Durão acusado de fazer "lobby" pelo Goldman Sachs em Bruxelas

por Carlos Santos Neves - RTP
O ex-presidente da Comissão Europeia reuniu-se em outubro do ano passado com o atual vice-presidente do Executivo comunitário Jyrki Katainen Susana Vera - Reuters

O vice-presidente da Comissão Europeia Jirky Katainen confirma que se reuniu em outubro de 2017 com Durão Barroso, a pedido do agora membro da cúpula do grupo de investimentos Goldman Sachs. O encontro, denunciado pelo Corporate Europe Observatory, visou discutir “temas na área do comércio e defesa”. E parece contrariar um compromisso escrito em que o antigo governante português afiançava não ter sido contratado para fazer lobby.

A reunião entrou no denominado registo de transparência de Jirky Katainen. Todavia, a anotação omitia o nome do interlocutor, mencionando apenas “The Goldman Sachs Group, Inc. (GS)”. Em carta de resposta à ONG Corporate Europe Observatory, datada de 31 de janeiro de 2018, o vice-presidente da Comissão Juncker confirma a conversa com o antigo primeiro-ministro.
Em setembro de 2016 Durão Barroso escreveu a Jean-Claude Juncker. Nesta carta garantia não ter sido recrutado como agente de lobby do Goldman Sachs e que não planeava fazê-lo.

“De facto, encontrei-me com o senhor Barroso da Goldman Sachs no Silken Berlaymont Hotel em Bruxelas a 25 de outubro de 2017. O senhor Barroso e eu fomos os únicos participantes neste encontro, no qual foram discutidos sobretudos temas na área do comércio e defesa”, escreve.

“A reunião”, adianta ainda o comissário finlandês, “foi agendada a pedido do senhor Barroso e acordada por telefone”.

“Normalmente, não tomo notas nos encontros e não o fiz nesta reunião. Por esse motivo, não há documentos relativos a este acontecimento”, sublinha Jirky Katainen, para acrescentar, adiante, que o encontro ocorrido a 25 de outubro de 2017 foi o primeiro desde que José Manuel Durão Barroso “começou a trabalhar no Goldman Sachs, em julho de 2016”.

“A transparência é uma prioridade para a Comissão Europeia”, aponta por último o eurocomissário, invocando o novo código de conduta adotado por Bruxelas.
“Religiosamente”

O teor da carta de Jirky Katainen ao Corporate Europe Observatory motivou entretanto a federação de ONG para a transparência ALTER-EU a reclamar da Comissão Juncker uma reapreciação do comportamento de Durão Barroso enquanto alto quadro do Goldman Sachs.

Recorde-se que em setembro de 2016 o antigo primeiro-ministro português escreveu a Jean-Claude Juncker a garantir que não fora recrutado como agente de lobby da casa de investimentos. E que não fazia parte dos seus planos futuros atuar nessa qualidade.

De resto, a carta de Durão esteve também na base da avaliação, já a 31 de outubro do mesmo ano, do comité de ética ad hoc da Comissão Europeia, que estimou que o antecessor de Juncker não violou disposições dos tratados e observou os deveres de integridade e discrição, embora pudesse ter dado mostras de mais “sensatez”.

Concretamente, o comité de ética concluiu que Barroso “não demonstrou a sensatez que se poderia esperar de alguém que ocupou o cargo de presidente durante tantos anos”.

Esta terça-feira, em conferência de imprensa, o porta-voz da Comissão Europeia Margaritis Schinas veio, por sua vez, vincar que o vice-presidente finlandês da Comissão “seguiu religiosamente os parâmetros aplicáveis de legalidade”.

c/ agências
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