Em todo o mundo são mortos 100 mil golfinhos por ano

por RTP
Wolfgang Rattay - Reuters

Cerca de 100 mil golfinhos e pequenos cetáceos são mortos por ano em todo o mundo. Para além de consumo próprio, a carne de golfinho serve também como isco para a caça de tubarões. O Perú ocupa o primeiro lugar na lista dos principais países caçadores de golfinhos.

Juntamente com as organizações Animal Welfare Institute e Whale and Dolphin Conservation, a Pro Wildlife – organização alemã de conservação de animais e natureza – publicou um relatório que alerta para o problema alarmante e assustador que consiste na caça a golfinhos.

Segundo o estudo, cerca de 100 mil golfinhos e pequenos cetáceos são mortos por ano. Os números são alarmantes e surpreendentes para os investigadores das organizações. Não só esperavam um número mais reduzido, como não previam que a lista de países que praticam a caça aos pequenos mamíferos marinhos fosse tão longa.

Os golfinhos e pequenos cetáceos, ao contrário das baleias, não se encontram protegidos pela Comissão Baleeira Internacional, responsável pelo controlo da prática da caça à baleia e pela proteção das espécies. Por sua vez, a carne de golfinho é utilizada para consumo humano ou como isco para a pesca de tubarão, atum e piracatinga.

Para o relatório, foram avaliados mais de 300 estudos científicos e reportagens publicadas em jornais, ao que apelidaram de “biblioteca de horror”De acordo com o relatório, no Perú, o número de golfinhos e pequenos cetáceos mortos atinge o número alarmante de 15 mil por ano, ocupando o primeiro lugar da lista de países com maior número de mamíferos marinhos mortos. Em segundo lugar está a Nigéria, com um registo de 10 mil golfinhos mortos. Milhares de golfinhos e pequenos cetáceos também morrem no Brasil, Venezuela, Madagáscar, Índia, Coreia do Sul e Malásia.

O Japão foi onde a caça de golfinhos se reduziu mais drasticamente. Desde 2000, o número de mamíferos marinhos mortos passou de cerca de 18.300 para 2.300 atualmente. O Japão ocupa, assim, o décimo lugar da lista.
Métodos de caça violentos
Os números são alarmantes, mas o que mais impressiona as organizações e ativistas dos direitos dos animais são os métodos de caça utilizados considerados “cruéis”. O sofrimento dos golfinhos é o principal motivo de condenação.

Os pequenos mamíferos marinhos são cercados por barcos e redes e posteriormente mortos com arpões, facas ou até mesmo dinamite, deixando um rasto de sangue que pinta o mar de vermelho. “O número de métodos [de caça] aumentou”, afirma Sandra Altherr, bióloga e cofundadora da Pro Wildlife.

Pescadores, em Taiji, cercam os golfinhos para posteriormente os matarem. Foto: Reuters
Pescadores em Taiji cercam os golfinhos antes de os abaterem.
Reuters

A cidade de Taiji, no Japão, é conhecida por ser um dos locais onde a prática acontece em grande escala. Todos os anos, os pescadores de Taiji matam centenas de golfinhos e outras dezenas são vendidos para parques aquáticos. A cidade japonesa e a sua caça anual ficaram sob os holofotes internacionais depois do lançamento do documentário “The Cove”, vencedor de um óscar, que retrata o massacre e caça de golfinhos em Taiji.

“Estes golfinhos são agredidos e empurrados para a baía da matança, onde já chegam com múltiplos ferimentos. Os assassinos passam propositadamente por cima dos animais com os barcos, agridem-nos, prendem-nos em redes para que não possam fugir e só depois os matam”, conta Melissa Sehgal, ativista do Sea Shepherd (organização americana focada na conservação dos seres marinhos), em declarações à Reuters.A caça de golfinhos aumentou consideravelmente em vários países da América Latina, África e Ásia

Habitantes da pequena comunidade japonesa, Taiji, quebraram o silêncio e responderam ao documentário “The Cave”. Em declarações ao The Guardian, os residentes locais defendem a captura de cetáceos pelo seu valor tradicional e como parte da sua cultura gastronómica.

“Nós não podíamos plantar arroz ou legumes aqui e não tínhamos abastecimento de água natural. Precisávamos de matar baleias para comer e centenas de pessoas morreram a fazer isso. Este foi um lugar em que era muito difícil sobreviver e sempre estaremos gratos aos nossos antepassados pelo seu sacrifício”, afirma Kazutaka Sangen, presidente de Taiji.

“Não temos vergonha de caçar golfinhos e nunca consideraríamos parar. É a parte mais importante da nossa tradição local”, defende Yoshifumi Kai, funcionário da cooperativa de pesca de Taiji.

“Olhe à sua volta…se não vivêssemos do mar não restaria mais nada. As pessoas dizem-nos constantemente para pararmos de caçar mamíferos marinhos e encontrar outra maneira de sobreviver. Mas o que faríamos em vez disso?”, acrescenta Kai.

O Japão não demonstra intenções de parar com a caça de cetáceo, argumentando que não existe nenhum acordo internacional que proíba a caça de golfinhos e que os animais não estão sob ameaça.
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