Defesa da democracia europeia passa por entender e debater com quem a ameaça diz MNE

por Lusa

Lisboa, 05 mar (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) considerou hoje que a defesa da democracia europeia passa pelo debate com os populistas e nacionalistas que a ameaçam, para melhor os entender e "disputar" a sua popularidade junto dos eleitores.

"Para fortalecer a democracia na Europa, devemos combater as ameaças à própria democracia na Europa", disse hoje Augusto Santos Silva no decorrer do encerramento de uma conferência sobre este tema na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O chefe da diplomacia portuguesa enumerou as três principais ameaças à democracia europeia: "a desvirtuação autoritária do conceito e da prática da democracia", "o crescimento do nacionalismo anti-europeu" e "o afastamento - recíproco - entre as instituições europeias e os cidadãos".

"A primeira coisa que devemos fazer é situar o lugar em que combatemos. Devemos combater as ameaças à democracia europeia a partir do lugar da democracia europeia, com plena consciência de que os Estados europeus e a União como tal são os espaços mais democráticos que o Mundo hoje conhece", disse Santos Silva na conferência "Fortalecer a Democracia na Europa".

"Em segundo lugar, devemos combater. E combater significa falar com os adversários da democracia. Não falar como eles, mas falar com eles, debater com eles, discutir com eles. Significa tentar perceber porque é que hoje têm tanta força e significa tentar disputar a sua influência junto das pessoas", apontou.

Santos Silva recordou ainda uma expressão da candidata Democrata às últimas eleições presidenciais nos EUA, Hillary Clinton, derrotada em novembro de 2016 pelo Republicano Donald Trump.

"Isso não se consegue considerando as pessoas que seguem os adversários da democracia como sujeitos menores. Como `deploráveis`, para citar uma deplorável expressão usada há ano e meio nos Estados Unidos", disse o MNE português.

Pelo contrário, disse o ministro, "significa respeitar as pessoas".

"Perceber os problemas que sentem e oferecer-lhes uma alternativa às respostas básicas, demagógicas, manipuladoras dos populistas, dos nacionalistas e dos xenófobos", concluiu.

Na abertura da mesma conferência, o vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans defendeu que a democracia é uma cultura e que o civismo tem de ser estimulado, ensinado e defendido pelos Estados e pelos próprios cidadãos.

Falando na abertura da conferência "Fortalecer a Democracia na Europa", Timmermans considerou que o crescimento do nacionalismo e do extremismo contraria e ameaça a sobrevivência da União Europeia (UE), criada depois de duas "guerras suicidas" e com o objetivo de encontrar um equilíbrio que beneficiasse todos.

O nacionalismo que atualmente "ganha terreno", na Rússia e no leste europeu, nos Estados Unidos e em vários países ocidentais, "põe em causa o primado da lei" - quem vence dita a lei --, e "aposta na confrontação com os adversários políticos, vistos como inimigos", numa lógica de soma zero, ou seja, "ou venço ou sou vencido".

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