Na sequência da onda de protestos que dura há quase uma semana, o Presidente do Equador transferiu a sede do Governo da capital para Guayaquil. A contestação nas ruas contra o aumento do preço dos combustíveis já fez centenas de detenções e o Governo equatoriano mostra-se aberto a mediação externa.
Depois de ter sido declarado o estado de emergência, o presidente equatoriano, Lenín Moreno, transferiu a sede do Governo de Quito para a cidade portuária de Guayaquil.
Em declarações a uma rádio local, Lenín Moreno considerou que a resposta a este cenário de contestação passa unicamente pelo “diálogo e firmeza” e revelou que o Governo equatoriano estava aberto a mediação externa, através das Nações Unidas ou da Igreja Católica.
Troca de acusações entre Moreno e Correa
Numa declaração televisiva, Lenín Moreno diz que "este não é um protesto de insatisfação social perante uma decisão do Governo" e acusa a oposição, mais concretamente o antigo presidente do Equador Rafael Correa, de estar a liderar as manifestações com a ajuda do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.Esta é a maior contestação dos últimos anos no Equador, com um registo de 570 detenções até ao momento.
Na opinião de Moreno, “nas imagens fica evidente que os mais violentos, aqueles que atuam com a única intenção de agredir e danificar, são indivíduos externos, pagos e organizados”.
“Acham que é coincidência que Correa, Vírgilio Hernández, Patiño e Pabón tenham viajado ao mesmo tempo para a Venezuela há poucas semanas? Os subordinados de Maduro ativaram juntamente com Correa o seu plano de desestabilização”, argumentou o presidente equatoriano.
“Eles querem transformar o Equador na Venezuela”, acusou ainda Juan Roldan, um assessor de Moreno.
Rafael Correa, que contava com o apoio de Moreno durante a sua governação, já respondeu às acusações, negando qualquer envolvimento e tentativa de golpe.
“São tão mentirosos … Eles estão a dizer que eu sou poderoso ao ponto de conseguir liderar os protestos através de um iPhone em Bruxelas”, disse Correa à agência Reuters em Bruxelas, onde vive atualmente depois de ter pedido asilo na sequência de acusações de envolvimento no rapto do político Fernando Balda.
“As pessoas não aguentavam mais, essa é a realidade”, insinuou o antigo presidente equatoriano, referindo-se às medidas de austeridade impostas por Moreno desde que assumiu a presidência, em 2017.
“O Governo já caiu”
“Moreno está acabado, como acontece a todos os traidores, mais cedo ou mais tarde”, escreveu Correa num tweet.
Num contínuo discurso crítico a Moreno, Correa diz que “o Governo já caiu” e não acredita que o presidente do Equador possa regressar a Quito enquanto os protestos ainda subsistem.
Moreno está acabado, como le pasa a todo traidor tarde o temprano.
— Rafael Correa (@MashiRafael) 8 de outubro de 2019
Otto, muchacho desconocido nombrado por las élites solo por ser de “buena cuna”, no tiene ninguna legitimidad para gobernar. Nadie lo eligió.
Ya piensen en ECUADOR, y llamen a elecciones.#YoTambienSoyZangano https://t.co/zrkEBwOaTu
Num contínuo discurso crítico a Moreno, Correa diz que “o Governo já caiu” e não acredita que o presidente do Equador possa regressar a Quito enquanto os protestos ainda subsistem.
“Porque é que não anunciam eleições antecipadas?”, questionou Correa, desafiando os equatorianos a exercerem o seu direito de resistir ao que ele apelida de “opressão governamental”.
Neste cenário de convocação de eleições antecipadas, o antigo presidente equatoriano revelou estar disposto a retornar ao Equador enquanto candidato.
“Se for necessário, eu irei voltar. Teria de me candidatar a alguma coisa, a vice-presidente, por exemplo”, declarou Correa à Reuters.
Queda na produção de petróleo
Os protestos no Equador eclodiram na passada quinta-feira, altura em que o Governo anunciou o corte dos subsídios aos combustíveis como parte de um pacote de reformas impostas pelo FMI para reduzir o défice fiscal.
Os manifestantes chegaram mesmo a bloquear os poços de petróleo. Três das instalações de extração de petróleo bloqueadas representam 12 por cento da produção petrolífera do Equador, o equivalente a 63 mil barris de petróleo por dia.
No caso particular da empresa petrolífera estatal equatoriana Petroamazonas, estima-se que esta onda de protestos provoque a perda de 165 mil barris por dia – uma queda de um terço na produção.