Deteção da Ómicron provou capacidade em África

por Lusa

O presidente da Associação Internacional dos Institutos Nacionais de Saúde Pública afirmou hoje que a forma como a variante Ómicron foi identificada na África do Sul revelou "o sucesso" dos serviços de saúde e científicos no continente africano.

"Podemo-nos congratular com o facto de termos hoje esta capacidade", afirmou Duncan Selbie, que dirige o Instituto de Saúde Pública do Reino Unido, durante a pré-conferência sobre o "Papel dos institutos nacionais de saúde pública na preparação e resposta à pandemia: Lições da covid-19".

Esta pré-conferência, transmitida virtualmente, acontece na véspera do início da primeira Conferência Internacional sobre Saúde Pública em África (CPHIA, sigla em inglês para Conference of Public Health in África), que decorre até quinta-feira.

Duncan Selbie sublinhou que a pandemia de covid-19 representa "um momento fabuloso" em termos de reconhecimento do papel dos institutos nacionais de saúde pública.

"A pandemia demonstrou um investimento que só foi possível graças ao trabalho em conjunto, em tempos difíceis que ninguém sabe quando vão acabar", adiantou.

E exemplificou com a questão da nova variante Ómicron, para a qual as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em 24 de novembro, o que só foi possível graças à capacidade dos serviços de saúde e científicos.

O especialista sublinhou a importância do "trabalho em rede" e de uma "liderança forte" que permita uma resposta para todos. Mas também que os recursos humanos incluam especialistas no topo de carreira que contribuam com o seu conhecimento.

Na sessão de abertura desta pré-conferência, o diretor dos Centros Africanos para o Controle e Prevenção de Doenças (África CDC), John N. Nkengasong, também insistiu na importância do trabalho em rede e recordou que, ainda antes da pandemia de covid-19, já o organismo que dirige procurava formas de trabalhar em conjunto e coordenar as ferramentas existentes.

Nkengasong reforçou a necessidade de a vacinação em África avançar, uma tarefa que, na sua opinião, exige um "esforço gigantesco" que resultará no fortalecimento da saúde pública.

Alex Ario, diretor do Instituto Nacional de Saúde Pública do Uganda, realçou o "bom desempenho" do continente africano ao nível da coordenação, vigilância e de gestão inicial da pandemia de covid-19.

Contudo, "a forma de controlar a covid-19 é com a vacinação e aí não temos um bom comportamento", embora dentro de dias devam chegar milhares de vacinas ao continente.

A esse propósito, Alex Arrio defendeu uma distribuição eficaz e a utilização de todas as doses, o que não pode ser feito sem os institutos de saúde.

"Os institutos de saúde estão na linha da frente", recordou.

Neste encontro participaram responsáveis de institutos de saúde de vários países africanos, que partilharam as experiências dos seus países no combate à pandemia, como o Ruanda, que tem atualmente 98% da população idosa vacinada com uma dose.

Na faixa etária dos 18 aos 24 anos a percentagem é menor (53%), mas Hassan Sibomana, do Centro Biomédico do Ruanda, considera que os bons níveis alcançados nos mais idosos irão facilitar a administração de mais doses e mais rapidamente.

Os institutos nacionais de saúde pública têm tido um papel determinante da deteção dos casos de pandemia e na vacinação de perto de 900 milhões de pessoas em África.

CPHIA 2021 vai centrar-se na covid-19, mas também no reforço dos sistemas de saúde e as aprendizagens face à resposta à pandemia.

Para Agnes Binagwaho, copresidente da conferência, "ao reunir algumas das principais figuras da saúde pública em África, a conferência proporcionará um fórum para rever as lições aprendidas com a covid-19 e para moldar sistemas de saúde mais resilientes que possam responder eficazmente a futuras crises".

A covid-19 provocou pelo menos 5.300.591 mortes em todo o mundo, entre mais de 269,02 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

Uma nova variante, a Ómicron, classificada como "preocupante" pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 57 países de todos os continentes, incluindo Portugal.

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