É preciso uma mudança radical para reduzir as "loucas" condições meteorológicas, avisam os cientistas

por Carla Quirino - RTP
Chuvas torrenciais provocaram cheias repentinas em Aurdal, na Noruega, agosto 2023 Ole Berg-Rusten/NTB via Reuters

"Somos muito mais vulneráveis do que pensávamos. A nossa vulnerabilidade está a dar-nos uma chapada na cara" avisam os especialistas que deixam claro, mais uma vez, que é necessária uma ação urgente pro-clima. Das altas temperaturas às chuvas torrenciais repentinas, dos incêndios florestais à seca, as "loucas" condições meteorológicas extremas são apenas a "ponta do iceberg", alertam os cientistas.

Dentro de uma década - se não existir uma forte estratégia climática - os fenómenos meteorológicos extremos de 2023 vão-se tornar no novo normal, afirmaram os principais investigadores do clima do mundo à publicação britânica The Guardian que lhes pediu uma avaliação sobre a crise climática.

Os episódios “loucos” que o planeta já enfrenta são apenas a “ponta do iceberg” em comparação com os efeitos “ainda piores que estão para vir”, alegam.

Os cientistas destacaram a dificuldade em antecipar os eventos climáticos extremos, que são, por definição, raros. Argumentam que os modelos meteorológicos estão a alterar-se muito rapidamente o que deixa o mundo “a voar parcialmente às cegas” em direção a um futuro cada vez mais imprevisível.

“Julho foi o mês mais quente da história da humanidade e as pessoas em todo o mundo estão a sofrer as consequências”, afirma o professor Piers Forster, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. “Mas isto é o que esperávamos neste nível de aquecimento. Este será o verão médio dentro de 10 anos, a menos que o mundo coopere e coloque a ação climática no topo da agenda”.

“Os impactos são assustadoramente mais chocantes do que eu – e muitos cientistas climáticos que conheço – esperavam”, sublinha o professor Krishna AchutaRao, do Instituto Indiano de Tecnologia.

Leito quase seco do Rio Loire em Loireauxence, France, agosto 2023 | Stephane Mahe - Reuters

Christophe Cassou, investigador do CNRS na Université Paul Sabatier Toulouse III, em França, acrescenta que “as mudanças nos riscos [climáticos] não foram subestimadas à escala global. Mas os impactos, esses sim, foram subestimados porque somos muito mais vulneráveis do que pensávamos – a nossa vulnerabilidade está a dar-nos uma chapada na cara”.
Incêndio florestal no Monte Parnitha, perto de Atenas, na Grécia | Nicolas Economou - Reuters

Em 2023, as temperaturas registaram valores históricos e os incêndios florestais continuam a devorar milhões de hectares de floresta por todo o mundo, desde a América do Norte à Europa e à Ásia. Por isso “sentimos agora que as alterações climáticas estão a emergir acima do clima normal” declara Cassou.
Será que o ponto de viragem já aconteceu?
Os cientistas acreditam que o planeta ainda não ultrapassou o ponto de viragem para uma mudança climática descontrolada. Mas Rein Haarsma, do Instituto Meteorológico Real Holandês, alerta para a aproximação desse momento. “Os extremos que vemos agora a acontecer podem induzir pontos de inflexão, como o colapso da circulação meridional do Atlântico e o descongelamento das camadas de gelo da Antártida, que tem impactos devastadores”.

Porém, os cientistas dizem que permanece aberta uma “pequena janela” de oportunidade para evitar o pior da crise climática, e apontam o dedo ao uso dos combustíveis fósseis.

“Precisamos de parar de queimar combustíveis fósseis”, reitera Friederike Otto, do Imperial College London. Diz ser imperativo: "Agora. Não é um momento que se permita que as empresas continuem a ganhar todo o dinheiro possível”.

Junta-se também a voz crítica de Emily Shuckburgh, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido: “Qualquer pessoa que de alguma forma perpetue a era dos combustíveis fósseis está firmemente do lado errado da história”.

“Saber que olharemos para trás, para os acontecimentos extremos de hoje, como algo brando em relação ao que está no nosso futuro, é verdadeiramente alarmante”, acrescenta Andrea Dutton, da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA. E deixa uma mensagem clara: “A velocidade com que fizermos esta transição definirá o futuro que teremos.”

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