Confrontos entre manifestantes em Chemnitz após morte de cidadão alemão

por Andreia Martins - RTP
Vários manifestantes da extrema-direita com cartazes contra requerentes de asilo no país Matthias Rietschel - Reuters

A cidade de Chemnitz, na Saxónia, foi palco de violentos protestos nos últimos dois dias após o esfaqueamento e morte de um cidadão alemão no sábado à noite. A chanceler alemã condenou os protestos violentos da extrema-direita e referiu que não há lugar, no país, para atos de “justiça popular”.

Os protestos começaram no domingo após o esfaqueamento de um cidadão alemão de 35 anos, que acabou por morrer. A briga terá envolvido dez pessoas de “várias nacionalidades”, segundo revela o Deutsche Welle. Para além da vítima mortal, mais dois homens de 33 e 38 anos, aparentemente imigrantes, ficaram feridos.
 
A polícia está a investigar o caso e deteve dois homens suspeitos, um sírio de 22 anos e um iraquiano de 21 anos, não tendo revelado mais detalhes sobre o homicídio. Nas redes sociais, circulam rumores que os alegados atacantes são requerentes de asilo que chegaram ao país na vaga migratória dos últimos anos.   
 
Horas depois do crime, um protesto espontâneo juntou cerca de 800 pessoas ligadas à extrema-direita, já no domingo. Entre estes manifestantes, a polícia identificou 50 pessoas como capazes de desencadearem atos violentos.  
 
O protesto juntou simpatizantes da Alternativa para a Alemanha (AfD), principal partido de oposição no Bundestag, e ainda apoiantes do movimento PEGIDA (sigla alemã para Patriotas Europeus Contra a Islamização do Ocidente) e membros do grupo radical Kaotic Chemnitz.  
 
Desde 2015, a entrada de um milhão de requerentes de asilo na Alemanha durante a recente crise de refugiados tem motivado a ascensão de movimentos extremistas, que culpam o incremento de criminalidade com a chegada destes imigrantes. 
Confrontos no segundo dia de manifestações
Este protesto apanhou de surpresa as autoridades policiais e obrigou mesmo ao reforço de pessoal, com a chegada de mais polícias vindos das cidades vizinhas de Leipzig e Dresden. Ainda assim, o reforço do dispositivo policial não conseguiu evitar novos distúrbios que tiveram lugar esta segunda-feira.
 
No segundo dia de protestos estiveram nas ruas cerca de 6.000 pessoas afetas à extrema-direita. Segundo o ministro do Interior da Saxónia, grande parte destes manifestantes veio de outras partes da Alemanha para se juntar aos protestos. Cerca de 1.000 pessoas participaram numa contramanifestação.
 
Houve mesmo registo de confrontos entre os dois lados, e a polícia teve dificuldade em manter os dois grupos separados. Vários manifestantes atiraram com material pirotécnico e garrafas de vidro contra o lado oposto e contra as autoridades.  
 
“As imagens de pessoas a perseguirem aqueles que aparentam ser estrangeiros assustam-nos. Queremos mostrar que Chamnitz tem um lado que é cosmopolita e que se opõe à xenofobia”, disse Tim Detzner, um representante local do partido de extrema-esquerda, durante a ação de protesto.  
 
Durante os dois dias, as imagens captadas pelas televisões alemãs e vídeos amadores mostram um grupo de skinheads a perseguir um jovem de aparência estrangeira, enquanto outros faziam a saudação nazi, um gesto ilegal na Alemanha desde o final da II Guerra Mundial.

Os manifestantes exigiram também a demissão de Angela Merkel, com gritos de ordem contra os “criminosos estrangeiros” e em nome da “defesa da Europa” e de preservação da “Alemanha aos alemães”.
 
Segundo a agência Reuters, um rapaz afegão de 18 anos e uma rapariga alemã de 15 anos foram atacados durante os protestos de domingo. Nos confrontos de segunda-feira entre manifestantes e contramanifestantes, seis pessoas ficaram feridas.   “O povo tem de tomar as ruas”
Ainda antes dos confrontos violentos na segunda-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, veio condenar a xenofobia e racismo da primeira manifestação.  
 
"Não toleramos estas reuniões ilegais e a perseguição de pessoas que parecem diferentes ou têm origens diferentes, ou tentativas de espalhar o ódio nas ruas", disse o porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, durante uma conferência de imprensa.  
 
O Governo alemão condenou vigorosamente os protestos e disse que o país não aceita que se faça justiça pelas próprias mãos.
 
"A nossa mensagem para Chemnitz e para outras cidades é de que não há lugar, na Alemanha, para uma justiça popular, ou para grupos que querem espalhar o ódio nas ruas, para a intolerância e extremismo", acrescentou o porta-voz.  
 
Roland Woeller, ministro do Interior na Saxónia, disse que não iria tolerar estas ações de "anarquistas" e alertou para as "desinformações e as mentiras" a circular na internet, pedindo calma e confiança à população nas informações que são dadas pela polícia.
 
Uma visão diferente é a do deputado alemão Markus Frohnmaier, da Alternativa para a Alemanha (AfD), que incitou aos protestos às ruas no último domingo:
 
“Se o Estado não consegue proteger os cidadãos, então o povo tem de tomar as ruas e proteger-se. É tão simples quanto isto! Hoje, é um dever cívico parar com a mortífera “migração de facas". Poderia ter sido o seu pai, filho ou irmão”, escreveu no Twitter, em referência ao homicídio de domingo e ao fluxo migratório registado nos últimos anos.  
 

Martinna Renner, do partido de esquerda Die Linke, acusa a extrema-direita de se estar a aproveitar deste homicídio para atingir objetivos políticos.  
 
"É um homicídio terrível, cujo contexto ainda é pouco claro, que está a ser instrumentalizado da forma mais repugnante para gerar protestos racistas em Chemnitz", escreveu também no Twitter.


(com agências internacionais)
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