Comunidade internacional condena novas execuções no Irão

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

Foram executados este sábado mais dois prisioneiros, condenados à morte por terem alegadamente assassinado um agente de segurança durante os protestos que têm abalado o país nos últimos meses. A comunidade internacional condenou imediatamente estas execuções, considerando-as "revoltantes" e "chocantes", e instou o Governo iraniano a pôr fim a este tipo de condenações.

“Mohammad Mahdi Karami e Seyyed Mohammad Hosseini, os principais autores do crime que levou ao martírio de Ruhollah Ajamian, foram enforcados esta manhã”, informou a agência de notícias judicial Mizan Online, este sábado.

Os dois iranianos foram executados pelo alegado homicídio de um basiji - uma milícia islâmica - em novembro, durante as manifestações que se seguiram à morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini e que que se transformaram num dos mais sérios desafios ao regime teocrata do Irão, instalado pela Revolução Islâmica de 1979.

Com estas execuções, sobe para quatro o número de prisioneiros condenados à morte, desde setembro, o que tem gerado indignação a nível mundial.


A Organização das Nações Unidas foi das primeiras a manifestar-se, condenando os “julgamento injustos baseados em confissões forçadas”. Numa publicação no Twitter, o gabinete dos Direitos Humanos da ONU apelou ao Irão que “interrompa todas as execuções”.



A União Europeia disse estar "horrorizada" com a execução dos dois homens, presos e condenados à morte devido à participação nos protestos em curso no Irão.

“A UE denuncia um novo sinal de repressão violenta das manifestações e apela uma vez mais às autoridades iranianas para que ponham imediatamente termo à prática altamente condenável de pronunciar e executar sentenças de morte contra os manifestantes"
, referiu Nabila Massrali, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Em comunicado, a UE exigiu ainda o “cancelamento imediato” das restantes sentenças de morte já proferidas no âmbito das manifestações.

Também o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros condenou as execuções e instou o Irão a “acabar imediatamente com a violência contra o seu próprio povo”.

“A execução de Mohammad Mahdi Karami e Seyed Mohammad Hosseini pelo regime iraniano é abominável”
, escreveu James Cleverly, no Twitter. E acrescentou que o Reino Unido se opões “fortemente à pena de morte em todas as circunstâncias”.


Estas execuções são “revoltantes”, na ótica da diplomacia francesa, que apelou ao Governo iraniano que ouvisse “as legítimas aspirações do povo”.

"A execução de manifestantes não pode substituir uma resposta às legítimas aspirações de liberdade do povo iraniano"
, lê-se num comunicado de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França. "Essas terríveis execuções somam-se a muitas outras violações graves e inaceitáveis dos direitos e liberdades fundamentais cometidas pelas autoridades iranianas".

O gabinete da chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna, frisou ainda que o país tem repetidamente denunciado estas violações, “pública e diretamente às autoridades iranianas, assim como aos seus parceiros na União Europeia”.

Nestes mais de três meses de protestos, fortemente reprimidos pelas autoridades iranianas, mais de 500 pessoas já foram mortas e pelo menos 15.000 detidas, segundo a organização não-governamental Iran Human Rights.
“Julgamento simulado”
O tribunal iraniano de primeira instância condenou os dois homens à morte a 4 de dezembro e o Supremo Tribunal do Irão confirmou as sentenças no passado dia 3 de janeiro. Segundo as organizações e os ativistas dos Direitos Humanos, esta é uma “justiça acelerada”.

Mohammad Mahdi Karami, de 22 anos, e Seyed Mohammad Hosseini, de 33 anos, foram acusados de ter morto um membro da milícia basij (associada ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica). De acordo com os promotores iranianos, o agente de autoridade, de 27 anos, terá sido despido e assassinado por um grupo de pessoas que prestavam homenagem a um manifestante morto nos protestos.

A família de Mohammad Mahdi Karami divulgou, ainda em dezembro, um vídeo a apelar às autoridades para que retrocedessem na decisão de executar o jovem iraniano, recordando que o detido era membro da equipa nacional de Karaté. Os familiares afirmaram ainda que o advogado de defesa não conseguiu ter acesso ao processo de Karami antes do julgamento e que este estava em greve de fome, como forma de protesto.

Já os advogados que representam Hosseini disseram que este foi espancado e vendado enquanto estava detido.

"Ele foi eletrocutado e espancado na sola dos pés com uma haste de metal"
, disse à comunicação social local Ali Sharifzadeh Ardakani.

De acordo com o Centro de Direitos Humanos do Irão (CHRI), os dois homens foram "linchados" e não tinham como ter um julgamento justo.

"A República Islâmica está a usar as execuções e a força letal contra os manifestantes de rua para impor o terror nos corações da população e para esmagar as esperanças do povo iraniano e os apelos por mudança”.


Para a Amnistia Internacional, este foi um "julgamento de grupo injusto e acelerado" e as autoridades iranianas estão a preparar-se para condenar à morte pelo menos 26 pessoas. Nazanin Boniadi, ator britânico de origem iraniana e embaixador da Amnistia Internacional no Reino Unido, escreveu no Twitter que o “custo político das execuções no Irão” devia aumentar.

Na mesma linha, Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor do Iran Human Rights, afirmou à comunicação social que os dois homens foram “torturados e condenado após falsos julgamentos, sem os padrões mínimos para o devido processo”.

Ao longo do dia de hoje, depois de mais confirmadas mais duas execuções, foram vários os ativistas e organizações de direitos humanos que pediram uma ação internacional mais forte após as últimas execuções.
Tópicos
pub