Pela primeira vez, um Presidente norte-americano em exercício prevê estar ao vivo na marcha anual em defesa da vida e contra o aborto, em Washington. Apesar da participação se dar em ano eleitoral, os organizadores da jornada celebram o que acreditam ser um "ponto de viragem".
Jeanne Mancini, President, March for Life: “We have never had a President of the United States actually come in person to the March for Life.” But now you do! See you later Jeanne. @HeatherChilders @FoxNews
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 24, 2020
Marjorie Dannenfelser, presidente da Susan B. Anthony List, uma poderosa organização anti-abeorto, vê na presença do Presidente uma verdadeira "reviravolta".
A Casa Branca anunciou a participação do Presidente quinta-feira dia 23 de janeiro, véspera da jornada e galvanizou os particpantes.
"Estamos profundamente honrados em receber o Presidente Trump na 47.ª Marcha pela Vida", reagiu Jeanne Mancini, em comunicado.
"Desde a nomeação de juízes pró-vida", acrescentou "até à redução do financiamento dos contribuintes para o aborto, nos EUA e no exterior, e até à denuncia sobre o aborto tardio, o Presidente Trump e o seu Governo têm sido defensores constantes da vida". O Presidente deverá discursar a meio do dia, após o que o habitual cortejo irá subir a avenida junto ao Mall até à colina do Capitólio, junto ao edifício que alberga o Supremo Tribunal.
"Desde a nomeação de juízes pró-vida", acrescentou "até à redução do financiamento dos contribuintes para o aborto, nos EUA e no exterior, e até à denuncia sobre o aborto tardio, o Presidente Trump e o seu Governo têm sido defensores constantes da vida". O Presidente deverá discursar a meio do dia, após o que o habitual cortejo irá subir a avenida junto ao Mall até à colina do Capitólio, junto ao edifício que alberga o Supremo Tribunal.
Já em 2019, Donald Trump havia manifestado o seu apoio à proteção de toda a vida humana, mas dessa vez fê-lo através de uma mensagem transmitida através de écrans gigantes.
Na altura, Trump prometeu opor-se a toda a legislação que "enfraquecesse a proteção da vida humana".
O Presidente defende que o aborto só deve ser permitido em caso de violação de ou incesto.
Este ano, a marcha coincide com o processo de destituição do próprio Trump, a decorrer no Senado, a poucos metros da marcha.
Esta será por isso uma montra perfeita para o Presidente colher frutos eleitorais, e espera-se que tanto o julgamento como os democratas, que defendem o impeachment, sejam alvos do discurso presidencial.
Leis restritivasVinte anos depois de se afirmar muito "pró-escolha" [da possibilidade de uma mulher escolher o aborto], o milionário parece determinado a inscrever o seu nome como o Presidente mais "pró-vida" de sempre, tendo em atenção a sua base de apoio, sobretudo os cristãos evangélicos, que terão votado esmagadoramente a seu favor em 2016.
Nos Estados Unidos, é permitido a uma mulher pedir a morte do feto até ao final da gestação, podendo mesmo tirar-se a vida de um feto plenamente desenvolvido e sem quaisquer problemas médicos, durante o seu parto natural.
Nos últimos anos têm-se multiplicado as denúncias públicas de casos de falta de
socorro clínico a mulheres, cujos abortos, efetuados em clínicas
alegadamente especializadas, correram mal.
O escândalo da venda de restos humanos resultantes das IGV, por parte da rede de clínicas da Planned Parenthood, PP, a maior provedora de "cuidados de saúde da mulher" dos Estados Unidos, deu ainda mais argumentos aos pró-vida.
Em março próximo o Supremo Tribunal deverá pronunciar-se sobre uma dessas leis, adotada em 2014 no Louisiana, Estado do sul dos EUA.
Acabar com as clínicas
Essa legislação impõe aos médicos, voluntários para realizar abortos, a
necessidade de licença para exercer num hospital situado a menos de 50
quilómetros do lugar onde se realize a intervenção.
Os defensores do texto a ajuizar alegam que, só assim fica garantido o socorro necessário e atempado à mulher, em caso de complicações que impliquem a sua hospitalização.
Os detratores do texto afirmam que estas condições são demasiado drásticas e que só um medico e uma clínica poderiam continuar a praticar as IGV em todo o Estado, algo manifestamente insuficiente para os 10 mil abortos que ali se praticam anualmente.
Em agosto de 2016, seis meses antes da tomada de posse de Donald Trump, o Supremo Tribunal considerou ilegal uma lei semelhante adotada pelo Texas.
As nomeações de Neil Gorsuch e de Brett Kavanaugh desequilibraram o Tribunal a favor dos conservadores e a lei do Louisiana poderá passar, dando aos pró-vida oportunidade de festetejar mais uma vitória.
A questão do aborto sempre dividiu a opinião pública norte-americana desde a decisão histórica do Supremo Tribunal dos EUA no processo "Roe vs Wade", a 22 de janeiro de 1973, que legalizou a IVG em todo o país.
A sexta-feira mais próxima desse dia, 22 de janeiro, é por isso tradicionalmente escolhida para a realização da marcha de protesto e "pró-vida" em Washington, que procuram reverter a decisão.