Como está a reagir a Europa à vitória de Meloni nas legislativas italianas

por Inês Moreira dos Santos - RTP
Flavio Lo Scalzo - Reuters

Georgia Meloni do partido Irmãos de Itália (FdI) será a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do país, tendo declarado que os eleitores italianos indicaram pretender um governo de centro-direita. As reações aos resultados das eleições italianas divergem por toda a Europa.

A vitória das eleições legislativas de domingo, em Itália, foi da líder de extrema-direita. Prevê-se que Georgia Meloni forme o executivo italiano mais à direita desde a II Guerra Mundial - o que pode gerar preocupação acrescida na Europa, tendo em conta que se trata da terceira maior economia da União.

Após os resultados apontarem para a vitória, Meloni prometeu "governar para todos" e não trair a confiança dos eleitores.

"Os italianos enviaram uma mensagem clara a favor de um governo de direita liderado pelos Irmãos da Itália", disse em Roma. No contexto europeu atual, as opiniões divergem.

A Itália é um dos países fundadores da União Europeia e membro da NATO, mas a retórica de Meloni é próxima da do do líder nacionalista húngaro Viktor Orbán. E, de facto, o diretor político do primeiro-ministro húngaro, Balazs Orban, foi dos primeiros a reagir à vitórida dos partidos de direita italianos.

"Precisamos mais do que nunca de amigos que partilhem uma visão e abordagem comuns aos desafios da Europa"
, afirmou, citado pela BBC.

Em França, Jordan Bardella, da Frente Nacional, de extrema-direita, afirmou que os eleitores italianos tinham dado "uma lição de humildade" à chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que referiu recentemente que a Europa tinha "as ferramentas" para responder se a Itália fosse numa "direção difícil".

Já dentro do próprio país, espera-se que Meloni não "balance muito o barco da Europa" e se concentre noutras políticas.

"Acho que teremos mais restrições aos direitos civis e políticas para questões LGBT e de migração"
, disse o professor Gianluca Passarrelli, da Universidade Sapienza de Roma.
Conflito na Ucrânia e crescimento da extrema-direita

A vitória esperada da direita italiana tem levantado algumas questões sobre as alianças do país na Europa, à medida que o continente se aproxima de um inverno que provavelmente será dominado pelos altos preços da energia, além do contexto atual com o conflito na Ucrânia.

O Partido Social-Democrata da Alemanha alertou, já na semana passada, que a vitória de Meloni não seria benéfica para a cooperação europeia. Lars Klingbeil, presidente do SPD do chanceler Olaf Scholz, acusa a líder da extrema-direita italiana de se alinhar com figuras “antidemocráticas” como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

Por outro lado, o partido alemão de extrema-direita AfD saudou, no domingo, a vitória da direita na Itália.

"Celebramos com a Itália!", escreveu a deputada do AfD, Beatrix von Storch, no Twitter.

"Suécia no norte, Itália no sul: governos de esquerda são notícia de ontem", escreveu ainda, referindo-se aos recentes resultados das eleições suecas que marcaram uma vitória significativa para os democratas suecos de direita.


Meloni também é próxima, como observa o Guardian, do partido nacionalista Lei e Justiça da Polónia, do partido anti-imigrantes Democratas Suecos e do partido de extrema-direita espanhol Vox - a agora eleita primeira-ministra de Itália viajou no verão para um comício do Vox em Marbella, onde expressou várias opiniões controversas sobre imigração e homossexualidade.

“Meloni tem a ambição de representar um modelo não apenas para a Itália, mas para a Europa – isso é algo novo [para a direita na Itália] em comparação com o passado”, explicou ao jornal britânico Nadia Urbinati, teórica política da Universidade de Columbia. “Ela tem contactos com outros partidos conservadores, que querem uma Europa com menos direitos civis. O modelo está lá e o projeto também".

Questionada sobre o conflito na Ucrânia, Meloni condenou a invasão da Rússia e apoiou o envio de armas para o país devastado pela guerra. No entanto, ainda não deixou claro se o seu Governo vai apoiar o novo pacote de sanções da UE a Moscovo.
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