Destituição. Trump recorre a defensor de O.J.Simpson e de J.Epstein

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Trump na Casa Branca, durante a recepção à equipa de futebol Tigers da Universidade de Louisiana, em janeiro de 2020. Reuters

O constitucionalista Alan Dershowitz e o procurador Kenneth Starr vão integrar a equipa de defesa do Presidente dos Estados Unidos no processo para a sua destituição, cuja avaliação no Senado tem início marcado para terça-feira. A equipa de defesa de Trump será contudo liderada por Pat Cipollone, advogado da Casa Branca, e por Jay Seculow, advogado pessoal de Donald Trump.

A presença de Dershowitz, professor jubilado de Direito na Universidade de Harvard, constitui a maior surpresa, já que foi um confesso apoiante de Hillary Clinton nas presidenciais de 2016 - que elegeram Trump.

O constitucionalista opõe-se contudo ao uso do impeachment como arma política. Foi contra o processo de destituição de Bill Clinton, em 1998, e não mudou de opinião."O professor Dershowitz irá falar pela defesa durante o processo no Senado, para apresentar os argumentos constitucionais contra a destituição", referiu o seu escritório.

"Aceitei fazê-lo como um independente estudioso da Constituição", afirmou Dershowitz na televisão CBS. "Não tomo posições políticas - só quanto à Constituição".

O professor assumiu estar "muito, muito preocupado" com os precedentes que este impeachment poderá estabelecer.

"Poderá enfraquecer a presidência e tornar a destituição uma arma política em táticas partidárias", explicou.

Alan Dershowitz, constitucionalista e apoiante de Hillary Clinton, integra defesa de Donald Trump. Foto Reuters

Nem toda a equipa da casa Branca aplaudiu a inclusão de Dershowitz dado que este, também defensor de celebridades, liderou a defesa de O.J.Simpson, antiga glória do futebol americano acusado de assassinar a ex-mulher e o novo namorado dela, e de Jeffrey Epstein, guru da alta finança acusado de abusar e de explorar sexualmente dezenas de raparigas menores de idade.

O.J.Simpson foi absolvido e Epstein suicidou-se na cadeia em agosto de 2019.
"Estás a gozar..."
Kenneth Starr, que defendeu igualmente Epstein ao lado de Dershowitz, no julgamento de 2008,  ficou por seu lado conhecido nos anos 90 do século XX enquanto procurador especial nomeado para investigar o caso Whitewater, sobre investimentos imobiliários de Bill e de Hillary Clinton no Arkansas, na década de 80.

Kenneth Starr, ex-procurador nomeado para investigar caso Whitewater, integra equipa de defesa de Donald Trump. Foto Reuters

As investigações viriam a revelar provas, não relacionadas com a investigação inicial, do envolvimento entre o então Presidente democrata com a estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, escândalo que motivou o processo de impeachment contra Bill Clinton.

Lewinsky voltou por momentos à ribalta esta sexta-feira quando expressou o seu espanto pela presença de Starr na defesa de Trump.


"É claramente um dia do género 'estás a gozar com a minha cara?', escreveu Monica na rede social Twitter.

A ex-procuradora-geral da Florida, Pam Bondi, foi igualmente sondada para se juntar à equipa de defesa presidencial.

As declarações inaugurais do processo no Senado estão marcadas para a próxima terça-feira. As sessões nas duas semanas seguintes deverão atrair milhões de telespectadores, à semelhança das audições das testemunhas de acusação a Trump, já ouvidas pelo Comité de Justiça do Congresso.

Espera-se aliás, à margem da gravidade do processo, uma autêntica guerra de audiências.
"Tenham vergonha"
A primeira linha de defesa do Presidente será assumida por Pat Cipollone, advogado da Casa Branca.

Adepto da discrição da escrita e avesso aos holofotes e às câmaras de televisão, Cipollone terá de  adaptar o palco e a oralidade do seu estilo a algo tão combativo quanto o de Trump.

Pat Cipollone, advogado da Casa Branca, lidera equipa de defesa de Donald Trump. Foto Reuters

Conhecido como católico devoto, pai de 10 filhos, o advogado da Casa Branca tem defendido o Presidente de forma tão dura e incisiva que os termos utilizados em missivas recentes, na defesa do Presidente, levaram a protestos da presidente democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.

"Esta carta que foi enviada pela Casa Branca é uma brincadeira, indigna da presidência dos Estados Unidos", afirmou Pelosi indignada, em reação a uma carta de Cipollone de 15 de maio de 2019 contra acusações a Trump.

"Tenham vergonha!" acrescentou.

Jay Sekulow é outra cara conhecida dos combates em torno de Trump. Defendeu-o no inquérito às ingerências russas na campanha presidencial de 2016, liderado pelo procurador especial Robert Mueller, e está na primeira linha da guerra jurídica do Presidente contra a publicação das suas declarações de impostos.

A equipa mais próxima do Presidente, que recusou participar nas investigações do Congresso, lideradas pelos democratas, diz-se pronta para a batalha do Senado, confiante na vitória e no reforço da recandidatura presidencial de Trump.
A vez do Senado
O Presidente, que quer alegadamente ser julgado pelo Senado o mais rapido possível, é acusado de abuso do cargo e de obstrução ao Congresso.

Na base do processo de destituição estão suspeitas de que Trump pressionou o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, a investigar um dos seus principais rivais democratas à eleição, Joe Biden.

As acusações, baseadas no testemunho de um delator, motivaram uma investigação da Câmara dos Representantes, liderada pelos democratas, e denunciadas como uma nova "caça às bruxas" por Trump.

O caso rebentou depois de Mueller ter concluído pela impossibilidade de provar a conivência de Donald Trump nas acusações de ingerência russa, investigações incentivadas pelo Partido Democrata e que marcaram os primeiros anos da Adminustração Trump.

Os congressistas democratas, liderados congressista Adam Schiff, acusam ainda o Presidente de obstruir mais estas investigações no caso ucraniano.

Acusam ainda a Administração Trump de ter retido verbas em auxílio militar à Ucrânia, apoiadas pelo Congresso, como forma de pressionar Zelenskiy e numa clara violação da lei federal.

O inquérito desembocou no processo de destituição, agora levado perante a Câmara superior.
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