Dhlakama anuncia trégua militar por tempo indeterminado

por RTP
Reuters

O líder da Renamo, principal partido da oposição moçambicana, anunciou esta manhã a extensão "sem novo limite" da trégua militar que começou em dezembro passado entre a fação armada do seu partido e as tropas governamentais. "Não significa o fim da guerra, mas o início do fim da guerra", afirmou Afonso Dhlakama aos jornalistas.

"Anuncio hoje uma trégua sem novo limite", declarou Afonso Dhlakama numa teleconferência para jornalistas em Maputo, garantindo que este é um passo para o início do fim da guerra.

Segundo Dhlakama, este é o resultado de conversas mantidas com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.

A paz efetiva, após a trégua, está dependente da assinatura de um acordo de paz, acrescentou.

O porta-voz do partido, Antonio Muchanga, sublinhou que a trégua poderá permitir a aceleração das negociações para uma solução definitiva do conflito.

“Esperamos que as comissões possam trabalhar sem pressão, para que tudo possa ser resolvido até ao final do ano”, afirmou Muchanga.

O líder da Resistência Nacional Moçambicana advogou que a decisão se fica ainda a dever a pedidos de empresários que consideravam insuficientes as sucessivas tréguas com prazos definidos.

No passado mês de março, o líder da Renamo tinha anunciado uma trégua militar de 60 dias, cujo prazo terminava por esta altura. Dhlakama iniciou o interregno unilateral nos confrontos com as forças do governo no final de dezembro. Tréguas que foram prolongadas em janeiro e março para permitir o andamento das negociações de paz com o governo.

Apesar de se terem registado alguns incidentes isolados, o cessar-fogo tem sido em geral respeitado por ambos os lados.
Retirada das Forças de Defesa e Segurança
Afonso Dhlakama adiantou que o chefe de Estado moçambicano vai ordenar às Forças de Defesa e Segurança (FDS) para começarem a retirar as suas posições da região da Gorongosa, onde estão as principais bases da Renamo, a partir de segunda-feira, no âmbito do processo da restauração da paz.

"Aqui na Gorongosa tem mais de 26 posições militares das FADM [Forças Armadas de Defesa de Moçambique] e das FIR [Forças de Intervenção Rápida], em volta da serra da Gorongosa, porque vieram aqui combater. Agora a guerra acabou, é preciso que se retirem", acrescentou o líder da Renamo.

Com a retirada, assinalou Afonso Dhlakama, o Governo está a corresponder ao gesto de boa vontade expresso pela Renamo, com o alargamento da trégua.

Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e o braço armado do maior partido da oposição trocaram fogo no centro e norte do país em 2016 até ao primeiro período de tréguas anunciado por Dhlakama, em dezembro.

A guerra vitimou um número desconhecido de pessoas, com ataques a autocarros, comboios e outros alvos civis, afundou a economia e provocou uma crise de refugiados.

Renamo e Frelimo, partido no poder, trocaram acusações mútuas de perseguições e assassínios políticos.

Os conflitos surgiram depois de a Renamo ter recusado aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

É nessa sequência que a descentralização do Estado está na mesa de negociações entre Dhlakama e o Presidente Nyusi - a par da integração dos militares da Renamo nas forças armadas moçambicanas.
União Europeia saúda trégua sem prazos
"A declaração de uma 'trégua sem prazos' entre o Governo e a Renamo é um desenvolvimento muito bem-vindo", refere-se numa nota divulgada pela delegação da UE em Maputo.

A trégua "demonstra a crescente confiança entre as partes e contribui para a criação de um ambiente propício para a continuação das negociações de paz com vista a encontrar uma solução política sustentável", acrescenta.

A União Europeia "continua pronta a apoiar o processo", conclui a declaração.


C/Lusa e agências internacionais
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