Entre a despedida do PR e o "friozinho" da primeira vez

por Lusa

O forte aparato policial e militar em redor da escola primária de São José de Clunny, centro de Luanda, onde funciona a Assembleia de Voto n.º 1047, é sinal, como sabe quem vive na cidade, que a chegada de José Eduardo dos Santos está iminente.

O chefe de Estado vota pela última vez, em funções, mas para Matilde Gonçalo, uma jovem estudante de 22 anos, que vota no mesmo local, o nervosismo é outro.

"Sinto-me especial por ser a primeira vez. Dá um friozinho, mas é de leve. Foi rápido", conta à Lusa.

Acompanhada do pai e da prima, não esconde a emoção do "dia histórico" de hoje, já que Angola vai ter um novo Presidente.

"Os partidos estão mesmo fortes. Vamos esperar os resultados para ver como fica a situação. Mais nervosa ainda", atira, mas deixando escapar um sorriso de orelha a orelha.

Enquanto orgulhosamente mostra o dedo indicador pintado, com tinta indelével, a prova da sua estreia em votações, a prima, Solange Moangongo, 20 anos, também já chega de votar na escola São José de Clunny.

"Sinto-me adulta, porque pela primeira pude exercer o meu direito de voto e espero que o meu voto faça a diferença nestas eleições. Nervosa sim, mas é como tudo. Não há como estar porque é o futuro do país", confessa.

Ao lado está o antigo guerrilheiro Gonga Gonçalo, 65 anos, pai de Matilde.

É a quarta vez que vota em eleições em Angola, tantas quantas as que o país já conheceu, mas garante que esta é a "mais forte".

"O povo está mais ansioso, está todo contente, para escolhermos o novo dirigente. É mesmo um dia muito importante para o país", afirma.

Pela importância do dia, garante que ninguém fica em casa: "Aqui vim votar com a minha filha e a minha sobrinha, as minhas outras filhas foram votar noutro sítio. Hoje ninguém fica sem votar".

Enquanto no interior da escola vota José Eduardo dos Santos, o chefe de Estado que cessa funções nestas eleições, ao fim de 38 anos, Maria Ferreira, uma administrativa de 61 anos, agradece pelo dia em que vota pela terceira vez.

"Louvor a ele. Esta paz toda, hoje acordamos tudo calminho. Podemos dizer que teve muita coisa errada, mas houve muitas melhorias. A calma dele para não voltar isso tudo de destruir", desabafa, emocionada com esta "data histórica".

Naquela Assembleia de Voto, a n.º 1047, Maria Ferreira vê sobretudo os mais velhos a votar.

"Preocupa-me porque eles [os jovens] são os continuadores disto. Nós a qualquer momento vamos embora", atira.

A votação para as eleições gerais em Angola iniciou-se à 07:00 de hoje (mesma hora em Lisboa), disse à Lusa a porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Júlia Ferreira.

"Já se vota em Angola desde as sete da manhã", disse a porta-voz da CNE.

Mais de 9,3 milhões de angolanos estão inscritos para escolherem hoje, entre seis candidatos, o sucessor de José Eduardo dos Santos - que não integra qualquer lista candidata -, com a votação a decorrer até às 18:00.

Esta votação envolve a eleição direta do parlamento (220 deputados) e indireta do Presidente da República, que será o cabeça-de-lista do partido mais votado.

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