Donald Trump. Presença de Zelensky nas negociações sobre Ucrânia "não é muito importante"

Em declarações à Fox News, o presidente dos Estados Unidos cravou esta sexta-feira mais um prego nas relações com Kiev, nomeadamente com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ao considerar que não é "importante" que este esteja presente nas negociações de paz com a Rússia sobre a Ucrânia.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Donald Trump, presidente dos EUA Reuters

Entrevistado por Brian Kilmeade, Trump afirmou sobre a presença de Zelensky: "não penso que seja muito importante que ele esteja nas reuniões", acrescentando, "ele dificulta muito conseguir acordos".

"Tenho-o visto a negociar sem cartas. Ele não tem cartas e isso cansa uma pessoa... Já estou farto", justificou. Donald Trump afirmou várias vezes, mesmo em campanha, que, se ele estivesse na Casa Branca há três anos, Putin nunca teria dado ordem para a invasão.


Na semana passada, o presidente norte-americano anunciou ter falado ao telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, durante uma hora e meia, incluindo sobre a paz na Ucrânia. 

Desde então, os responsáveis pelas diplomacias dos Estados Unidos e da Rússia, Marco Rúbio e Sergei Lavrov, encetaram contactos para debater as condições para a paz na Ucrânia.

Face aos protestos de Volodymyr Zelensky, ao ver-se afastado das reuniões e mantendo que o seu país nunca cederá território à Rússia, Donald Trump reagiu e ambos têm trocado acusações e palavras azedas através das redes sociais.

Esta sexta-feira, Trump considerou que o presidente ucraniano está em reuniões há três anos "e nada foi feito, por isso não acho que seja muito importante que ele esteja nas reuniões".

"Ele está lá há três anos... veja o que aconteceu com o país dele, foi demolido", afirmou.
Rússia podia ter sido "dissuadida"

O apresentador da Fox News, Kilmeade, desafiou Trump a comentar a devastação na Ucrânia, questionando se isso não seria culpa de Vladimir Putin e pressionando também o presidente sobre a controvérsia em torno das suas observações de que a Ucrânia "nunca deveria ter começado" a sua guerra com a Rússia. 

Trump acabou por recuar parcialmente nas suas declarações, sem deixar de desculpar Moscovo.

O presidente norte-americano reconheceu afinal que a Rússia "atacou" a Ucrânia, mas considerou que a Rússia podia ter sido "facilmente dissuadida".

O presidente desviou-se várias vezes antes de finalmente dizer, "sim, a Rússia atacou, mas não havia razão para ele, Vladimir Putin, atacar". Aparentemente referindo-se a Kilmeade, Trump considerou "poderia tê-lo dissuadido. Esta guerra nunca deveria ter acontecido."

"Mas, a Rússia poderia ter sido dissuadida facilmente", defendeu.
O negócio das terras raras
Trump tem procurado obter direitos na ordem dos 500 mil milhões de dólares sobre as terras raras ucranianas em troca do apoio militar norte-americano, passado e futuro, negócio que Zelensky recusou por considerar que excede as contribuições norte-americanas para o esforço de guerra ucraniano.

Trump mostrou-se agastado com a resistência encontrada em Kiev pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, dizendo que a viagem deste à Ucrânia, para o acordo sobre minerais, foi uma "viagem desperdiçada, uma viagem perigosa também, não gostei", disse, antes de comparar a Ucrânia a Gaza. De acordo com a proposta da Administração Trump, os EUA ficariam com 50% das vendas de licenças e outras receitas provenientes dos minerais, o que violaria as leis ucranianas. 

Segundo uma fonte em Kiev, o lado ucraniano apresentou já alterações à oferta que beneficiariam ambos os lados. A agência de notícias AFP informou, igualmente, através de um “alto funcionário ucraniano” não identificado, que as negociações sobre o acordo de minerais estão a progredir. 

Há uma troca constante de rascunhos, enviamos outro ontem”, relatou a fonte de Kiev, acrescentando que a Ucrânia estava agora à espera de uma resposta dos EUA. A Administração Trump confia que Kiev acabará por ceder às pretensões norte-americanas.

Nestas negociações, Trump tem tentado encostar Zelensky às cordas, com ataques à reputação e legitimidade do presidente ucraniano e jogando em dois tabuleiros. 

Ao fazer o jogo de Moscovo e apoiando as pretensões de Putin, Trump poderá conseguir a paz e, ao mesmo tempo, obter do Kremlin as concessões que pretende se apoiar a Rússia a apossar-se dos territórios ucranianos onde se encontram as reservas de terras raras.

Na quarta-feira, o presidente norte-americano considerou o líder ucraniano um "ditador sem eleições" e um "comediante de sucesso mediano", insinuando que Zelensky está prestes a "perder o país" e exigindo a realização de eleições.

Volodymyr Zelesnky considerou que Trump está "numa bolha de desinformação", enquanto Trump afirma que o conflito pouco importa aos Estados Unidos e insinua que parte do dinheiro canalizado para Kiev nos últimos três anos "desapareceu".
Starmer e Macron "não fizeram nada"

Trump criticou ainda os líderes europeus pela sua falta de resultados na estratégia de pacificar o conflito, afirmando que nem o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, nem o presidente francês, Emmanuel Macron, fizeram o que quer que fosse para acabar com a guerra da Rússia com a Ucrânia.

Interpelado por Kilmeade sobre as suas próximas reuniões com Starmer e Macron, Trump interrompeu o apresentador dizendo que "eles não fizeram nada...nenhuma reunião com a Rússia!"

“Eles não fizeram nada”, frisou.

“Macron é um amigo meu”, reconheceu, acrescentando que Starmer era “alguém muito simpático”, mas que nenhum deles fez nada para ir ao encontro da Rússia.

Donald Trump tem estado a ser acusado que voltar a legitimar Vladimir Putin na cena internacional, depois deste ter sido considerado persona non grata pelo mundo ocidental após a invasão da Ucrânia.
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