É o primeiro discurso do sucessor de Robert Mugabe, Emmerson Mnangagwa, após regressar ao país esta quarta-feira.
Mnangagwa, seu vice-presidente até há duas semanas, foi destituído a 6 de novembro e fugiu para a África do Sul, tendo regressado agora para assumir a liderança.
"Hoje, assistimos ao início de uma nova democracia", lançou entre vivas de centenas de apoiantes reunidos frente à sede da Zanu-PF, o maior partido do Zimbabué, em Harare.
"Necessitamos da cooperação da comunidade internacional e estou já a receber apoios", acrescentou Mnangagwa.
"O povo falou. A voz do povo é a voz de Deus", prosseguiu, apelando "todos os zimbabueanos a trabalhar juntos".
"Queremos fazer crescer a nossa economia, queremos paz, queremos empregos" afirmou à multidão.
Envenenamento
Mnangagwa afirmou ainda que escapou de uma tentativa de assassinato durante o verão.
"A 12 de agosto", afirmou, "fui alvo de envenenamento que resultou na minha transferência por avião para a África do Sul".
O Presidente designado era o maior obstáculo às pretensões da Primeira Dama do Zimbabué, Graça Mugabe, de ascender à suprema liderança do país.
"Agradeço-vos, povo do Zimbabué, as vossas orações. Sobrevivi ao envenenamento", disse Mnangagwa, justificando depois o golpe militar que afastou Mugabe e o colocou na sucessão direta.
"Desta vez, disse a mim mesmo que não deveria esperar que eles me eliminassem mas deixar-me sair e convosco, povo do Zimbabué, fazer ouvir a vossa voz" afirmou.
"Hoje, esta noite, sinto-me tão humilde ao ver que permaneceram aqui até esta hora na nossa sede à minha espera, para me ver e para eu vos ver", acrescentou.
Posse sexta-feira
Na noite de 14 para 15 de novembro, dias depois da destituição de Mnangagwa, o exército tomou conta da capital do Zimbabué, Harare, e colocou o então Presidente, Robert Mugabe, sob prisão domiciliária.
Começaram então as negociações para afastar Mugabe do poder. O Presidente, de 93 anos e há 37 no poder, resistiu até terça-feira.
A falta de apoio do exército e do partido, que domingo o destituiu de todos os cargos e terça-feira deu início a um processo de destituição na Assembleia Nacional, acabou por ter a última palavra.
Emmerson Mnangagwa foi designado para o substituir. Deverá assumir o cargo na sexta-feira, acto já confimado pela televisão estatal do Zimbabué, a ZBC.
Um porta-voz do partido no poder, a Zanu-PF, disse que Mnangagwa, de 71 anos e considerado herói da guerra da independência, irá cumprir o que resta do mandato de Mugabe, até às eleições marcadas para setembro de 2018.
De acordo com a constituição do Zimbabué, o papel do sucessor de Mugabe deveria caber a um vice-presidente em exercício e ainda há um candidato: Phelekezela Mphoko, um aliado-chave de Graça Mugabe, mulher do Presidente e que este havia designado como sua sucessora.
Contudo, Mphoko foi destituído pela Zanu-PF e acredita-se que tenha fugido do país. Na sua ausência, o partido nomeou Mnangagwa, confirmou o presidente do Parlamento.
O 'crocodilo'
O novo Presidente do Zimbabué é conhecido como o "crocodilo" devido à sua habilidade política,
Durante o seu breve exílio, apelou aos seus concidadãos a unir-se para reegerguer o país.
"Juntos, iremos garantir uma transição pacífica para a consolidação da nossa democracia e trazer um novo começo a todos os zimbabueanos e apoiar a paz e a unidade", afirmou terça-feira ao jornal do Zimbabué NewsDay.
Mnangagwa reuniu-se com o Presidente da África do Sul, Jacob Zunma, antes de partir para Harare.
Apesar das promessas e das celebrações, a maioria dos analistas acredita que a ascenção de Mnangagwa não irá trazer mudanças significativas à vida política ou ao regime que vigoram no Zimbabué.
Mnangagwa era o principal responsável da pasta da Segurança, quando milhares de civis morreram na guerra pós independência dos anos 80 do século passado. O Presidente designado sempre negou qualquer responsabilizade no morticínio.
Foi durante anos o braço direito de Mugabe, leal ao líder e apenas reagiu contra o Presidente para evitar a ascenção de Graça Mugabe, mulher de Robert Mugabe e sua arqui-rival.
Esta foi uma luta pelo poder e não pela democracia, referem.
Contudo, o novo Presidente já está a ser pressionado para seguir um rumo diferente. Os apoios financeiros e investimentos internacionais de que o país necessita desesperadamente para reeguer a economia não serão fáceis de conseguir sem programas de mudança efetiva.