Democratas acusam Trump de ataque "descaradamente racista"

por Inês Moreira Santos - RTP
Das quatro democratas visadas pelo Presidente norte-americano, todas são consideradas “não-brancas”. Mas apenas Ilhan Omar, do Minnesota, não nasceu nos EUA Erin Scott - Reuters

Depois das opiniões expressas no fim de semana por Donald Trump, no Twitter, as quatro mulheres congressistas visadas pelos comentários do Presidente dos Estados Unidos acusam-no de seguir a “agenda de nacionalistas brancos”.

Em resposta aos ataques às quatro democratas “não-brancas”, as congressistas acusaram o Presidente dos Estados Unidos, durante uma conferência de imprensa, de assumir uma “agenda de nacionalistas brancos”. E apelaram aos norte-americanos para que “não mordam o anzol” desta retórica divisora.

Donald Trump escreveu no Twitter que as “congressistas democratas progressivas” deviam “voltar e ajudar a consertar os lugares totalmente desfeitos e infestados de crime” de onde vieram.


Das quatro democratas visadas pelo Presidente norte-americano, todas são consideradas “não-brancas”. Mas apenas Ilhan Omar, do Minnesota, não nasceu nos EUA.

Omar, Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova Iorque, Rashida Tlaib, do Michigan, e Ayanna Pressley, do Massachusetts, pertencem ao Partido Democrático e, presumivelmente, os comentários de Trump surgiram depois de um desentendimento entre as congressistas e a presidente da Câmara dos Representes, Nancy Pelosi, também democrata.
Manobra de distração e “falta de políticas”

Na conferência de imprensa conjunta, as quatro legisladoras disseram que os ataques não dividiriam os democratas e que, na verdade, eram apenas uma distração para a “falta de políticas” da Trump.

As congressistas classificaram as declarações do Presidente como um ataque “descaradamente racista” e uma tentativa de distração para esconder as práticas corruptas e desumanas da Administração Trump, defendendo mesmo a destituição, por via de um processo de impeachment.

"É uma distração disruptiva das questões de cuidado, preocupação e consequência para o povo americano que nos elegeu para cá com um mandato decisivo para trabalhar", disse Pressley, a primeira mulher negra eleita pelo Massachusetts para o Congresso.

“Não nos vão calar. Convido os americanos (...) a não morder o anzol", acrescentou, para insistir na ideia de que as palavras do Presidente não passam de "uma distração" para desviar a atenção "dos problemas que afetam os cidadãos americanos".

"Esta é a agenda dos nacionalistas brancos, tanto acontece em salas de chat como na televisão nacional, e agora chegou ao jardim da Casa Branca", disse Omar, referindo que este é um “momento crucial no país", com os "olhos da história" a assistir.

Quanto aos comentários e opiniões expressas por Trump sobre as mulheres, as pessoas de cor “não-branca” e as nações africanas, Ilhan Omar disse que o Presidente “violou abertamente o juramento que fez”, ao permitir “abusos dos Direitos Humanos” na fronteira como o México e ao envolver-se com a Rússia durante as eleições presidenciais de 2016.

"É hora de pararmos de permitir que este presidente brinque com a nossa Constituição. (…) É hora de denunciar este presidente", concluiu.
A melhor defesa é o ataque
Alexandria Ocasio-Cortez, por sua vez, não ficou “supreendida” com os comentários de Donald Trump, dizendo que este “não sabe defender as suas políticas” e, por isso, ataca “pessoalmente”.

Descendente de iranianos e nascida em Detroit, Rashida Tlaib pediu um impeachment ao Presidente por “total desrespeito pela Constituição dos Estados Unidos”.

"Infelizmente, não é a primeira nem será a última vez que ouvimos a linguagem repugnante e preconceituosa do Presidente", disse Tlaib. "Nós sabemos que é isto que ele é”.


Ainda durante a conferência das quatro democratas, na segunda-feira, Donald Trump continuava a comentar ativamente no Twitter, sugerindo que os democratas sentiam-se na obrigação de “abraçar” as quatro congressistas e que estavam a “endossar o socialismo, o ódio a Israel e aos EUA”.
pub