Estados Unidos anunciam formação de equipas de "alto nível" para negociar a paz na Ucrânia

por Joana Raposo Santos - RTP
Na visão do secretário de Estado dos EUA, todos devem ter um lugar à mesa das negociações sobre a Ucrânia. Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia via EPA

Realizou-se esta terça-feira, em Riade, na Arábia Saudita, o primeiro encontro entre os chefes das diplomacias dos Estados Unidos e da Rússia, Marco Rubio e Serguei Lavrov. A delegação norte-americana fez saber que serão agora compostas equipas para negociar os termos do fim da guerra entre russos e ucranianos, estando prevista a inclusão da Ucrânia e da Europa nesse processo.

"Hoje deu-se o primeiro passo de uma longa e difícil jornada, mas foi um passo importante", declarou o secretário de Estado Marco Rubio após as conversações em Riade.

Marco Rubio disse ainda que Trump quer avançar rapidamente para tentar pôr fim à guerra e que o objetivo é um acordo justo e "que obviamente inclua a Ucrânia, mas também nossos parceiros na Europa e, é claro, o lado russo também".

Na visão do secretário de Estado dos EUA, todos devem ter um lugar à mesa das negociações sobre a Ucrânia, incluindo a União Europeia. "Há outras partes que têm sanções [contra a Rússia], e a União Europeia terá de se sentar à mesa de negociações, porque também tem sanções", explicou.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou esta terça-feira que "nem a Rússia nem a Ucrânia podem vencer no campo de batalha".
Nesse sentido, as duas partes nomearam equipas de alto nível para trabalhar na resolução do conflito na Ucrânia "o mais rapidamente possível, de uma forma que seja duradoura, sustentável e aceitável para todas as partes", adiantou a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce.

Além disso, Rubio e Lavrov concordaram em "lançar as bases para uma futura cooperação sobre questões geopolíticas de interesse comum e sobre as oportunidades económicas e de investimento históricas que surgirão de uma resolução bem sucedida do conflito na Ucrânia".
Zelensky frisa que não há acordo sem a Ucrânia

Já no final da reunião, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky criticou o facto de o encontro entre os EUA e a Rússia ter contemplado uma conversa "sobre a Ucrânia, sem a Ucrânia".

Já no final da reunião, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky criticou o facto de o encontro entre os EUA e a Rússia ter contemplado uma conversa "sobre a Ucrânia, sem a Ucrânia"."Não haverá qualquer decisão sobre o fim da guerra sem a Ucrânia", insistiu Volodymyr Zelensky.

"As negociações não devem acontecer nas nossas costas", alertou o líder da Ucrânia, acrescentando que também a Europa e a Turquia - onde está esta terça-feira em visita - devem ser envolvidas na discussão acerca do fim da guerra.

"A Ucrânia e a Europa no sentido mais lato - que inclui a União Europeia, a Turquia e o Reino Unido - devem participar nas discussões com a América e na elaboração das garantias de segurança necessárias relativamente ao destino da nossa parte do mundo", afirmou durante a visita à Turquia.

Zelensky salientou ainda que "a falta de vontade dos Estados Unidos e de vários países europeus" de que a Ucrânia se torne membro da NATO "coincide com o desejo da Rússia".

O presidente ucraniano adiantou que a sua visita à Arábia Saudita, inicialmente agendada para esta quarta-feira, foi adiada para 10 de março.
Presença de tropas da NATO seria "inaceitável"
O ministro russo dos Negócios Estrageiros afirmou, por sua vez, que a eventual adesão da Ucrânia à NATO seria inaceitável, assim como o destacamento de tropas de membros da Aliança Atlêntica, mesmo que estivessem a operar no terreno sob uma bandeira diferente.

"Explicámos hoje aos nossos colegas o que o presidente Putin tem repetidamente sublinhado: que a expansão da NATO, a absorção da Ucrânia pela Aliança do Atlântico Norte, é uma ameaça direta aos interesses da Federação Russa, uma ameaça direta à nossa soberania", sublinhou.

"Explicámos hoje que o aparecimento de forças armadas dos mesmos países da NATO, mas sob uma bandeira falsa, sob a bandeira da União Europeia ou sob bandeiras nacionais, não muda nada a este respeito. É claro que isto é inaceitável para nós".

Serguei Lavrov disse estar convencido de que os Estados Unidos começaram a "compreender melhor" a posição de Moscovo após a reunião desta terça-feira na Arábia Saudita.

"Tenho razões para acreditar que os americanos começaram a compreender melhor a nossa posição", declarou em conferência de imprensa, descrevendo a conversa como "útil". "Não nos limitámos a ouvir, ouvimo-nos uns aos outros", acrescentou.
Não há data para encontro entre Putin e Trump

O Departamento de Estado afirmou que a reunião foi um passo importante num processo que está ainda numa fase inicial. "Um telefonema [entre Donald Trump e Vladimir Putin] seguido de uma reunião não é suficiente para estabelecer uma paz duradoura", explicou a porta-voz do Departamento de Estado.

Nas quase cinco horas de reunião, os dois homens determinaram que será estabelecido um mecanismo que permita debater "temas sensíveis à relação bilateral" entre Rússia e Estados Unidos, com o objetivo de normalizar as relações diplomáticas.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, que também fez parte da delegação dos EUA, transmitiu por sua vez aos jornalistas que não foi definida qualquer data para uma cimeira entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin.

c/ agências
PUB