Defesa de João Rendeiro denuncia condições "desumanas" da prisão em carta enviada à ONU

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Luís Miguel Fonseca - Lusa

Numa carta enviada à Organização das Nações Unidas (ONU), a defesa de João Rendeiro denuncia as condições "desumanas" da prisão de Westville, na África do Sul, onde se encontra detido o ex-presidente do BPP. A advogada do ex-banqueiro afirma que a situação em que se encontra Rendeiro é "de vida ou de morte".

Na carta, à qual a RTP teve acesso, a advogada de João Rendeiro na África do Sul, June Stacey Marks, denuncia as condições “desumanas” da prisão onde João Rendeiro se encontra detido desde dezembro.

“As condições na prisão são desumanas. Há mais de 50 pessoas na cela do nosso cliente”, lê-se na carta enviada a António Guterres, secretário-geral da ONU. “A cela tem cerca de 180 metros quadrados, isso é cerca de 1,4 metros quadrados por pessoas”, acrescenta.

“A cela é a mais insalubre”, afirma a defesa de Rendeiro. “A descarga das casas de banho não funciona e não há água quente”, lê-se na carta, acrescentando-se que durante os 40 dias em que Rendeiro esteve detido, a água foi cortada duas vezes durante mais de 24 horas. “A eletricidade frequentemente deixa de funcionar devido a interruptores defeituosos”, acrescenta a advogada.

A defesa do ex-banqueiro afirma que a situação na prisão de Westville é “exasperada por criminosos violentos”. “O nosso cliente sente-se seguro onde está, mas quando forçado a conviver com outros prisioneiros a situação torna-se incontrolável”, afirma a defesa de Rendeiro, acrescentando que o ex-presidente do extinto Banco Privado Português (BPP) “foi alvo de tentativas de extorsão e tem pouco para se proteger”.
“O meu cliente informou-se que é do conhecimento geral que os detidos podem espancados brutalmente por funcionários da prisão por várias alegadas infrações”, acrescenta a advogada.

Na carta, a defesa de Rendeiro sublinha que o ex-banqueiro tem 70 anos e sofre de um problema cardíaco causado por febre reumática. “Tal condição requer acompanhamento constante e isso é ainda mais essencial na idade do meu cliente. Tal foi confirmado pelo médico de Westville”, sublinha a defesa de Rendeiro.
Situação “de vida ou de morte”
A advogada do ex-banqueiro denuncia a inexistência de instalações médicas “reais” na prisão, assim como equipamentos para monitorizar adequadamente a saúde de Rendeiro. “Solicitei que o cliente fosse visto por um cardiologista e não obtive resposta”, afirma a advogada.

A defesa de Rendeiro sublinha ainda que a “tuberculose e infeções são prevalentes na prisão”, reiterando que isso seria “particularmente prejudicial” a João Rendeiro, dada a sua “condição suscetível a infeções”.

“O centro médico da prisão é, na verdade, uma pequena enfermaria e o nosso cliente só pode comparecer lá uma vez por semana, às quartas-feiras”, escreve June Marks na carta. A advogada afirma que João Rendeiro ficou doente na semana passada e não foi realizado nenhum teste. “O nosso cliente teve febre alta e tosse e teve que esperar até quarta-feira para receber tratamento”, denuncia a defesa de Rendeiro.

A defesa de Rendeiro afirma que a situação em que se encontra o ex-banqueiro é “de vida ou de morte”. “A idade e a saúde do nosso cliente, juntamente com as condições atrozes, são uma bomba-relógio”, lê-se na carta.

June Marks conclui que as condições da prisão da África do Sul são “claramente uma violação dos direitos humanos”, solicitando, por isso, que a Comissão de Direitos Humanos da ONU inspecione a prisão de Westville “o mais rápido possível para garantir que as condições sejam melhoradas”.

João Rendeiro volta esta quinta-feira ao tribunal na África do Sul onde será analisado o seu pedido de extradição.

O ex-banqueiro foi novamente presente a tribunal em Verulam, Durban, na passada sexta-feira para uma sessão em que os documentos do pedido de extradição enviados por Portugal foram aceites pelo magistrado Johan Van Rooyen, que preside à sessão.

A sessão acabou, porém, por ser adiada porque a documentação enviada por Portugal chegou com o selo quebrado. O Ministério Público pediu que os documentos fossem devolvidos por via diplomática a Portugal para serem revistos e novamente selados.
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