Covid-19. Espanha receia segunda vaga e volta a "confinar-se" aos poucos

por RTP
Nacho Doce/Reuters

Espanha foi dos países mais afetados pela pandemia da Covid-19. Com o aparecimento de novos surtos e cadeias de transmissão, começa a recear-se uma segunda vaga da epidemia e as autoridades voltam a confinar, aos poucos e localmente, as populações.

Desde o início do mês a Catalunha e a Galiza começaram a endurecer as medidas e as restrições em algumas cidades. Primeiro a região de Lérida, na Catalunha, depois A Marina, na Galiza. Na sexta-feira, o Governo regional da Catalunha espandiu as restrições e voltou a recomendar aos habitantes da área metropolitana de Barcelona para "ficarem em casa" e só saírem em caso de necessidade, com o objetivo de travar o aumento de casos de Covid-19.

Espanha começa, assim, a voltar a fechar-se. Perante o aparecimento de novos casos, embora localizados, as autoridades começam a recear que o país seja atingido por uma segunda onda, ainda a enfrentar os rescaldos da primeira.

O país registou 628 casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus em apenas 24 horas, segundo os dados oficiais de sexta-feira - o número mais elevado desde 8 de maio, segundo dados do Ministério da Saúde espanhol.

Neste momento, a comunidade autónoma de Aragão é a região que regista mais novos casos - tendo registado 252 entre quinta e sexta-feira - , seguida da Catalunha, de Madrid, da Andaluzia e do País Basco.

Se até há umas semanas a propagação do novo coronavírus parecia começar a estar sob controlo, com apenas alguns surtos localizados, agora começou a atingir grandes cidades, como Zaragoza e Barcelona.
Catalunha estende confinamento a Barcelona
Face ao aparecimento de surtos em Barcelona, a porta-voz do executivo regional, Meritxell Budó, apelou aos cidadãos para não irem passar o fim de semana a segundas residências e anunciou o encerramento de cinemas, teatros e discotecas, e a proibição de reuniões com mais de dez pessoas assim como as visitas a lares.

Os habitantes dessas regiões "devem ficar em casa no caso de não ser necessário sair", disse Meritxell Budo em conferência de imprensa.

Em termos práticos, trata-se de estender as restrições que já estão em vigor na freguesia de Barcelona de L'Hospitalet de Llobregat a toda a área metropolitana da capital catalã, assim como a duas zonas da província de Lérida: La Noguera e Segrià.

Embora o desconfinamento e o alívio de restrições em todo o território espanhol tenha sido lento e faseado, a retoma de uma certa normalidade, a abertura de atividades e a circulação de pessoas pode ameaçar a, novamente, a saúde pública. É este o receio das autoridades de saúde espanholas.

Segundo o El País, alguns dos surtos em regiões mais pequenas têm surgido devido a algumas atividades sazonais. Por exemplo, produtores e distribuidores agricolas, que vivem em regiões mais pequenas mas vão às capitais, como Barcelona ou Zaragoza, vender a mercadoria e ficam expostos aos riscos - naturalmente a riscos maiores em grandes cidades e com maior densidade populacional - e podem levar para casa o vírus, sem saber, dando início a uma nova cadeia de transmissão.

Mas o que preocupa mais as autoridades são as festas noturnas, os convívios com grandes grupos e a transmissão "difusa" potenciada pelos ajuntamentos e encontros sociais. Por isso, em algumas comunidades as autoridades começam a endurecer as medidas de segurança e tentam prevenir, atempadamente, novos surtos e uma potencial segunda vaga.
Máscaras obrigatórias e mais restrições
As comunidades autónomas da Galiza e de Castela-Leão decidiram, na sexta-feira, tornar obrigatório o uso de máscara no interior e no exterior, mesmo no caso em que haja distanciamento social.

A Galiza alargou o uso obrigatório das máscaras "tanto em espaços abertos como fechados, desde que possam estar outras pessoas e mesmo que haja uma distância de 1,5 metros".

O anúncio, feito pelo presidente da Junta (Governo regional) em exercício, Alberto Núñez Feijóo, surge pela necessidade de "dar um passo em frente", uma vez que se está a verificar em toda a Espanha que a situação é "de risco máximo".

Haverá exceções à regra, para que não tenham de usar máscara as pessoas com riscos respiratórios, as que vivem juntas, tanto em espaços abertos como fechados.

Por seu lado, o presidente do Governo regional de Castela-Mancha também anunciou que o executivo regional vai aprovar na próxima terça-feira a utilização obrigatória da máscara em toda a comunidade de forma permanente.

No mesmo dia, o ministro da Saúde espanhol, Salvador Illa, disse numa entrevista a uma rádio que na totalidade do país existem 158 surtos da pandemia de covid-19 ativos, estando a maioria deles numa situação controlada.

O responsável governamental admitiu a sua preocupação com os surtos nas comunidades autónomas de Aragão e Catalunha.


Recorde-se que a política sanitária está descentralizada e as medidas de luta contra a pandemia são da responsabilidade de cada uma das 17 comunidades autónomas. Mas os especialistas consideram que as regiões da Catalunha, Galiza e, agora, Aragão, devem ter medidas mais apertadas e, se necessário for, voltar atrás nas restrições.

Se forem impostas restrições, aumenta a probabilidade de o vírus morrer numa pessoa sem passar para outra, disse ao jornal espanhol Joan Ramón Villalbí, porta-voz da Sociedade Espanhola de Saúde Preventiva (Sespas).

"Trata-se de intervir em aspetos que facilitam a transmissão. Todas as medidas que limitam espaços fechados ou mal ventilados, onde existem muitas pessoas, são as mais úteis. Cada governo precisa de avaliar o que pode fazer sem suspender demasiado a economia. É um equilíbrio complexo", explicou.

O problema é se não são apenas pequenos surtos, mas o início de uma nova onda da Covid-19. Para outra especialista, é necessário agir antecipadamente para que Espanha não seja apanhada numa segunda onda a meio.

"Nós chamamos de surtos, mas talvez estejamos a entrar numa segunda onda, embora não o vejamos até estarmos já lá estarmos dentro. Felizmente, com as medidas, o crescimento será mais lento do que o primeiro", disse a virologista Margarita del Val.

No entanto, isto "também deve ser visto de um lado positivo: o que aprendemos agora, sejam os surtos ou uma segunda onda, servirá para controlar o outono, que é quase garantido" que contará com novas vagas de covid-19.
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