”.

“Tens de te manter calma e controlada. Porque o que o país quer é alguém que não ande a explodir na Sala Oval”, continuou. “Bem, vocês sabem que isso não funcionou assim tão bem”.
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