Começou a "batalha pelo Donbass". Qual a importância da região para a Rússia?

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Centro de discórdia entre Moscovo e Kiev há mais de oito anos, a região do Donbass volta agora a ser o palco central neste conflito, tendo o presidente ucraniano anunciado esta terça-feira o início da “batalha pelo Donbass”. A conquista desta região no leste da Ucrânia, juntamente com a cidade de Mariupol, daria a Moscovo a possibilidade de criação de um corredor para a Crimeia.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou esta segunda-feira que os russos deram início à “batalha pelo Donbass”.

Há várias semanas que o lado ucraniano vinha a alertar para uma ofensiva em grande escala no leste do país, depois de o exército russo ter retirado as suas tropas da capital ucraniana, Kiev, e ter concentrado os esforços da “operação militar especial” na zona do Donbass. Mas o que é, afinal, o Donbass e porquê que Vladimir Putin quer controlar esta região?

Dobass é uma região no leste da Ucrânia composta por duas regiões, Donetsk e Lugansk, que se estendem desde a cidade estratégica portuária de Mariupol, no sul, até à fronteira norte da Ucrânia. Mas apesar de se situar em território ucraniano, grande parte da região do Donbass é controlada pelos separatistas pró-russos das autoproclamadas repúblicas de Lugansk e Donetsk.

Na verdade, o conflito nesta região não é de hoje e é preciso mesmo recuar oito anos para se perceber o cerne desta batalha. Em 2014, a Rússia anexou a Crimeia após um referendo que não foi reconhecido por Kiev e por grande parte da comunidade internacional.

Esse foi também o ano em que rebeldes separatistas, apoiados por Moscovo, lançaram uma ofensiva em várias cidades do leste da Ucrânia por se recusarem a reconhecer o novo governo ucraniano, instituído após um golpe de Estado que se seguiu à revolução de 2014 contra o governo do então presidente eleito, Viktor Yanukovych.

Em resultado desses combates, partes das regiões de Lugansk e Donetsk, na região do Donbass, ficaram nas mãos dos separatistas pró-Rússia, mas os combates com as forças ucranianas nunca cessaram. Em oito anos e até à invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano, mais de 14 mil pessoas morreram neste conflito persistente.

Na altura, em 2014, os separatistas apoiados pela Rússia declararam a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk. As novas “repúblicas” não são reconhecidas nem por Kiev nem por grande parte da comunidade internacional.

A 21 de fevereiro deste ano, o presidente russo reconheceu a independência dos territórios separatistas de Donetsk e Lugansk. Três dias depois, Vladimir Putin anunciou uma operação militar para salvar os russos de Donbass de um "genocídio" orquestrado por "neonazis" ucranianos, que foi o ponto de partida para a ofensiva militar em grande escala na Ucrânia.
Por que quer Putin controlar Donbass?
Para além dos laços históricos com Donbass, que chegou a ser apelidada de “Nova Rússia” no final do século XVIII, a conquista por parte de Moscovo das duas grandes regiões de Donetsk e Lugansk poderia dar a Putin o seu grito de vitória nesta ofensiva militar.
Confrontados com uma forte resistência ucraniana, as tropas russas têm sofrido grandes perdas nestas sete semanas de conflito, falhando a conquista de várias cidades estratégicas, nomeadamente Kiev.
Conquistadas estas duas regiões, o próximo passo seria anexar Donbass, assim como Putin fez com a Crimeia em 2014. Se Putin conseguisse essa conquista até 9 de maio, poderia mesmo comemorar no “Dia da Vitória”, que marca a derrota da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial.

As forças russas estão também focadas na cidade portuária de Mariupol, considerada de grande importância estratégica. Localizada junto ao mar de Azov, a tomada de Mariupol é um dos principais objetivos russos para conseguir o controlo total da região do Donbass. Conquistada toda essa península, Moscovo teria condições para a criação de um corredor para a Crimeia.


Para além disso, o interesse de Putin por Donbass – a segunda região mais povoada da Ucrânia – passa também pelo seu potencial energético. Também conhecida por bacia de Donets, a região do Donbass é uma importante região mineradora e industrial, sendo a maior fonte de energia da Ucrânia e um importante centro industrial. Em 1913, a bacia carbonífera produzia cerca de 87% de carvão mineral na Rússia.
Tópicos
pub