Coronavírus. Especialistas advertem contra ocultação de casos

Os especialistas em saúde global alertam que ocultar casos de infeções tornam “improvável a contenção” do coronavírus. Os peritos afirmam que podem existir muitos mais casos do que os anunciados.

RTP /
O ex-diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, Tom Frieden, afirma ser “cada vez mais claro que a contenção é muito improvável” Carlos Garcia Rawlins - Reuters

Os casos ocultos – onde as pessoas com sintomas leves não procuram ajuda médica – combinados com a natureza de elevado contágio, podem significar que existem mais casos do que aqueles que estão registados.

O ex-diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, Tom Frieden, afirma ser “cada vez mais claro que a contenção é muito improvável”.

“Vale a pena tentar, mas é muito improvável que se consiga combater o coronavírus da mesma forma que o SARS ou o MERS, devido à facilidade com que ele se propaga”, acrescentou Frieden, citado por The Guardian.

Os especialistas identificaram um intervalo de tempo, de entre uma a duas semanas, em que o número de infeções duplicou, a cada seis dias, fazendo um número real que pode chegar aos 75 mil casos, pelo menos.
“Se existirem 400 mortes em 20 mil casos, a taxa de mortalidade é de dois por cento. Contudo se a divisão for feita por 75 mil, a taxa é apenas de 0,5 por cento” disse MacDermott, acrescentando que os casos leves têm potencial para dificultar a contenção.


A professora clínica do King’s College London, Nathalie MacDermott, afirmou que “a taxa de mortalidade é literalmente o número de pessoas que morrem, como proporção dos casos existentes. Atualmente é possível que exista um valor superestimado, com base nos casos mais leves da doença que não estão a ser identificados”, cita The Guardian.

A investigadora diz que é muito cedo para perceber se as medidas tomadas pela China para combater o vírus são suficientes e afirma que dificilmente irá existir uma disseminação do vírus fora da China.

“Podemos ver um aumento em outras cidades chinesas, principalmente porque há um período de incubação de 14 dias. Mas dificilmente acontecerá a situação de Wuhan noutros países”.

David Heymann, que liderou a unidade de doenças infeciosas da Organização Mundial de Saúde durante o SARS, considera que é muito cedo para prever com certeza a propagação do vírus.

Heymann afirma que “o importante são os casos fora da China. Dentro da China há muita desordem no sistema de saúde. Mas com uma vítima fora do país, podemos acompanhar esse caso e ver como as outras pessoas estão a ser infetadas, observando a taxa de reprodução e o espetro da doença”.
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