Coreia do Norte lança mais dois mísseis balísticos de curto alcance

por Cristina Sambado - RTP
A Coreia do Norte lançou mais dois mísseis balísticos de curto alcance EPA

A Coreia do Norte lançou esta quinta-feira mais dois mísseis balísticos de curto alcance, em direção às suas águas, depois de os Estados Unidos terem destacado um porta-aviões para perto da Península Coreana. Foi o sexto lançamento nos últimos 12 dias.

A Coreia do Sul e o Japão revelaram que o primeiro dos mísseis desta quinta-feira foi lançado cerca das 6h00 locais (21h00 em Lisboa) e voou cerca de 350 quilómetros (217 milhas) a uma altitude máxima de cerca de 100 quilómetros. O segundo projétil, com um alcance de voo de cerca de 800 quilómetros, a uma altitude de cerca de 50 quilómetros, foi lançado 22 minutos depois. Muitos dos mais recentes mísseis balísticos de curto alcance da Coreia do Norte foram concebidos para voar numa trajetória mais baixa e potencialmente manobrável, complicando os esforços para os detetar e intercetar.

“Esta é a sexta vez num curto período de tempo. Isto não pode ser tolerado”, afirmou o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida.

O ministro japonês da Defesa, Yasukazu Hamada, confirmou, por sua vez, que os mísseis não atingiram a zona económica exclusiva do Japão.

Para o ministro nipónico, “Pyongyang escalou incessante e unilateralmente a sua provocação especialmente desde o início deste ano”.
Reunião do Conselho de Segurança da ONU
Na terça-feira, Pyongyang disparou um míssil sobre o Japão, o que levou os EUA a convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.

Na reunião, os Estados Unidos acusaram a Rússia e a China de protegerem a Coreia do Norte de sanções mais severas.

O lançamento desta quinta-feira ocorreu cerca de uma hora depois de Pyongyang ter condenado os Estados Unidos por declarações no Conselho de Segurança da ONU.

Numa declaração divulgada pelo Ministério norte-coreano dos Negócios Estrangeiros, o país condenou Washington por reposicionar o porta-aviões USS Ronald Reagan em águas ao largo da Península Coreana, frisando que representava uma série ameaça à estabilidade na região.

A Coreia do Norte acusou ainda os EUA de contrubuírem para o  “escalar das tensões militares na península”.

Os últimos lançamentos de mísseis sugerem que o líder norte-coreano, Kim Jong-un está determinado a continuar com os testes de armas destinados a impulsionar o seu arsenal nuclear, desafiando as sanções internacionais.Na quarta-feira, os EUA, o Japão e a Coreia do Sul levaram a cabo exercícios, que disseram ser uma resposta ao lançamento na terça-feira. Com Washington a afirmar que “não havia nenhuma equivalência" entre um ensaio de mísseis proibidos e exercícios de segurança.
A recente vaga de lançamentos faz lembrar fortemente o período que antecedeu o seu último teste de armas nucleares em 2017.

Nessa altura, como acontece agora, a Coreia do Norte testou mísseis, não houve diálogo com os EUA, e Pyongyang disparou dois mísseis sobre o Japão.
As capacidades nucleares de Pyongyang
Imagens de satélite revelam que a Coreia do Norte tem estado a restaurar os túneis no seu local de testes nucleares, que afirmara ter destruído em 2018 durante uma curta aproximação diplomática aos EUA, sob a Presidência de Donald Trump.

No mês passado, Pyongyang também reviu as leis nucleares, com o líder Kim Jong-un a declarar o seu país como potência nuclear "irreversível".

Jong-un parece estar à espera de um momento politicamente oportuno para realizar o sétimo teste nuclear.

Segundo o Guardian, os analistas acreditam é mais provável que o teste aconteça durante a janela de três semanas entre o Congresso do Partido Comunista na China, no final deste mês, e as eleições intercalares americanas, no início de novembro.

Em termos estratégicos, o comportamento mais assertivo de Pyongyang é uma consequência da instabilidade política global que lhe deu uma oportunidade de provocar os seus vizinhos sem receio de convidar outra ronda de sanções, considera o correspondente do Guardian em Tóquio.

A guerra na Ucrânia não só se tornou uma distração para Joe Biden, como abriu a porta a laços mais estreitos entre Pyongyang e Moscovo, enquanto a recente atividade militar chinesa no Estreito de Taiwan permitiu à Coreia do Norte explorar as crescentes tensões entre Washington e Pequim.

Os dias agitados de unidade em 2017, quando o Conselho de Segurança da ONU, incluindo a Rússia e a China, impôs pesadas sanções à Coreia do Norte, terminaram. Isso ficou claro em maio deste ano, quando a China e a Rússia vetaram uma resolução que impunha novas sanções ao regime.

O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais observou esta semana que as sequências anteriores de testes de mísseis balísticos norte-coreanos foram seguidas por um teste nuclear.

Há meses que funcionários norte-americanos e sul-coreanos têm vindo a alertar para a iminência de um sétimo teste nuclear, enquanto as imagens de satélite de um local de testes Punggye-ri totalmente preparado sugerem que a única questão que se coloca agora é uma questão de timing político.

"Neste momento, para Kim Jong-un voltar atrás e parar as provocações pareceria contraproducente para os seus interesses, para não mencionar a quantidade de recursos desperdiçados para conduzir estes testes de armas", disse Soo Kim, um analista da RAND Corporation.

"Encontramo-nos num ciclo de provocações de armas. O que resta, essencialmente, é um ensaio intercontinental de mísseis balísticos e potencialmente o tão aguardado sétimo ensaio nuclear".Recentes lançamentos da Coreia do Norte
Domingo, 25 de setembro: Um míssil de curto alcance é disparado no dia seguinte à chegada de um porta-aviões norte-americano para águas em redor da Península Coreana - 600 quilómetros de distância/60 quilómetros de altitude.

Quarta-feira, 28 de setembro
: Dois mísseis de curto alcance são disparados na véspera da visita da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, a Seul e à Zona Desmilitarizada (DMZ) - 360 quilómetros de distância/30 quilómetros de altitude.

Quinta-feira, 29 de setembro
: Dois mísseis de curto alcance são lançados após a partida de Harris da Coreia do Sul - 300 quilómetros de distância/50 quilómetros de altitude.

Sábado, 1 de outubro: Dois mísseis de curto alcance são disparados no meio de simulacros contínuos EUA-Coreia do Sul-Japão - 400 quilómetros de distância/50 quilómetros de altitude.

Terça-feira, 4 de outubro: Um míssil balístico de alcance intermédio sobrevoa o Japão - 4,500 quilómetros de distância/2,800 quilómetros de altitude.

Quinta-feira, 6 de outubro: são disparados mais dois mísseis de curto alcance disparados - 800 quilómetros de distância/50 quilómetros de altitude.

Há razões para que Pyongyang tenha escolhido este momento para lançar um míssil, que se acredita ser um Hwasong-12, teoricamente capaz de atingir o território americano de Guam no Pacífico.

Este foi um aviso de que a tecnologia de armamento da Coreia do Norte está a avançar - tendo voado mais longe do que qualquer outro míssil até à data - como parte de uma demonstração mais ampla das capacidades balísticas do regime.

Segundo a ONU, Pyongyang realizou oito lançamentos de mísseis em apenas dez dias e um número sem precedentes de 40, até agora, desde o início de 2022.
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