O presidente da Itália, Sergio Mattarella, rejeitou a renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi na quinta-feira. O chefe de Governo tem mais cinco dias para tentar salvar o país da crise política desencadeada por um dos partidos que compõem o executivo, que não apoiou o pacote de 23 mil milhões proposto por Draghi para combater a inflação.
"A coligação de unidade nacional que apoiou este Governo não existe mais", disse Draghi, que é primeiro-ministro de um um Governo de unidade nacional que está no cargo há menos de 18 meses.
Sublinhou que fez "todos os esforços" para "atender às exigências que me foram colocadas", mas a falta de apoio do Movimento 5 Estrelas durante a votação no Senado mostrou que "esse esforço não foi suficiente".
Mario Draghi foi ao Palácio do Quirinale, em Roma, para se encontrar com o presidente Sergio Mattarella e entregar a carta de demissão do cargo de líder do executivo italiano, como anunciou mais tarde perante o Conselho de Ministros.
O presidente da República, Sergio Mattarella, o árbitro supremo da política italiana, incitou-o a ”avaliar” a decisão e não aceitou a demissão.
Em comunicado, o chefe de Estado defendeu que Draghi deveria inteirar-se do apoio que tem no Parlamento para eventualmente continuar a governar.
Divergência
O Movimento 5 Estrelas (M5S), um dos partidos que compõe o Executivo de Mario Draghi, não apoiou o pacote de 23 mil milhões para combater a inflação proposto pelo primeiro-ministro, que já tinha ameaçado renunciar se a proposta fosse rejeitada. Durante a votação no Senado, o M5S não apoiou Draghi, desencadeando uma crise do governo.
O ponto da divergência foi a inclusão de uma cláusula para permitir que um incinerador de lixo seja construído em Roma – algo que o 5 Estrelas há muito se opõe.
O M5S afirmou que não podia votar no incinerador, mas continuaria a apoiar Draghi.
A moção de confiança acabou por ser aprovada ainda na quinta-feira mesmo sem os votos do partido de Giuseppe Conte, o que terá levado Sérgio Matarella a acreditar que Mário Draghi ainda terá condições para se manter no cargo.
"Agora temos cinco dias para garantir que o parlamento vote sua confiança no governo Draghi", disse Enrico Letta, chefe do Partido Democrata (PD), de centro-esquerda, no Twitter.
Ora ci sono #cinquegiorni per lavorare affinché il Parlamento confermi la #fiducia al Governo #Draghi e l’Italia esca il più rapidamente possibile dal drammatico #avvitamento nel quale sta entrando in queste ore.
— Enrico Letta (@EnricoLetta) July 14, 2022
Mas Draghi também pode voltar à liderança com a mesma configuração política, porque o 5 Estrelas não estará interessado em eleições antecipadas.
A Itália deve realizar eleições no primeiro semestre de 2023, caso a instabilidade política seja ultrapassada.
Político influente
A situação de extrema instabilidade complica os esforços do Banco Central Europeu (BCE) de apoio ao mercado de obrigações soberanas.
A Itália é a terceira maior economia da zona do euro, onde os custos dos empréstimos aumentaram acentuadamente à medida que o BCE começou a apertar sua política monetária.
Para contrariar esta tendência, a instituição bancária europeia está a trabalhar numa nova ferramenta para conter a divergência entre os custos de empréstimos alemães e os de Estados membros altamente endividados, como a Itália.
Mario Draghi, primeiro ministro italiano | Lukas Barth - Reuters
Draghi, o sexto primeiro-ministro da Itália na última década, foi aplaudido por ajudar a conduzir a Itália durante a crise pandémica da covid-19 e posicionou o Estado na linha da frente dos países mais influentes no cenário internacional.