Coreia do Norte reclama teste de míssil balístico capaz de transportar ogiva nuclear

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
KCNA via Reuters

O regime de Pyongyang lançou na madrugada de sábado para domingo um míssil balístico de médio/longo alcance. A informação foi confirmada pela agência de notícias oficial do regime e lança novo alerta para a comunidade internacional.

O líder da Coreia do Norte supervisionou pessoalmente o teste do Hwasong-12. O míssil atingiu uma altitude de 2,111 quilómetros, voou 787 quilómetros durante meia hora, aterrando no mar perto da Rússia, de acordo com a agência KCNA, a “voz oficial” do regime de Pyongyang.

O teste destinou-se a “verificar as especificações táticas e tecnológicas de um recém-desenvolvido novo modelo de míssil balístico, capaz de carregar uma ogiva nuclear de grande porte”, garante a KCNA.

O teste, anunciado pelos norte-coreanos como “bem sucedido” foi acompanhado por Kim Jong Un. A agência de notícia diz citar o líder ao dizer que “a DPRK [CoKim Jong Un acusa os norte-americanos de intimidar países que não têm armas nucleares.reia do Norte] é uma potência nuclear digna desse nome, quer os outros o reconheçam ou não”, ao mesmo tempo que lançava o aviso aos Estados Unidos: se os EUA ousar optar por uma provocação militar contra o país, a Coreia do Norte “está pronta para contra-atacar”.

“Se os Estados Unidos estranhamente tentar provocar o DPRK, não escapará ao maior desastre da história”, continua a KCNA, citando o líder. O tom continua na toada agressiva, ao ser afirmado que a Coreia Norte tem a capacidade de atingir solo americano e a sua zona de operações no Pacífico, em caso de necessidade de retaliação.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse no mês passado que um grande conflito com a Coreia do Norte era possível , mas que preferia a via diplomática, disponibilizando-se mesmo para se encontrar com Kim Jong Un. Prometeu também evitar que a Coreia do Norte se tornasse capaz de atingir território norte-americano com um míssil nuclear.
Resoluções das Nações Unidas banem a Coreia do Norte de prosseguir o desenvolvimento nuclear e de mísseis, mas o país conta já o quinto teste desde o início do ano passado.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá reunir-se esta terça-feira para discutir o lançamento do míssil, refere a agência Reuters citando diplomatas. O encontro terá sido pedido pelos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.

O teste agora levado a cabo está a ser interpretado ainda como uma resposta à Coreia do Sul. O recém-eleito novo Presidente do país, Moon Jae-in, entrou em funções na passada semana e advogou uma via de diálogo com a Coreia do Norte para a desnuclearização. No entanto, para o país vizinho, isso teria de passar pela mudança de atitude Kim Jong-un. O que claramente, parece não estar a suceder.
Passo para um míssil intercontinental?
Os analistas convergem na análise de que este será o teste mais bem sucedido até agora por parte da Coreia do Norte, e um avanço na demanda para construir um míssil balístico intercontinental com capacidade nuclear.

O teste “representa um nível de performance nunca vista num míssil norte coreano”, afiança o engenheiro aeroespacial John Schilling no blog 38 North, um projeto de monitorização sedeado em Washington. David Wright, co-diretor da Union of Concerned Scientists, escreveu que se um míssil atingir uma altitude e voar tão longe, poderá atingir a base aérea americana de Guam no Pacífico. “Mais importante que isso”, alerta Wright, “é que representa um substancial avanço no desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental”.

Melissa Hanham, do Centro James Martin para os estudos de não-proliferação, advoga, citada pela CNN, que este é um trampolim para a construção do míssil intercontinental.
(imagem da KCNA de Kim Jong Un a inspecionar novo míssil)

Kim Dong-yub, professor do Instituto para os estudos do extremo oriente da Universidade de Kyungnam, considerou à Reuters que, a serem verdadeiras as informações avançadas pela KCNA sobre a tecnologia de reentrada, estamos perante um avanço no programa norte coreano mais rápido do que seria de esperar no sentido da construção do míssil intercontinental.

O comando militar dos norte-americanos no Pacífico veio entretanto dizer que o tipo de míssil disparado pela Coreia do Norte “não é consistente” com um míssil intercontinental e os militares da Coreia do Sul vieram minimizar a reivindicação feita pela Coreia do Norte de progresso técnico conseguido neste teste.
Comunidade internacional em alerta
O Conselho de Segurança da ONU vai reunir-se esta terça-feira para discutir o novo teste realizado pela Coreia do Norte.

O tema terá sido já alvo de uma conversa entre o presidente russo Vladimir Putin e o presidente chinês Xi Jinping, que estavam reunidos em Pequim. “Foi expressa preocupação sobre a escalada de tensão, incluindo em relação ao lançamento do míssil”, avançou o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov, numa citação feita pela imprensa estatal russa.

O teste é visto como um aviso, até mesmo para um dos poucos aliados da Coreia do Norte, a China, já que o teste foi realizado na mesma altura em que o presidente chinês recebia em cimeira múltiplos líderes mundiais.

O presidente russo veio já esta segunda-feira afirmar que o lançamento do míssil norte-coreano foi “contra produtivo e perigoso”, apelando ao mesmo tempo a que se deixa de “intimidar a Coreia do Norte”, em favor de solução pacífica.

Da Casa Branca surgiu um apelo: “ Que esta última provocação sirva como um chamamento a todas as nações para a implementação e sanções mais duras contra a Coreia do Norte”, disse o secretário para a imprensa Sean Spicer.

O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe condenou de imediato o teste balístico norte-coreano, feito apesar dos avisos da comunidade internacional. “É totalmente inaceitável e protestamos fortemente. O lançamento do míssil pela Coreia do Norte é uma ameaça séria ao Japão e viola claramente a resolução das Nações Unidas”, afirmou.

A China apelou à contenção. “A atual situação na península coreana é complexa e sensível. Todas as partes devem conter-se e evitar ações que façam escalar as tensões na região”, afirmou o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros.
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