Embaixador americano sublinha dimensão geoestratégica do TTIP

por Paulo Alexandre Amaral, Pedro A. Pina - RTP
Pedro A. Pina - RTP

O embaixador dos Estados Unidos em Lisboa reconhece que o TTIP é mais do que um tratado económico. Em entrevista à RTP, Robert Sherman vê o Tratado Transatlântico como uma negociação geoestratégica que vai definir padrões para as relações de trabalho, ambiente e propriedade intelectual a nível global.

À questão sobre se o TTIP – Tratado Transatlântico em preparação por Washington e Bruxelas – é apenas um acordo económico negociado no âmbito das trocas comerciais e de serviços entre os dois lados do Atlântico, o embaixador Robert Sherman respondeu que não, “de maneira nenhuma, é uma negociação geoestratégica que vai estabelecer padrões ambientais, padrões para o mundo do trabalho, que vai definir a proteção da propriedade intelectual para o resto do mundo”.

“É importante perceber que ou os europeus e os americanos definem esses padrões para o resto do mundo ou o resto do mundo vai definir esses padrões para nós. E eu prefiro estar alinhado com os nossos parceiros europeus e definir os padrões para o resto do mundo”.

Na verdade, o texto que está a ser negociado entre as partes é ambicioso e traduz um desenhado para perdurar por décadas. O que justifica uma atenção particular ao desenvolvimento dos encontros entre representantes dos Estados Unidos e União Europeia para perceber o estado das negociações.

As acusações de rondas mantidas durante anos a fio em segredo foram rejeitadas por Robert Sherman, que fala em transparência e inexistência de linhas escondidas no draft do Acordo.

“Penso que estas são uma das negociações mais transparentes da história”. O embaixador admite, contudo, “que as leis são muito difíceis de entender e este acordo é uma lei. É um tratado entre dois países e está escrito na linguagem de legislador… Tirando isso, não há qualquer intenção de esconder as provisões do acordo. Toda a gente sabe, neste momento, o que está no acordo. A questão é que este é um documento legal e tem de ser escrito de acordo com esses preceitos”.
Brexit

Quanto ao desfecho do referendo britânico sobre a União Europeia, o diplomata entende que “nada se altera”.

“O que significa é que deve haver mais atenção. O Reino Unido, enquanto não deixar a União Europeia, continua a ser parte dos 28 e parte das negociações. Vai demorar alguns anos para que esteja cumprido o programa do Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia] e enquanto isso, se tudo correr bem, a negociação do TTIP estará concluída”.

O TTIP, acrónimo para Parceria Transatlântica para o Comércio, surge como um complemento aos tratados negociados entre os Estados Unidos e 11 países da região da Ásia-Pacífico (TTP) e da própria União Europeia com o Canadá (CETA). Visa integrar o Continente Europeu na forja da maior região de comércio mundial para as próximas décadas. Em causa estão 800 milhões de consumidores e metade do PIB mundial.

Robert Sherman é um dos embaixadores do grupo diplomático com um mandato especial do Presidente norte-americano, Barack Obama, para promover junto dos parceiros europeus o Tratado Transatlântico.

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