Coronavírus origina onda de xenofobia contra chineses

por RTP
O Governo italiano declarou o estado de emergência depois de terem sido confirmados dois casos de coronavírus Foto: Remo Casilli - Reuters

Os chineses que se encontram em países ocidentais onde já foram confirmados casos de infeção por coronavírus têm estado a denunciar situações de xenofobia. Os relatos mencionam insultos em público, recomendações para que sejam evitadas lojas e restaurantes chineses e até a proibição, em alguns casos, da entrada de chineses em estabelecimentos.

Em Itália, o país europeu com maior número de turistas chineses por ano, a confirmação dos dois primeiros casos de coronavírus - um casal que viajou de Wuhan até Milão - coincidiu com o início de vários incidentes de xenofobia.

O diretor de um conservatório em Roma originou um dos casos mais criticados, depois de ter dito aos estudantes vindos da China, Japão e Coreia do Sul para não irem às aulas até que fossem vistos por um médico que confirmasse a ausência de infeção por coronavírus.

Ainda em Roma, um café junto à Fontana di Trevi, um dos pontos mais turísticos da cidade, colocou um aviso à porta a proibir a entrada de pessoas vindas da China no estabelecimento.

O Governo italiano decidiu declarar esta sexta-feira o estado de emergência, que permanecerá ativo durante seis meses, e anunciou que irá gastar pelo menos cinco milhões de euros para tentar prevenir a propagação do vírus. Em Itália vivem mais de 300 mil chineses e, em 2018, foram cerca de cinco milhões os que visitaram o país.

Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga Norte, declarou entretanto que o coronavírus é motivo para exercer um controlo ainda maior sobre as entradas de estrangeiros em Itália. “Todos os dias entram em Itália dezenas de aviões vindos da China. Precisamos de controlo, controlo e mais controlo”, declarou.

“Infelizmente, um dos impactos inevitáveis desta doença é a xenofobia”, explicou Marco Wong, vereador na cidade italiana de Prato, onde reside uma grande comunidade de chineses. “Os pais não estão a deixar os filhos ir à escola se estes tiverem colegas chineses e as pessoas estão a lançar apelos na Internet para que sejam evitados restaurantes e lojas chinesas”, contou ao The Guardian.
"Nem todos os asiáticos são chineses"
O receio provocado pelo coronavírus também se tem feito sentir em França, onde existem cinco casos confirmados até ao momento. Os habitantes chineses nesse país têm estado a partilhar as experiências nas redes sociais com o hashtag #JeNeSuisPasUnVirus (“Eu não sou um vírus”).

“Nem todos os asiáticos são chineses. Nem todos os chineses nasceram na China e alguns nunca lá estiveram. Um asiático que tussa não tem o coronavírus. Insultar um asiático por causa do vírus é como insultar um muçulmano por causa do terrorismo”, escreveu uma mulher no Twitter.

O jornal francês Courrier Picard tem sido alvo de críticas depois de ter publicado em manchete o título “Alerta Amarelo” para fazer referência ao coronavírus e à população chinesa.


Fora da Europa, o presidente da Câmara de Toronto, a maior cidade do Canadá, já condenou o racismo contra os chineses no país depois de serem denunciados casos de crianças chinesas alvo de bullying nas escolas.

No Japão, os ataques têm-se feito sentir em especial nas redes sociais, onde tem circulado a hashtag #ChinesesNãoVenhamAoJapão.

O rápido avanço do vírus já levou várias companhias aéreas a suspender ou diminuir os voos para a China, algo a que a Organização Mundial de Saúde já se opôs.

No total, o número de infetados pelo coronavírus está perto dos dez mil e mais de duas centenas de pessoas já morreram na sequência do contágio.
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