Em direto
Guerra no Médio Oriente. A escalada do conflito entre Irão e Israel ao minuto

Conflito na Ucrânia. Putin compara guerra em Donbass a "genocídio"

por Andreia Martins - RTP
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy na visita aos militares em Donetsk, junto à linha de separação com os rebeldes pró-russos, a 6 de dezembro de 2021. Serviço de Imprensa da Presidência da Ucrânia, via Reuters

O Presidente russo tem vindo a endurecer a retórica sobre a situação no leste da Ucrânia. Na quinta-feira, Vladimir Putin argumentou que a guerra no país vizinho "se assemelha a um primeiro passo para o genocídio" e expôs a "russofobia" além-fronteiras contra população falante de russo.

“Tenho de falar da russofobia como um primeiro passo para o genocídio. É isso que está a acontecer atualmente em Donbass. Conseguimos ver, nós sabemos disso”, afirmou o Presidente russo em declarações ao jornalista russo-ucraniano Kirill Vyshinsky.

Vyshinsky esteve detido na Ucrânia entre 2018 e 2019 e destacou que “os falantes da língua russa e membros do povo russo” em Donbass vivem em “condições de vida insuportáveis”.

As declarações de Putin foram proferidas no final de uma reunião com o Conselho Presidencial de Direitos Humanos, numa altura em que o leste da Ucrânia volta a estar no centro de grandes tensões a nível internacional.

Vários países ocidentais têm acusado Moscovo de estar a concentrar tropas junto à fronteira com a Ucrânia com o objetivo de preparar uma intervenção militar no território, tendo destacado cerca de 100 mil soldados para a fronteira com o país vizinho. A Rússia tem desmentido sempre as acusações.

Na última semana, a tensão agravou-se ainda mais com a divulgação de novos dados recolhidos pelos serviços de informação dos Estados Unidos, que apontam para manobras de artilharia, equipamento e pessoal que poderão envolver “até 175 mil tropas russas” numa alegada ofensiva russa, prevista para o início de 2022.

Numa conferência de imprensa horas depois das novas declarações de Putin, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, sublinhou que os russos “são conhecidos pelas escaladas retóricas” e pela “desinformação que espalham pelo mundo”.

“Por isso acho que temos de olhar para os esforços de comunicarem com o seu próprio público com alguma cautela”, completou.
“Um novo Srebrenica”
A região de Donbass, referida pelo Presidente russo, está em situação de conflito desde 2014, na sequência da anexação da península da Crimeia pela Rússia. Situada no extremo leste da Ucrânia, Donbass continua a ser palco do confronto entre Kiev e os líderes rebeldes separatistas.

Em sete anos de confrontos entre as tropas afetas a Kiev e os separatistas pró-russos, morreram pelo menos 13 mil pessoas. Neste conflito, a Rússia é considerada como a principal apoiante militar e financeira dos rebeldes separatistas, mas recusa sempre qualquer envolvimento. Aponta, no entanto, para a forte discriminação da população pró-Rússia nestes territórios.

Esta não é, aliás, a primeira vez que o Kremlin acusa Kiev de genocídio. Logo em 2015, Vladimir Putin denunciou a recusa das autoridades ucranianas em entregarem gás a regiões separatistas do leste como um “genocídio”.

Em 2019, o Presidente russo alertava para o perigo de um novo massacre como Srebrenica em caso de controlo absoluto da região por parte das forças governamentais afetas a Kiev. Na altura, Putin pedia uma amnistia para os residentes pró-russos de Donetsk e Luhansk.

Em paralelo, o Kremlin continua a acusar os países da NATO de “multiplicarem provocações” junto às fronteiras russas, nomeadamente com manobras militares no Mar Negro, e exige garantias de que países como a Ucrânia nunca poderão integrar a Aliança Atlântica.

O conflito no leste da Ucrânia foi, de resto, o tema central da reunião por videoconferência de terça-feira entre o Presidente norte-americano e o homólogo russo. Em duas horas de conversações, Joe Biden expressou “profunda preocupação” sobre as ações da Rússia na Ucrânia e prometeu responder com “fortes sanções económicas, e não só”.

Por seu lado, Vladimir Putin preferiu destacar “o lamentável estado” das relações entre os Estados Unidos e a Rússia, exprimindo a vontade de que os dois líderes possam voltar a encontrar-se em breve.
pub