Cortes orçamentais forçam ONU a dispensar milhares de funcionários em Genebra

As organizações internacionais estão a reduzir consideravelmente a atividade em Genebra, sede europeia das Nações Unidas, forçadas pelos cortes orçamentais da Administração Trump à cooperação, numa altura em que aumenta a necessidade devido aos conflitos em curso e ao aquecimento global. Os funcionários internacionais também estão a pagar - caro - o preço.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Elodie Le Maou - AFP

A cidade de Genebra, na Suíça, que abrange não só a ONU, mas também muitas das suas organizações internacionais, agências especializadas, ONG e missões diplomáticas, está a ser fortemente afetada pela contração do sistema de cooperação internacional. 

"Na ONU, o contador de cortes de postos de trabalho está disparado: 20, 25, talvez 30 000 empregos afetados. E a "Genebra Internacional" é a principal vítima desta contração do sistema da ONU", escreve o Tribune de Genève esta segunda-feira.
 
Wayan Vota, fundador da empresa de recursos humanos Career Pivot, explica ao jornal suíço que na fatura pesam não só "os pagamentos em atraso e as contribuições de 2025 dos EUA no valor de 1,5 mil milhões de dólares", mas também o "não pagamento das contribuições de 41 dos 193 Estados-Membros da ONU e o cansaço dos doadores voluntários, cujas contribuições estão a diminuir".  
Quantos postos de trabalho ameaçados na ONU?

ONU SIDA 

A ONU Sida é uma das organizações mais afetadas, a sua sede em Genebra passará de 127 pessoas para 19 funcionários, de acordo com a Geneva Solutions, o meio de comunicação dedicado à Genebra internacional, que fez um balanço nos cortes. No total dos 280 postos, 153 vão desaparecer. 

A Aliança das Vacinas (GAVI) que luta pela imunização para salvar a vida de milhões de crianças anunciou mais de 200 demissões na sede de Genebra, após a retirada dos EUA da organização no final de junho, escreve o jornal Le Temps

OIM

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), anteriormente liderada por António Vitorino, despediu em Genebra 200 pessoas, cerca de 20 por cento da força de trabalho da sede em Genebra, de acordo com a Geneva Solutions. Segundo a Career Pivot, a OIM pretende despedir 3200 funcionários de um total de 22 mil.

OIT 

Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) enviou cartas de rescisão a 190 funcionários dos seus 3654 empregados, dos quais 1255 trabalham em Genebra. 92 foram reafetados para postos no terreno. 

ACNUR 

A Agência das Nações Unidos para os Refugiados (ACNUR) confirmou a supressão de 3500 postos de trabalho e centenas de contratos temporários até ao final de outubro, ou seja cerca de 30 por cento do seu pessoal efetivo em todo o mundo. 

OMS 

A Organização Mundial da Saúde (OMS), que será fortemente impactada pela saída dos EUA em 2026, o seu maior financiador, vai cortar entre um quinto e um quarto do seu quadro de funcionários, segundo o Tribune de Genève

Os cortes podem chegar a 40 por cento na sua sede em Genebra, que conta atualmente com 2600 funcionários. Segundo a Geneva Solutions, cerca de cem temporários não viramos seus contratos renovados e outra centena reformou-se antecipadamente. 

UNICEF

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também anunciou o corte de 20 por cento da sua força de trabalho, o que significa a supressão de 2600 dos seus 13 mil postos de trabalho em 2026. 

Além destas organizações e agências, também o Programa Alimentar (PAM), a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e a Agência para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) preparam despedimentos em massa, de acordo com as mesmas fontes.

O alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OCHA), Volker Turk, planeia transferir cerca de 120 dos 900 postos de trabalho localizados em Genebra para centros mais baratos, de acordo com o Le Temps

Seguindo a tendência das suas agências e organizações, também o secretariado da ONU prevê dispensar 20 por cento dos seus 35 mil funcionários, o que significa que poderão desaparecer 6900 postos de trabalho, de acordo com a Career Pivot e a Geneva Solutions. Segundo o Tribune de Genève está a ser elaborada uma lista de cerca de mil postos que poderão ser deslocalizados. 
Mais de 14 milhões de vidas em risco 

O Congresso norte-americano aprovou, a 15 de julho de 2025, cortes orçamentais de cerca de nove mil milhões de dólares (cerca de 7,7 mil milhões de euros) a pedido do presidente Donald Trump e sob impulso do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk. Dos quais cerca de oito mil milhões se destinam a ajuda humanitária internacional. 

Além dos postos de trabalho, a decisão de cortar a maior parte do financiamento dos EUA à ajuda humanitária internacional pode resultar em mais de 14 milhões de mortes adicionais até ao final da década, de acordo com um estudo da revista científica The Lancet. Um terço das quais crianças. 

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