CNN processa Trump e exige reposição da acreditação de Jim Acosta

por Andreia Martins - RTP
“Embora o processo seja especificamente sobre a CNN e Acosta, esta situação podia ter acontecido a qualquer um", destaca a cadeia televisiva norte-americana em comunicado Jonathan Ernst - Reuters

A cadeia televisiva norte-americana anunciou esta terça-feira que vai processar o Presidente norte-americano e vários assessores da Casa Branca na sequência da retirada de credenciais ao jornalista Jim Acosta.

Em comunicado, a CNN exige a devolução das credenciais do correspondente da televisão norte-americana na Casa Branca, Jim Acosta. “A revogação injusta destas credenciais viola o direito à liberdade de imprensa da CNN e de Acosta, consagrados na primeira e quinta emendas da Constituição”. 

“Apresentamos a este tribunal uma providência cautelar, exigindo que o passe seja devolvido a Jim (Acosta)”, refere o comunicado, onde se informa que o processo foi submetido ao tribunal de Washington, que tem jurisdição sobre o caso. 

Em causa está a revogação da acreditação de imprensa do jornalista Jim Acosta, da CNN, após um confronto de palavras entre o repórter e o Presidente norte-americano, que mais tarde foi impedido de entrar nas instalações da Casa Branca.  

Os factos remontam à semana passada, durante uma conferência de imprensa muito tensa em que o jornalista Jim Acosta continuou a fazer perguntas e se recusou a devolver o microfone ao staff da Presidência.

“A CNN deveria ter vergonha de o ter a trabalhar para eles. É uma pessoa terrível e mal-educada”, apontou Donald Trump perante a insistência do repórter. Mais tarde, um agente dos Serviços Secretos solicitou a acreditação de Jim Acosta.  

A CNN assinala que pediu a reposição imediata da acreditação de Jim Acosta numa carta endereçada à Casa Branca na passada sexta-feira, ou seja, antes de ter decidido avançar com uma ação judicial.   

Para além do Presidente norte-americano, o processo visa outros cinco membros da equioa: Sara Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, John Kelly, chefe de Gabinete, Bill Shine, chefe adjunto de Comunicação, Joseph Clancy, diretor dos Serviços Secretos, e ainda um agente deste serviço que não foi identificado.  
"Reação desproporcionada"

No dia após a retirada da acreditação, a Casa Branca esclareceu que só tomou essa decisão porque Jim Acosta tocou numa das estagiárias responsáveis pelo microfone, quando esta tentou retirar-lho. Esta terça-feira, em reação à providência cautelar, assegura que se defenderá "vigorosamente" da queixa apresentada.

"É apenas uma nova chamada de atenção por parte da CNN (...) A Primeira Emenda não se aplica quando um único repórter entre mais de 150 presentes procura monopolizar o auditório", refere a Casa Branca em comunicado.

O documento refere ainda que Jim Acosta "respondeu fisicamente" à funcionária que lhe tentou tirar-lhe o microfone, isto depois de Donald Trump ter respondido a duas perguntas colocadas pelo repórter.

Em comunicado, a Associação de Correspondentes da Casa Branca expressa “forte apoio” à ação judicial da cadeia televisiva.  

“A revogação do acesso aos edifícios da Casa Branca foi uma reação desproporcionada aos acontecimentos da última quarta-feira. (…)  O Presidente dos Estados Unidos não pode escolher arbitrariamente os homens e mulheres que o acompanham”, acrescenta o comunicado de Olivier Knox, presidente da associação de correspondentes.

A conferência de imprensa de todos os incidentes decorreu na quarta-feira, no rescaldo das eleições intercalares de 7 de novembro, que ditaram uma nova redistribuição de poderes no Congresso norte-americano. O Partido Republicano conseguiu manter o controlo do Senado, mas perdeu a maioria da Câmara dos Representantes para o Partido Democrático.
"Podia ter acontecido a qualquer um"

Esta não é a primeira vez que Donald Trump entra em confronto direto com jornalistas e meios de comunicação. Em várias ocasiões ao longo de quase dois anos de mandato, o Presidente norte-americano mostrou-se avesso às perguntas e à presença de determinados jornalistas, incluindo do próprio Jim Acosta e da CNN.  

Em janeiro de 2017, Donald Trump respondia a Jim Acosta que a televisão norte-americana é “terrível” e transmite “fake news”. 

Desde que Donald Trump assumiu funções que se rompeu a tradição de contar com a presença do Presidente norte-americano no jantar anual de correspondentes da Casa Branca.  

Na sexta-feira, dois dias depois da revogação da acreditação de Acosta, Donald Trump avisou que a mesma ação poderia ser tomada contra outros jornalistas. "Posso fazer o mesmo a outros, também", alertou.

No comunicado desta terça-feira, citado pela própria CNN, a cadeia televisiva destaca que “embora o processo seja especificamente sobre a CNN e Acosta, esta situação podia ter acontecido a qualquer um. (...) Se estas ações não forem contestadas, as ações da Casa Branca criariam um perigoso efeito inibidor para qualquer jornalista que acompanhe os responsáveis eleitos”.  

Jeff Zucker, presidente da CNN, explica ainda que a decisão não foi tomada de ânimo leve mas que “as ações da Casa Branca não têm precedentes”.  
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