Estado Islâmico a usar civis como escudos em Mossul

por RTP
Andres Martinez Casares - Reuters

A BBC teve acesso às missões de helicóptero do exército iraquiano contra combatentes do autoproclamado Estado Islâmico em Mossul, no norte do Iraque. A repórter testemunhou a utilização de civis como escudos humanos, para assim dissuadirem as forças iraquianas de dispararem.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), pelo menos 307 civis foram mortos e 273 feridos, no oeste de Mossul, entre os dias 17 de fevereiro e 22 de março. Os combatentes do autoproclamado Estado Islâmico reúnem os civis em edifícios, criando escudos com os mesmos. E disparam contra aqueles que tentam fugir.

No vídeo da jornalista Nafiseh Kouhnavard, publicado pela BBC, ouvem-se comunicações que demonstram que um homem armado se encontra junto a uma mulher e uma criança, impedindo assim o helicóptero de disparar facilmente sobre o alvo.



Também o jornalista Feras Kilani, da BBC, dirigiu-se a Mossul para se juntar a uma equipa de militares iraquianos que caça atiradores do autoproclamado Estado Islâmico. Ambos os vídeos foram partilhados esta segunda-feira nas redes sociais.



Segundo testemunhos de pessoas que conseguiram escapar da zona de combate, os jihadistas obrigam civis a permanecerem nas suas habitações, enquanto estes se posicionavam com armamento nos tetos das casas.

Após detetá-los, as forças da coligação bombardeavam os edifícios matando os jihadistas e consequentemente os civis. Se estes não fossem atingidos, acabariam por morrer com a explosão de artefatos improvisados, colocados propositadamente pelos extremistas.

O porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville, referiu recentemente em Genebra que “as testemunhas afirmaram serem obrigadas a acompanhar os terroristas pelas ruas e que estes informaram os civis que a melhor coisa que poderiam fazer era morrer pelo califado".“É um inimigo que explora civis”
O representante permanente da Jordânia na ONU, Zeid Al-Hussein, referiu que "este é um inimigo que explora impiedosamente os civis para os seus próprios fins e claramente não tem escrúpulos ao colocá-los em perigo. A coligação internacional tem que ter mais cuidado ao planear os ataques, pois é vital que as forças de segurança evitem essas armadilhas”.

Hussein condenou a estratégia jihadista de "utilizar crianças e adultos como escudos", considerando este tipo de atitude "cobarde e vergonhosa, já que as ações desrespeitam os padrões mais básicos de dignidade humana e de senso moral”.

“A conduta de ataques aéreos contra os habitantes locais pode potencialmente ter um impacto letal e desproporcional”, acrescentou.

O representante pediu ainda ao Governo iraquiano e à coligação liderada pelos Estados Unidos que revissem as táticas em Mossul para “poupar civis que são colocados em risco pelo autoproclamado Estado Islâmico”.

Desde que as operações de Mossul começaram, em outubro, quase 286 mil pessoas ficaram desalojadas. Os dados são da Organização Internacional para Migrações.
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