Covid-19. Espanha prepara vacinação de dez milhões de pessoas

por RTP
Daniel Ricardez - EPA

O Governo espanhol anunciou esta semana que pretende comprar 20 milhões de doses da vacina Pfizer contra a Covid-19, permitindo imunizar gratuitamente dez milhões de pessoas a partir do fim do ano ou inícios de 2021. Mas havendo em Espanha mais de nove milhões de pessoas com mais de 65 anos e cerca de meio milhão de profissionais de saúde no país, o Ministério da Saúde tem agora a difícil tarefa de escolher quem será inoculado nesta primeira leva.

Quase um ano depois de a China ter identificado o Sars-CoV-2 pela primeira vez e depois de vários meses com o mundo a esperar boas notícias sobre uma potencial vacina, o anúncio da Pfizer esta semana trouxe mais esperança à corrida para controlar esta pandemia. Se a eficácia de cerca de 90 por cento anunciada pela farmacêutica norte-americana for comprovada, em muitos países vai começar a imunização em massa dentro de meses ou até semanas.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou na terça-feira que a União fechou um acordo para a compra de 300 milhões de doses desta vacina e destes, 20 milhões serão adquiridos por Espanha para vacinar dez milhões de pessoas(uma vez que a vacinação de uma pessoa contempla duas inoculações).

Em declarações feitas ao canal de televisão RTVE, o ministro espanhol da Saúde, Salvador Illa, afirmou estar confiante de que uma parte "relevante" da população espanhola estará vacinada em maio de 2021 e que ainda esta semana poderão ser assinados mais alguns contratos com a empresa farmacêutica Pfizer e outras empresas para que as primeiras doses cheguem no início de 2021.

Se "tudo correr bem", avançou o ministro, as primeiras poderiam mesmo chegar até ao final de 2020
.

"As vacinas serão gratuitas", disse ainda Salvador Illa, acrescentando que se trata de "um passo promissor e relevante", tendo avisado que ainda há "um longo caminho a percorrer".

O responsável pela saúde espanhola não excluiu a possibilidade de tornar a vacinação obrigatória, embora não acredite que seja necessária e que "as pessoas compreendam que é a melhor forma de pôr fim às doenças infecciosas".

"Depois de meses de dificuldades, estamos a começar a ver luz ao fundo do túnel", resumiu o ministro espanhol.

Contudo, ainda não está definido quem será vacinado com estas primeiras doses e como será organizada a vacinação em massa. Para começar, ainda é necessário conhecer os resultados oficiais dos exames da Pfizer e verificar se todas as faixas etárias e pessoas com outras patologias podem ser imunizadas, como explicou o Ministério da Saúde ao El País.

Nesse caso, o normal será os profissionais de saúde e os idosos, os mais vulneráveis ​​à Covid-19, sejam os primeiros a ser vacinados. Mas, estes dois grupos representam quase a totalidade do número de vacinas disponíveis nesta primeira parcela: em Espanha há mais de nove milhões de pessoas com mais de 65 anos e cerca de meio milhão de profissionais de saúde.
Que grupos terão prioridade?

Dada a impossibilidade de imunizar toda a população espanhola nesta primeira fase, será necessário recorrer à "priorização de grupos". Essa decisão é da responsabilidade de uma comissão de especialistas e responsáveis ​​pelas comunidades autónomas que estão a desenvolver a estratégia de vacinação no país, que será divulgada nos próximos dias e deve ser aprovada pelo Conselho Interterritorial de Saúde. Se os resultados da vacina forem comprovados, o mais provável é que se use uma estratégia muito semelhante à da vacinação contra a gripe, afirmou uma fonte de um serviço regional de saúde pública ao jornal espanhol.

Mas o desafio é grande: em primeiro lugar, porque a taxa de vacinação contra a gripe em Espanha entre os maiores de 65 anos é de 54 por cento e apenas um terço dos profissionais de saúde a recebe. Na vacina contra a Covid-19, o objetivo é imunizar uma percentagem maior da população de risco, embora seja voluntária.

Segundo, porque 28 dias após a primeira dose a segunda deve ser administrada, aumentando o trabalho. E em terceiro lugar, devido às características da vacina contra o novo coronavírus é necessário conseguir mantê-la e conservá-la em temperatuas extremamente frias.

A vacina da Pfizer, desenvolvida em colaboração com a empresa alemã de tecnologia BionTech, apresenta uma série de complexidades logísticas, uma vez que deve permanecer a uma temperatura entre 70 e 80 graus abaixo de zero. E estas condições dificultam o transporte e a distribuição a nível internacional.

O problema é que nem os hospitais espanhóis não têm infraestruturas para armazenar as vacinas nestas condições porque até agora não havia medicamentos que precisassem de uma temperatura tão baixa para preservá-los, segundo Olga Delgado, presidente da Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar.

"Desenvolvemos planos logísticos e ferramentas para garantir um transporte eficaz, armazenamento e controoe contínuo da temperatura das vacinas. A nossa distribuição é baseada num sistema flexível que enviará os frascos congelados ao posto de vacinação no momento necessário", afirmou a porta-voz da empresa farmacêutica, garantindo que, em princípio, não será necessário um depósito central para armazenar as vacinas.

Não está previsto que estas doses da vacina sejam produzidas em Espanha, mas César Hernández, chefe do departamento de medicamentos de uso humano da a Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos de Saúde (AEMPS)considera que "o lógico é que as vacinas cheguem gradualmente e vão sendo administradas na mesma proporção, de modo que não será necessário armazená-las".

Hernández explicou à publicação espanhola que é preciso traçar os detalhes do acordo, como será distribuído e a quantos quantos pontos de distrubuição chegará, mas considera que é possível que os próprios centros de saúde administrem a vacina. Além disso, a AEMPS acredita que dentro de semanas, não só esta, mas outras vacinas darão resultados e serão aprovadas pelas autoridades para iniciar a sua administração. Nesse caso, podia ser possível tentar imunizar a maior parte da população em cerca de um ano.
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