Eleições na Turquia. Erdogan e Kiliçdaroglu acreditam na vitória à segunda volta

por Inês Moreira Santos - RTP
Kemal Kiliçdaroglu junto dos companheiros de coligação Umit Bektas - Reuters

A população turca acordou, esta segunda-feira, num contexto de incerteza política. Depois de milhões de pessoas terem ido às urnas no domingo, ainda não há resultados oficiais e uma segunda volta nas eleições presidenciais é o cenário mais provável. O candidato da oposição, o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu, prometeu derrotar o atual presidente na segunda ronda eleitoral. Já Recep Tayyip Erdogan considera que estas eleições mostram que o país é uma das principais democracias do mundo.

No poder há duas décadas, Erdogan não conseguiu a maioria absoluta que ambicionava e nenhum dos candidatos ultrapassou, sequer, os 50 por cento necessários para evitar repetir as eleições a 28 de maio. Kiliçdaroglu acredita que pode vencer na segunda volta e pediu paciência aos apoiantes da oposição, acusando o partido do atual chefe de Estado de interferir na contagem e divulgação dos resultados.

"Se a nossa nação pedir uma segunda volta, aceitaremos com prazer. E com certeza venceremos essa segunda volta", disse Kiliçdaroglu na última madrugada, na capital Ancara, rodeado por representantes da coligação inédita de seis partidos da oposição que o apoiam.

Erdogan, que está há 20 anos no poder na Turquia, tendo maioria absoluta desde 2014, "não conseguiu obter o resultado que esperava, apesar de todos os insultos" proferidos contra os rivais, sublinhou o opositor.
Cândida Pinto e Rodrigo Lobo, enviados especiais da RTP à Turquia

Embora pouco significativo, os resultados de Erdogan foram melhores do que as sondagens previam e o presidente mostrou-se, nas últimas horas, confiante de que conseguirá uma vitória se os turcos voltarem à urnas. E se nenhum dos candidatos conseguir ultrapassar 50 por cento dos votos, realizar-se-á mesmo uma segunda volta das eleições presidenciais, em 28 de maio.

"A necessidade de mudança na sociedade é superior a 50 por cento; temos absolutamente de vencer e instalar a democracia neste país", acrescentou Kiliçdaroglu.

Apesar de todas as mentiras e ataques, apontou o líder da oposição, Erdogan “não obteve o resultado desejado”.

“Nós definitivamente venceremos esta eleição na segunda volta. Toda a gente vai ver isso. Os resultados preliminares mostram que Erdogan não recebeu o voto de confiança do público que esperava”.
Erdogan confiante
Horas antes, Erdogan afirmou ter uma "clara vantagem" na corrida presidencial, não tendo afastado ainda a hipótese de obter a maioria absoluta na primeira volta. O atual presidente obteve 49 por cento dos votos, contra 44 por cento do principal adversário, mas precisa de 50 por cento para garantir a reeleição.

"Já estamos à frente do nosso opositor mais próximo por 2,6 milhões de votos. Esperamos que esse número aumente com os resultados oficiais", disse Erdogan ao início da noite de domingo.

E durante a madrugada, à medida que a realidade de uma maioria absoluta se ia afastando, manteve a postura confiante: "Embora os resultados não sejam ainda claros, lideramos a contagem com uma clara vantagem", acrescentando que graças ao voto no estrangeiro ainda tem a possibilidade de obter novamente a maioria.

Apesar disso, acrescentou que, se for necessário, está pronto para disputar uma segunda volta, afirmando: "Respeitamos este escrutínio e respeitaremos o resultado da próxima eleição".

"Não sabemos se isto vai acabar na primeira ou na segunda volta", disse ainda o islamita Erdogan.

O resultado provisório com 99 por cento das urnas abertas dá-lhe, por enquanto, apenas 49,4 por cento dos votos, mas indicou que há ainda que contabilizar os boletins dos cidadãos turcos residentes no estrangeiro, que costumam maioritariamente apoiá-lo. Na Alemanha, onde residem aproximadamente metade dos cidadãos turcos no estrangeiro, Erdogan obteve 65 por cento dos votos.

“Mesmo que os resultados finais não estejam disponíveis, estamos muito à frente”, repetiu. “Ainda não sabemos os resultados finais oficiais, ainda estamos à espera que a vontade da nação se manifeste”.
O facto de os resultados das eleições ainda não terem sido finalizados, continuou, “não diminui o facto de que a escolha da nossa nação é claramente a nosso favor”.

Segundo a contagem parcial divulgada pela agência de notícias oficial Anatólia, Kemal Kiliçdaroglu obteve até agora quase 45 por cento dos votos. Será a primeira vez em 20 anos, desde que está no poder na Turquia, que Erdogan se verá obrigado a disputar uma segunda volta.

"Pouco importa o resultado; 27 milhões de pessoas preferiram votar em nós", insistiu Erdogan perante os apoiantes, enquanto a contagem dos votos prossegue.

Kiliçdaroglu denunciou, contudo, durante a noite eleitoral que o partido de Erdogan, o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), "está continuamente a impugnar as atas da votação e a bloquear o sistema" de apuramento dos resultados nas regiões onde a oposição é mais forte.
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