Conflito em Gaza. Teerão recruta voluntários para combater contra Israel

Teerão tem demonstrado apoio total ao Hamas, condenando os ataques israelitas em Gaza e encorajando os iranianos a lutar contra Israel no enclave palestiniano. O regime iraniano lançou uma campanha de recrutamento online que está a suscitar a desconfiança de uma parte da população, avança o canal francês France 24.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Cartaz pró-palestiniano, na praça Vali-Asr em Teerão, Irão, a 25 de outubro Abedin Taherkenareh - EPA

Na semana passada, o Governo iraniano lançou uma campanha de recrutamento de voluntários para combater em Gaza, onde os interessados são convidados a registar os seus dados através de um site ou de um sistema de sms criado pelas autoridades iranianas. "Para apoiar a legítima defesa da nação oprimida declara a tua prontidão para ser enviado às regiões em troca da Palestina ocupada", pode ler-se no site, segundo a BBC.

O rosto da campanha online é um jovem pré-adolescente, com um casaco militar e um Keffiyeh – lenço palestiniano – à volta do pescoço, em frente à mesquita de de Al-Aqsa, na cidade de Jerusalém, em Israel. Ao peito traz a efígie do falecido general Qassem Soleimani, líder da brigada Al Quds, da Guarda Revolucionária iraniana, que foi morto pelos Estados Unidos, em Bagdade, em 2020.

 
Trata-se de uma operação de propaganda de grande dimensão para recrutar combatentes - incluindo crianças - para o conflito israelo-palestiniano em Gaza. "Conhecida como a “Tempestade Al-Aqsa”, o nome de código utilizado pelo Hamas para o seu ataque terrorista contra Israel a 7 de outubro”, conta a France 24, está a ser difundida em "vários sites afiliados aos Guardas da Revolução, bem como pela rádio e televisão estatais” iranianas, acrescenta.

Também na Praça Vali-Asr, no centro de Teerão, um cartaz gigante mostra pessoas a caminhar em direção a Jerusalém e encoraja os vários povos do Médio Oriente a mobilizarem-se “contra a opressão”. Segundo Jonathan Piron, historiador especializado no Irão, “uma parte da população (iraniana) vê este discurso como propaganda, mesmo que não seja indiferente à situação dos palestinianos" disse à France 24.

O povo iraniano está habituado à retórica do regime iraniano e à utilização de lemas de defesa da destruição do Estado Judaico como “Morte a Israel” ou a "Morte aos Estados Unidos". “Mas muitos iranianos consideram-nos sem sentido e invertem-nos durante as manifestações anti-regime que pedem a morte, não de Israel ou dos Estados Unidos, mas do líder supremo Ali Khamenei", salientou o historiador. 

"A causa palestiniana é muitas vezes apresentada pelo regime iraniano com o objetivo de mobilizar a população, mas esta não se deixa enganar pela utilização que o regime faz desta causa para servir os seus próprios interesses", explicou Jonathan Piron. Acrescentando que, nos últimos anos, aumentou o número de manifestações contra o investimento do Governo “em operações externas na Síria, no Líbano ou a favor do Hamas” em detrimento “do bem-estar da população”.
 
Segundo a televisão iraniana, o número de voluntários iranianos inscritos na lista de "mártires" prontos a serem enviados para Palestina e a combater contra Israel ultrapassava os 3 milhões, conta a France 24.

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