Distribuição de ajuda humanitária é "abominação" que "humilha"

por Cristina Santos - RTP
Palestinianos transportam um ferido no norte da Faixa de Gaza. Ebrahim Hajjaj - Reuters

O responsável da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA) afirma que o recém-criado 'mecanismo de ajuda' "é uma armadilha mortal que custa mais vidas do que salva".

Em causa estão as várias centenas de pessoas que têm sido abatidas a tiro por militares israelitas quando tentam chegar aos centros de ajuda alimentar.

Centros geridos pela Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Israel e pelos EUA e que foi criada para substituir a ONU na distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. “É uma abominação que humilha e degrada pessoas desesperadas”, declarou Philippe Lazzarini, numa conferência de imprensa em Berlim.
O responsável da UNRWA, cuja organização foi banida da Faixa de Gaza por Israel, acrescenta que a Fundação Humanitária de Gaza (GHF – na sigla em inglês) deve ser apelidada de "Fundação para Humilhação de Gaza", porque é isso que os palestinianos "sentem agora".

Philippe Lazzarini avisa ainda que a crise de tesouraria pode obrigá-lo a tomar uma "decisão sem precedentes".

Em causa podem vir a ficar os serviços que ainda são prestados pela agência da ONU (UNRWA) para os refugiados palestinianos se não houver financiamento em breve.

A UNRWA tem um défice de 200 milhões de dólares e "o fluxo de caixa é gerido semanalmente", disse Lazzarini aos jornalistas, mas sem adiantar pormenores sobre o que esta decisão poderá implicar. A agência da ONU presta assistência, serviços de saúde e educação a milhões de pessoas nos territórios palestinianos e na Síria, Líbano e Jordânia.
Os Estados Unidos foram o maior doador da UNRWA, mas tudo mudou com Donald Trump que cortou a ajuda financeira, no início deste ano.

Na semana passada, a senadora norte-americana Elizabeth Warren questionou a Casa Branca sobre a proposta de dar à Fundação Humanitária de Gaza 500 milhões de dólares que antes eram atribuídos para ajuda humanitária externa.

Dificilmente os orçamentos de outros governos ocidentais podem ajudar, uma vez que também estão sob pressão com o aumento de gastos em defesa.
“Não é assim que se evita a fome”
Na segunda-feira, várias organizações de defesa dos direitos humanos apelaram à Fundação Humanitária de Gaza (GHF) para cessar as suas operações no território palestiniano.

“O modelo militarizado da GHF, aliado à sua estreita colaboração com as autoridades israelitas, mina os princípios humanitários fundamentais de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência”, lê-se na carta assinada por 15 organizações de defesa dos direitos humanos.

Se continuar em Gaza, há o risco de a Fundação vir a ser considerada cumplice de "crimes de guerra".

As organizações dos direitos humanos alertaram ainda os grupos privados que operam em Gaza em colaboração com o governo israelita que também correm o risco de "ser cúmplices de crimes previstos no direito internacional, incluindo crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou genocídio".

A carta assinada pelos defensores dos direitos humanos foi enviada à GHF que não quis comentar.  "Não é assim que se evita a fome”, afirmou o porta-voz da Unicef, no jornal The Guardian, sobre a Fundação.
Não há necessidade de reinventar a roda. Entregamos ajuda em grande escala durante o cessar-fogo e podemos fazê-lo novamente. Só precisamos ter permissão para fazer o nosso trabalho.”
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