Consistório. Papa Francisco cria 13 novos cardeais

por Graça Andrade Ramos - RTP
O Papa Francisco criou 13 novos cardeais, nove dos quais eleitores, dia 28 de novembro de 2020, no sétimo consistório do seu pontificado Reuters

O Papa Francisco criou este sábado no Vaticano, na Basílica de São Pedro, 13 novos cardeais provenientes de todos os continentes e seguindo um rito ligeiramente modificado devido à pandemia de Covid-19.

Desde que foi eleito em 2013, o sumo-pontífice de 83 anos, originário da Argentina, criou assim 95 dos 229 cardeais que compõem atualmente o Colégio Cardinalício, incluindo os novos 13.

Nove destes têm menos de 80 anos e poderão dessa forma participar num futuro conclave para eleger um sucessor de Francisco. Este foi o sétimo consistório do Papa argentino, que já elegeu 57 por cento dos 128 cardeais eleitores.
Contestatário
Entre os novos cardeais, destaca-se o primeiro cardeal afro-americano. Wilton Gregory, de 72 anos, saltou para os jornais quando, enquanto arcebispo de Washington, criticou o Presidente Donald Trump em junho passado, pela sua visita a uma igreja católica junto à Casa Branca, durante protestos anti-racismo.

Gregory considerou "espantoso e condenatório que qualquer instituição católica se deixasse manipular e usar dessa forma", reação que provocou críticas por parte dos apoiantes católicos de Trump.

Em entrevista à agência Reuters, quinta-feira, Wilton Gregory afirmou que irá tentar encontrar pontos em comum com Joe Biden, apesar de várias divergências nomeadamente quanto ao aborto.

O novo cardeal destacou-se este sábado também por ser o único dos novos cardeais a permanecer de máscara quando ajoelhou perante o papa para ser investido cardeal.Cor do sangue
O primeiro cardeal afro-americano, e um punhado de outros novos prelados, cumpriram uma quarentena de 10 dias nos seus quartos na Casa de Sta Marta, onde também reside o Papa, devido à pandemia de Covid-19. Os novos cardeais do Brunei e das Filipinas não puderam viajar e irão receber o anel e o barrete cardinalícios das mãos de um delegado papal.

Não foi esse o maior efeito da pandemia.

Os novos "príncipes da Igreja", assim designados porque o novo estatuto os equipara em termos de etiqueta aos príncipes de sangue, ajoelharam-se diante do Papa para receber o barrete, o anel e o título, na Basílica de São Pedro. Mas o tradicional "beijo da paz" não ocorreu e os cardeais, novos e antigos, sentaram-se afastados uns dos outros, devido à obrigação de distância social.

Os cardeais de países longínquos que não puderam estar presentes no consistório, assistiram às cerimónias por vídeo-conferência. Também o convívio entre os prelados foi evitado e as visitas "de cortesia" de cidadãos romanos aos novos cardeais foram anuladas.

Francisco pediu-lhes para se manterem "próximos do povo", sem se deixar influenciar pelo novo título. "Pensemos em todas as formas de corrupção na vida sacerdotal", alertou o Papa. "O vermelho púrpura das vestes cardinalícias, que é a cor do sangue, pode tornar-se, graças ao espírito mundano, a de uma distinção", acrescentou.

Consciente do verdadeiro significado do púrpura cardinalício é Antoine Kambanda, de 62 anos, arcebispo de Kigali, no Ruanda e o primeiro cardeal do seu país. É ele mesmo um sobrevivente dos massacres que banharam o Ruanda há 26 anos num verdadeiro mar de sangue.
Brunei, Filipinas e Itália
Francisco, fiel à sua sensibilidade pelas "periferias" distantes e pelas comunidades cristãs "ultra-minoritárias", criou dois novos cardeais na Ásia, incluindo o vicário apostólico na ilha de Bornéu do sultanato do Brunei, país de 400 mil habitantes maioritariamente muçulmanos e onde apenas 16 mil professam a religião católica.

"É uma igreja de periferia escondida, pequena como um Fiat 500", sublinhou espantado o novo cardeal, Cornelius Sim, de 69 anos, igualmente o primeiro padre e o primeiro bispo do seu país, à Asia News.

Uma nomeação que contrasta com a do segundo asiático, José Fuerte Advincula, de 68 anos, novo cardeal das Filipinas, o terceiro pais católico do mundo.

A Igreja da América Latina festeja igualmente dois novos cardeais, o mexicano Felipe Arizmendi Esquivel, de 80 anos, considerado próximo dos povos indígenas, e monsenhor Celestino Aos Braco, de 75 anos, frade capuchinho espanhol nomeado arcebispo de Santiago do Chile em 2019, após a demissão de um cardeal implicado num escândalo de pedofilia.

Três dos novos cardeais são italianos e todos com reputação de próximos dos mais desfavorecidos. São eles o frade franciscano de 55 anos, Mauro Gambetti, Guardião do Sagrado Convento de Assis onde se encontra o túmulo de São Francisco de Assis, fundador da ordem da pobreza e da fraternidade, Enrico Feroci, de 80 anos, um simples padre de paróquia que dirige uma obra caritativa, e o arcebispo de Siena, Augusto Paolo Lojudice, de 56 anos, conhecido como o "padre dos ciganos".

Um dos novos cardeais recusou tornar-se bispo, conforme requer habitualmente a cerimónia. "Desejo manter-me um frade capuchinho até à morte", pediu Raniero Cantalamessa, de 86 anos, pregador da Casa Pontifícia. Este sábado ajoelhou-se diante de Francisco envergando o seu simples hábito.

Quatro dos cardeais, acima dos 80 anos, receberam a distinção do cardinalato após uma vida ao serviço da Igreja. Um deles é o arcebispo Silvano Tomasi, italo-americano que tem trabalhado em todo o mundo e é um dos especialistas eclesiásticos em migrações.

Os novos cardeais realizaram ainda uma visita de cortesia ao papa-emérito, Benedito XVI, de 93 anos, que vive retirado no Vaticano.
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