Etiópia anuncia tomada da capital de Tigray enquanto TPLF promete resistir

por Graça Andrade Ramos - RTP
Patrulha sudanesa vigia o êxodo de milhares de etíopes em fuga da região de Tigray, em novembro de 2020 Reuters

Após um dia de bombardeamentos, o exército federal da Etiópia garantiu ter recuperado este sábado o controlo de Mekele, capital regional da província de Tigray, no norte do país. O líder das forças locais da Frente Popular de Libertação do Tigray, TPLF, garantiu entretanto que não se irá render.

Em resposta a uma mensagem de texto da agência Reuters, o líder das TPLF respondeu que as suas forças não irão desistir de combater as tropas etíopes.

"A sua brutalidade só pode acrescer a nossa vontade de lutar contra estes invasores até ao fim" respondeu Debretsion Gebremichael. À pergunta se isso significava que as suas forças iriam continuar a combater, respondeu, "Certamente. Trata-se de defender o nosso direito a auto-determinação".

Não é contudo ainda a resposta oficial ao anúncio, ao início da noite, do primeiro-ministro etíope.

Abiy Ahmed garantiu que as operações iniciadas dia 4 de novembro conseguiram recuperar o controlo da capital de Tigray, de 500 mil habitantes, uma etapa que considerou "decisiva" para o regresso da província ao controlo central."O governo federal assumiu agora o controlo total da cidade de Mekela", declarou Abiy num comunicado publicado na rede Twitter. É a conclusão da "fase final" as operações militares, acrescentou.

"O aeroporto, as instituições públicas, a sede da administração regional e outros locais críticos" são agora controlados pelo exército, frisou Abiy.

O exército "prossegue a operação com precisão e o cuidado necessário", sublinhou, "de forma a garantir que os civis não são atingidos", e que assumiu o controlo administrativo da região no norte do país.
Abiy garantiu que a população da província apoiou o esforço das tropas federais "sob todos os quadrantes" e afirmou depois que as operações militares foram concluídas e que terá agora início o esforço de reconstrução de Tigray.
Controlo total de Mekele
O Governo etíope fez um ultimatum à Frente Popular para se retirar de Mekele para se render ou enfrentar um assalto à cidade, que expirou quarta-feira.

Mekele foi alvo de um bombardeamento intenso ao longo de todo o dia de sábado, mas não foram referidas eventuais vítimas da ofensiva nem se o arsenal da Frente Popular, um dos principais objetivos do exército federal, foi destruído ou apreendido.

Berhanu Jula, general etíope que lidera a ofensiva, afirmou numa mensagem difundida pela televisão oficial etiope EBC, que o "exército persegue os membros do TPLF que se escondem".

Mais de 7.000 membros do Comando do Norte do exército federal foram entretanto libertados, anunciou ainda. As notícias sobre o que se passa no terreno são difíceis de verificar de forma independente. Enquanto as forças federais dizem estar a caçar os membros da Frente Popular, a versão das forças de Tigray é diferente a fala apenas em recuo tático dos arredores de Mekele.

Vários analistas admitem que a próxima fase do conflito será de guerrilha.

O primeiro-ministro Abiy Ahmed recusou sempre qualquer mediação, acusando a FPLF de iniciar a guerra com um ataque a uma base de tropas federais em Tigray. A TPLF afirma que o ataque foi preventivo.

A região de Tigray tem uma história de resistência de guerrilha ao longo dos anos 80 do século XX, contra um Governo de cariz marxista, permitida em grande parte pelo tipo de terreno e proximidade de fronteiras de países vizinhos.

O conflito entre as forças da Frente Popular e o exército federal etíope fez tremer a região, conhecida como o Corno de África, nas últimas três semanas. Apesar da confiança demonstrada pelo exército federal, poderá não estar concluída.

Cerca de 44.000 homens, mulheres e crianças etíopes fugiram dos combates em Tigray para o vizinho Sudão, de acordo com a agência oficial sudanesa Suna, havendo igualmente registo de dezenas de mortos.

Uma "crise humanitária em grande escala" está a acontecer na fronteira entre o Sudão e a Etiópia, de onde milhares de pessoas fogem diariamente devido à operação militar em curso em Tigray, disseram há 10 dias as Nações Unidas.
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