O responsável da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA) afirma que o recém-criado 'mecanismo de ajuda' "é uma armadilha mortal que custa mais vidas do que salva".
Em causa estão as várias centenas de pessoas que têm sido abatidas a tiro por militares israelitas quando tentam chegar aos centros de ajuda alimentar.
Centros geridos pela Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Israel e pelos EUA e que foi criada para substituir a ONU na distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. “É uma abominação que humilha e degrada pessoas desesperadas”, declarou Philippe Lazzarini, numa conferência de imprensa em Berlim.
O responsável da UNRWA, cuja organização foi banida da Faixa de Gaza por Israel, acrescenta que a Fundação Humanitária de Gaza (GHF – na sigla em inglês) deve ser apelidada de "Fundação para Humilhação de Gaza", porque é isso que os palestinianos "sentem agora".
Philippe Lazzarini avisa ainda que a crise de tesouraria pode obrigá-lo a tomar uma "decisão sem precedentes".
Em causa podem vir a ficar os serviços que ainda são prestados pela agência da ONU (UNRWA) para os refugiados palestinianos se não houver financiamento em breve.
A UNRWA tem um défice de 200 milhões de dólares e "o fluxo de caixa é gerido semanalmente", disse Lazzarini aos jornalistas, mas sem adiantar pormenores sobre o que esta decisão poderá implicar. A agência da ONU presta assistência, serviços de saúde e educação a milhões de pessoas nos territórios palestinianos e na Síria, Líbano e Jordânia.
Os Estados Unidos foram o maior doador da UNRWA, mas tudo mudou com Donald Trump que cortou a ajuda financeira, no início deste ano.
Na semana passada, a senadora norte-americana Elizabeth Warren questionou a Casa Branca sobre a proposta de dar à Fundação Humanitária de Gaza 500 milhões de dólares que antes eram atribuídos para ajuda humanitária externa.
“Não é assim que se evita a fome”
Na segunda-feira, várias organizações de defesa dos direitos humanos apelaram à Fundação Humanitária de Gaza (GHF) para cessar as suas operações no território palestiniano.
“O modelo militarizado da GHF, aliado à sua estreita colaboração com as autoridades israelitas, mina os princípios humanitários fundamentais de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência”, lê-se na carta assinada por 15 organizações de defesa dos direitos humanos.
Se continuar em Gaza, há o risco de a Fundação vir a ser considerada cumplice de "crimes de guerra".
As organizações dos direitos humanos alertaram ainda os grupos privados que operam em Gaza em colaboração com o governo israelita que também correm o risco de "ser cúmplices de crimes previstos no direito internacional, incluindo crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou genocídio".
“Não há necessidade de reinventar a roda. Entregamos ajuda em grande escala durante o cessar-fogo e podemos fazê-lo novamente. Só precisamos ter permissão para fazer o nosso trabalho.”