O ex-presidente Mohammed Morsi, que estava a ser julgado por vários crimes, colapsou durante uma sessão no tribunal, acabando por morrer. Tinha 67 anos.
A estação estatal egípcia adiantou que Morsi, o primeiro presidente civil e primeiro ativista islâmico eleito democraticamente no país, na sequência da queda de Hosni Mubarak e dos movimentos da Primavera Árabe, colapsou durante uma sessão no tribunal.
“Ele pediu permissão ao juiz para falar, e foi-lhe permitido. Depois de o caso ser adiado, ele desmaiou e morreu. O seu corpo foi então transportado para o hospital”, indicou o diário egípcio Al-Ahram.
Quando, em 2012, foi eleito presidente, Morsi prometeu uma agenda islâmica moderada que pudesse conduzir o Egipto a uma nova era democrática e a um Governo transparente e com respeito pelos direitos humanos.
Mohammed Morsi foi deposto por um golpe militar em 2013, após um ano no poder, tendo alguns meses depois sido sucedido pelo general Al-Sissi, então ministro da Defesa.
Engenheiro e académico da universidade do Cairo, Morsi foi acusado de detenção e tortura de manifestantes durante o seu mandato, sendo condenado em abril de 2015 a 20 anos de prisão. Em junho desse ano seria condenado à morte.
Um ano depois Mohammed Morsi enfrentaria acusações de espionagem e tentativa de fuga da prisão. Uma das penas de prisão perpétua estava precisamente relacionada com o crime de espionagem em benefício do Qatar.
A pena de morte foi anulada por um tribunal de recurso, que ordenou um novo julgamento num tribunal criminal.
Irmandade Muçulmana
De acordo com a estação estatal egípcia, Morsi encontrava-se esta segunda-feira no tribunal para uma audiência sobre acusações de espionagem relacionadas com suspeitas de contactos com o movimento islâmico Hamas, que possui uma relação de proximidade com a Irmandade Muçulmana.
Morsi era uma das principais figuras da Irmandade Muçulmana, uma organização islâmica considerada, em alguns círculos, como terrorista.
Quando, em 2013, o golpe militar fez cair Morsi, vários outros líderes da Irmandade foram detidos.
O atual Presidente do Egipto, Al-Sissi, tem supervisionado uma extensa repressão à Irmandade Muçulmana e a qualquer suspeito de apoiar o grupo.
Falta de tratamentos médicos
Em 2018, três membros do parlamento britânico denunciaram que Morsi estava a ser mantido em solitária durante 23 horas por dia, com direito a apenas uma hora de exercício, algo que classificaram de “tortura”. O antigo presidente cumpria a pena na prisão de Tora, no Cairo.
Os mesmos membros do parlamento escreveram, na altura, que estas condições e a possível ausência de tratamentos médicos poderiam levar a uma morte precoce.
De acordo com um procurador egípcio, já foi realizada uma autópsia que não revelou sinais de lesões recentes no corpo.
“As consequências deste tratamento inadequado levarão provavelmente a uma rápida deterioração da sua condição de saúde, o que poderá provocar uma morte prematura”, consideraram.
Morsi tinha um historial de diabetes e doenças de rins e fígado, problemas para os quais, de acordo com os deputados britânicos, não estaria a ser tratado.
O advogado de Morsi confirmou que os problemas de saúde do seu cliente não eram devidamente tratados. “Nós fizemos vários pedidos de tratamentos. Alguns foram aceites, outros não”, contou à agência Reuters.
O Presidente turco, Tayyip Erdogan, já lamentou a morte de Morsi. “Espero que haja misericórdia para o mártir Mohammed Morsi, que protagonizou uma das maiores lutas pela democracia da História”, escreveu no Twitter.
Mısır'ın demokratik seçimle göreve gelen ilk Cumhurbaşkanı, kardeşim Muhammed Mursi'nin vefat ettiği haberini teessürle öğrendim.
— Recep Tayyip Erdoğan (@RTErdogan) 17 de junho de 2019
Tarihin en büyük demokrasi mücadelelerinden birini veren Şehit Muhammed Mursi'ye Allah'tan rahmet diliyorum. pic.twitter.com/ThYW7CW19B