Covid-19. França ignora apelo da OMS e prepara terceira dose da vacina

por Andreia Martins - RTP
Guglielmo Mangiapane - Reuters

O Presidente francês Emmanuel Macron anunciou esta quinta-feira que o Governo se prepara para iniciar a distribuição da terceira dose contra a Covid-19 a partir de setembro. O objetivo é proteger a população "mais idosa e mais frágil" com a inoculação de reforço, à semelhança do que também já foi anunciado pela Alemanha e Israel. A confirmação surge horas depois da Organização Mundial de Saúde ter pedido uma moratória às terceiras doses da vacina até que pelo menos 10 por cento da população de todos os países do mundo seja imunizada.

Através das redes sociais, o chefe de Estado francês anunciou na quinta-feira que o Governo está a preparar a campanha de reforço da vacinação contra a Covid-19 já no “início do ano letivo”, ou seja, a partir de setembro.

Emmanuel Macron refere que a terceira dose “não será para todos de imediato”, mas irá abranger “os mais velhos e mais frágeis” nesta fase.

De camisa, sem gravata e num tom informal, este vídeo em modo ‘selfie’ com cerca de um minuto foi gravado a partir da residência de verão dos chefes de Estado de França, em Fort Brégançon.

Nos últimos dias, Macron tem usado as redes sociais – sobretudo o Instagram ou TikTok, mais populares entre os jovens – para esclarecer questões sobre a vacinação.

Em França, o número exato das pessoas que poderá receber um reforço vacinal no início do ano letivo deve ser objeto de decisão "na próxima semana", anunciou o Ministério da Saúde na terça-feira.

Atualmente, a terceira dose só é recomendada para pessoas imunossuprimidas, como por exemplo um doente que tenha recebido um transplante.
OMS pede moratória ao reforço das vacinas

A decisão de avançar com as doses de reforço em França surge poucas horas depois do mais forte apelo da Organização Mundial de Saúde no sentido de adiar as terceiras doses, pelo menos até que os países mais pobres consigam alargar a vacinação à sua população.

“Entendemos a preocupação dos Governos em proteger as suas populações da variante delta, mas não podemos aceitar que os países que já utilizaram a maioria dos fornecimentos das vacinas usem ainda mais vacinas, enquanto as populações mais vulneráveis do mundo continuam desprotegidas”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Das cerca de quatro mil milhões de doses de vacinas administradas no mundo, mais de 80 por cento foram dadas em países mais desenvolvidos, que representam menos de metade da população mundial.

A moratória proposta pelo responsável da OMS duraria até final de setembro, até que pelo menos 10 por cento dos habitantes de todos os países do mundo tenham o esquema vacinal completo.

Enquanto grande parte dos países da Europa já conseguiu vacinar mais de metade da população, a maioria dos países do continente africano só conseguiu vacinar cerca de 2 por cento da população.

“Precisamos da cooperação de todos, especialmente de um grupo de países e empresas que controlam a produção global de vacinas", frisou Tedros Adhanom Ghebreyesus, que apelou aos grupos farmacêuticos para que privilegiem o Covax, o mecanismo de distribuição universal e equitativa de vacinas.
EUA rejeitam moratória, outros países avançam com terceiras doses

Esta semana, ainda antes do apelo da OMS, a Alemanha anunciou que irá dar uma terceira dose de reforço da vacina a idosos e outros grupos mais vulneráveis a partir de 1 de setembro. Também Espanha tenciona avançar com a administração de uma terceira dose.

Na semana passada, Israel tornou-se no primeiro país a generalizar o acesso à terceira dose da vacina, ao reforçar a vacinação da população com mais de 60 anos.

Também o Reino Unido está a planear a campanha de reforço de vacinação para os idosos e os mais vulneráveis a partir de 6 de setembro, tendo já adquirido 60 milhões de doses extra da Pfizer. De acordo com o britânico Telegraph, pelo menos 32 milhões de britânicos deverão receber a terceira dose.

Em Portugal, o Infarmed descarta para já a distribuição de terceiras doses, enquanto o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, considerou que essa situação será "inevitável".

Já depois das declarações de Tedros Adhanom Ghebreyesus, os Estados Unidos rejeitaram a ideia de uma moratória, considerando que não será necessário optar por administrar vacinas aos cidadãos norte-americanos ou doá-las a países mais pobres.

“É uma falsa alternativa. Achamos que conseguimos fazer as duas coisas”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. A responsável sublinhou que os Estados Unidos já doaram mais de 100 milhões de doses, o que segundo Washington supera as doações de todos os outros países juntos.

De notar que os Estados Unidos ainda não tomaram uma decisão sobre a administração de doses de reforço, ainda que a Pfizer/BioNTech tenham solicitado aos reguladores norte-americano e europeu que aprovem um reforço da vacinação, argumentando que há um maior risco de infeção seis meses depois da vacinação.

A 8 de julho, a Food and Drug Administration (FDA) considerou que os norte-americanos totalmente vacinados não necessitam, para já, de uma dose de reforço. No entanto, Anthony Fauci admitiu recentemente que os norte-americanos com imunidade comprometida poderão precisar de uma nova inoculação, perante a ameaça da variante delta.

Já o regulador europeu, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) absteve-se em julho de fazer qualquer recomendação sobre doses de reforço, sendo que os contratos de Bruxelas com a Pfizer/BioNTech e a Moderna já contavam com a possibilidade de ser necessário adquirir doses de reforço.

Entretanto, a Pfizer e a Moderna anunciaram no início de agosto o aumento dos preços das respetivas inoculações nos últimos contratos celebrados com a União Europeia, avança o Financial Times.  
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