Efeito da guerra na Ucrânia. Guterres deixa novo aviso para "escassez global de alimentos"
O secretário-geral das Nações Unidas reiterou, na quarta-feira, que a invasão russa da Ucrânia pode dar lugar a vários anos de crise alimentar mundial. Os países pobres serão os primeiros a sofrer o impacto do aumento dos preços. António Guterres alerta para cerca de 20 milhões de toneladas de cereais bloqueados em solo ucraniano.
O desenrolar da invasão russa da Ucrânia acabou por travar as exportações de cereais, que antes partiam dos portos do país vizinho da Rússia para quase todo o mundo - Kiev exportava grandes quantidades de óleo de cozinha e cereais como milho e trigo.
Esta diminuição da oferta global causou um aumento generalizado dos preços de géneros alimentares e fez com que o custo das alternativas disparasse. De acordo com a ONU, os preços globais dos alimentos sofreram já um acréscimo de quase 30 por cento desde o início da guerra, no final de fevereiro, relativamente ao mesmo período do ano passado.António Guterres sublinha que a única solução eficaz para a crise passa por reintegrar no mercado global a produção de alimentos da Ucrânia, bem como fertilizantes produzidos pela Rússia e pela Bielorrússia.
"As complexas implicações de segurança, económicas e financeiras exigem boa vontade de todos os lados", observou o secretário-geral da ONU.
Guterres afirmou estar a desenvolver um "intenso contacto" com Rússia, Ucrânia, EUA e UE, tendo em vista restaurar as exportações de alimentos para níveis próximos do momento antes da invasão.
Além desta comunicação de António Guterres, o dia de quarta-feira ficou marcado pelo anúncio de um novo financiamento do Banco Mundial. São disponibilizados cerca de 12 mil milhões de dólares (11,43 mil milhões de euros) para projetos que ajudem a travar a insegurança alimentar.
Antes de ser assolada pela guerra, a Ucrânia era considerada o celeiro da Europa. Os solos ucranianos e russos produziam 30 por cento da oferta mundial. Os dois países exportavam cerca de 4,5 milhões de toneladas de produtos agrícolas por mês.
O estrangulamento da exportação das colheitas causado pelo conflito armado está a reter 20 milhões de toneladas de cereais ucranianos, segundo a ONU. Se esta produção for libertada, poderá aliviar a pressão nos mercados mundiais.
Escolha de Putin
Um conflito que se antevê prolongado tem assim impacto direto na cadeia de abastecimento alimentar, o que está desencadear uma multiplicação de acusações dirigidas ao presidente russo, Vladimir Putin.
A ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, responsabiliza Moscovo pela degradação da segurança alimentar global.
Por sua vez, o secretário de Estado dos EUA associa-se às críticas contra a Rússia e afirma que o mundo enfrenta a "maior crise global de segurança alimentar do nosso tempo". Antony Blinken diz ainda que este quadro foi exacerbado pelo facto de Putin ter "escolhido fazer guerra".
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