"Direito soberano". Rússia reconhece direito de adesão da Ucrânia à UE mas não à NATO

por Joana Raposo Santos - RTP
Esta terça-feira, Rússia e Estados Unidos estão reunidos em Riade para discutir as suas relações e as opções para pôr fim à guerra na Ucrânia. Foto: Turar Kazangapov - Reuters

O Kremlin considerou esta terça-feira que a Ucrânia possui o "direito soberano" de decidir se quer ou não juntar-se à União Europeia, garantindo que Moscovo não pretende ditar como é que Kiev aborda essa questão. No entanto, sobre uma eventual adesão à NATO, a posição "é completamente diferente".

"É o direito soberano de qualquer país", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, quando questionado sobre se a Ucrânia poderá um dia juntar-se à União Europeia.

"Estamos a falar de processos de integração e de integração económica. E aqui, evidentemente, ninguém pode ditar nada a nenhum país. Nós não vamos fazer isso", assegurou.

Peskov quis esclarecer, no entanto, que a posição de Moscovo é distinta no que diz respeito à adesão da Ucrânia a alianças militares. "A posição é completamente diferente, claro, em assuntos relacionados com a segurança, defesa ou alianças militares", vincou.

“Nesses casos, a nossa abordagem é diferente e bem conhecida”, acrescentou o responsável.

No mesmo dia em que, em Riade, Rússia e Estados Unidos se encontram para discutir as suas relações e as opções para pôr fim à guerra na Ucrânia, Dmitry Peskov reiterou que o presidente russo está pronto para negociar com o homólogo ucraniano “caso necessário”.“Putin tem dito repetidamente que está pronto para falar sobre paz”, sublinhou. "Claro que preferimos atingir os nossos objetivos pacificamente".

"O próprio Putin disse que, se necessário, estaria pronto para negociar com [Volodymyr] Zelensky, mas o quadro jurídico dos acordos deve ser discutido à luz da realidade", declarou o porta-voz da Presidência russa.

Dmitry Peskov referiu-se ainda à falta de "legitimidade" do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, já que o mandato deste expirou oficialmente em maio de 2024. No entanto, a lei marcial em vigor na Ucrânia desde fevereiro de 2022 exclui a realização de eleições.
"Questões de segurança" na Europa

Sobre o encontro em Riade, Peskov declarou que Moscovo ainda não pode avançar com uma avaliação das negociações com os Estados Unidos, já que "ainda agora começaram".

Questionado sobre se o presidente russo, Vladimir Putin, poderia reunir-se pessoalmente com o homólogo norte-americano, Donald Trump, o porta-voz respondeu que "talvez as conversações de hoje tragam mais clareza".

Dmitry Peskov disse também ser "impossível" alcançar uma solução para a guerra na Ucrânia sem uma discussão mais ampla acerca das questões de segurança na Europa.

"Um acordo a longo prazo, um acordo viável, é impossível sem uma análise abrangente das questões de segurança no continente", afirmou perante os jornalistas.

As declarações surgem um dia depois de vários líderes europeus terem estado reunidos numa cimeira de emergência em Paris, na qual determinaram investir mais na defesa e assumir a liderança na prestação de garantias de segurança à Ucrânia.

c/ agências
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