Diretor-geral da Defesa portuguesa refere que "não há segurança sem desenvolvimento"

por Lusa

O diretor-geral de Política de Defesa de Portugal, Nuno Lemos Pires, defendeu hoje "não há segurança, sem desenvolvimento", ao analisar o recrudescimento da violência em Cabo Delgado, norte de Moçambique.

"Todos nós temos de ter consciência de que não há segurança sem desenvolvimento" e vice-versa, ou seja, "isto não é uma coisa que se resolve de um dia para o outro, apenas com uma intervenção militar", referiu o major-general, à margem de uma apresentação sobre geopolítica na Praia, Cabo Verde.

Nuno Lemos Pires comandou entre 2021 e 2022 a Missão de Treino da União Europeia em Moçambique (EUTM, sigla inglesa) para formar militares para combater a insurgência militar em Cabo Delgado.

Questionado sobre o novo de pico de violência naquela região, classificou como "lamentável o que se passou em dezembro e janeiro", mas "a reação acabou por ser bastante positiva da parte das autoridades moçambicanas a partir de fevereiro", considerando importante o contributo das forças de reação rápida das forças armadas, que receberam formação e equipamento da EUTM.

São 11 companhias "que já estão a operar e muitas já passaram por Cabo Delgado: mostraram a diferença desta formação e equipamento que a União Europeia forneceu". 

Moçambique conseguiu "estagnar" um "movimento de jihadistas" oriundos de países em redor, que "acabaram por entrar em Cabo Delgado e destabilizar" a região, no início deste ano, mas o cenário continua "longe de estar resolvido".

Uma intervenção militar e policial, não será suficiente para o resolver, referiu.

A solução requer "uma aposta no desenvolvimento" e "de melhores condições económicas, de segurança, de escolas, de direito, da confiança das pessoas". 

Nuno Lemos Pires disse ainda que se deve "matar esta ideia, absolutamente radical, que é completamente `contra-natura` em Moçambique, [a ideia] de jihadismo, que não tem nada a ver com um país extremamente tolerante como Moçambique", concluiu. 

O futuro da EUTM será decidido nas próximas semanas, segundo a Comissão Europeia.

O ministro da Defesa moçambicano, Cristóvão Chume, manifestou no final de fevereiro a convicção na continuidade da missão, pedindo também armamento letal.

Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma insurgência armada com ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Depois de uma relativa normalidade nos distritos atingidos pela violência armada, a província registou, há alguns meses, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda, com mais de 2.000 militares, e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás natural.

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