Eleições Brasil. `Fake news` não serão preponderantes na votação

por Lusa
Lusa

O especialista em campanhas políticas brasileiras Marcelo Vitorino disse à Lusa acreditar que as notícias falsas não terão, este ano, impacto relevante no eleitor nas eleições presidenciais de 02 de outubro.

"Esses dois candidatos são muito conhecidos, eu acredito que não" terão influência nas eleições, na medida em que, os dois principais concorrentes, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva "já têm a reputação consolidada, para o bem e para o mal", afirmou, em entrevista à Lusa.

"Não há mais de novo para falar do Lula, nem do Bolsonaro", disse Marcelo Vitorino, que já coordenou dezenas de campanhas políticas por todo o Brasil, para prefeitos, governadores, deputados, senadores e para a presidência com José Serra em 2010 e Geraldo Alckmin em 2018.

Segundo o especialista, "se existisse um candidato com uma posição menos consolidada, isso poderia acontecer. Mas um é o atual Presidente, o outro é o ex-Presidente".

As notícias falsas desempenharam um papel crucial nas eleições de 2018, que resultaram na vitória de Bolsonaro.

As campanhas eleitorais de 2018, especialmente as de Bolsonaro, foram objeto de investigações por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de várias queixas sobre a propagação massiva de notícias falsas.

O Presidente brasileiro, na opinião de Marcelo Vitorino, utilizou a lógica amadora de conteúdo, "fez um conteúdo amador usando da facilidade e do alcance que o WhatsApp tem no Brasil", conseguindo vocalizar a necessidade da mudança do sistema político.

Agora, para que esta tendência não se verificasse nas eleições de 02 de outubro, frisou o especialista em marketing político, "o WhatsApp aumentou o número de ações que fizeram diminuir a disseminação das `fake news`. O Facebook também para impulsionamento de conteúdo é muito mais complicado do que em 2018".

O Facebook e Instagram adotaram uma série de medidas para combater a desinformação, incluindo a eliminação quase imediata de "mensagens falsas", também através da inteligência artificial que acompanhará em tempo real mensagens falsas ou que violam a legislação eleitoral para serem eliminados do perfil dos autores "quase imediatamente".

A retirada de conteúdo que encoraja pessoas entre os 18 e os 70 anos a não votar, que contém discurso de ódio ou interfere com a votação e a exclusão de perfis falsos, mesmo que não tenham sido denunciados, estão entre as medidas adotadas.

Além disso, haverá um carimbo com acesso à página do TSE e um canal extrajudicial para tratar de queixas de crimes eleitorais no WhatsApp.

O esforço feito tanto pelas plataformas como pelo próprio TSE não foram acompanhados pelas campanhas.

"Os candidatos e partidos não se preparam. O que mudou foram as plataformas", disse o especialista, considerando existir desconhecimento de quem são os seus eleitores nas redes.

"Existe um aumento do uso da internet [nesta campanha], é um facto. Mas o que não existe é um uso profissional da internet", frisou, reforçando que um uso profissional foi feito sim por parte da campanha do ex-presidente norte-americano Donald Trump, tanto em 2016, como em 2020.

"O Trump preparou conteúdos específicos para públicos dentro da rede", algo que quer Lula, quer Bolsonaro, não fazem, disse, considerando que "estão na internet mas não estão a usá-la bem".

Voltando a 2018, o especialista disse que não foram as redes socais que fizeram de Bolsonaro vencedor, mas sim o conteúdo, já que "uma parte considerável da população queria um candidato conservador".

"Há muitos anos que ele fala a mesma coisa. Acontece que em 2018 até um relógio quebrado acerta duas vezes", concluiu.

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