Etiópia em risco de "entrar numa guerra civil cada vez maior", alerta ONU
Perante a intensificação do conflito nos últimos dias, a subsecretária-geral da ONU para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, alertou para os riscos de a Etiópia entrar numa espiral de guerra civil e para as consequências devastadoras com o agravamento da violência e das crises que afetam a região do Corno de África. Apesar da "muita especulação" sobre a crise etíope, "ninguém consegue prever o que a luta contínua e a insegurança trarão", advertiu ainda a responsável das Nações Unidas.
Na semana passada, recordou Rosemary DiCarlo, o gabinete para os Direitos Humanos da ONU relatou graves violações de todas as partes envolvidas no conflito, que podem representar crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
"O que é certo é que o risco de a Etiópia entrar numa guerra civil cada vez maior é bastante real. Isso pode levar a uma catástrofe humanitária e consumir o futuro de um país tão importante", redigiu.
Além disso, as repercussões políticas da "intensificação da violência em toda a região seriam imensas, agravando as muitas crises que assolam o Corno da África".
Ajuda humanitária
“Nenhum camião de ajuda chegou a Mekelle desde 18 de outubro, devido aos contínuos ataques aéreos”, afirmou Rosemary DiCarlo, acrescentando que desde os ataques a 22 de outubro na capital regional de Tigray, os voos do Serviço Aéreo Humanitário da ONU permaneceram suspensos e que os embarques de combustível estão bloqueados desde agosto.
Embora alguns mantimentos e bens essenciais de emergência tenham sido transferidos, já se passaram quatro meses desde o último grande carregamento de medicamentos e materiais médicos a Tigray.
“A falta de acesso significa que as organizações humanitárias tiveram que reduzir as atividades essenciais que salvam vidas, incluindo o transporte de água, a distribuição de alimentos, as clínicas móveis e apoio a crianças e mães com desnutrição aguda”, esclareceu.
O relatório afirma que “crimes de guerra e crimes contra a humanidade podem ter sido cometidos”, além de descrever “as medidas que devem ser tomadas para garantir a responsabilização por esses atos”.
ONU apela a "cessação imediata das hostilidades"
Citando o Secretário-Geral da ONU, o Presidente da Comissão da União Africana Faki, o Secretário Executivo da IGAD Workneh, o Presidente do Quénia, Ururu Kenyatta, e o Conselho de Segurança da ONU, Rosemary DiCarlo declarou que “deve haver uma cessação imediata das hostilidades”.
"There must be an immediate cessation of hostilities." Addressing the Security Council, USG @DicarloRosemary stressed the urgent need for negotiation of a lasting ceasefire in #Ethiopia and the creation of conditions for an inclusive dialogue. Full remarks:https://t.co/TRTQiF4T8j pic.twitter.com/WIJnSgGoQ1
— UN Political and Peacebuilding Affairs (@UNDPPA) November 8, 2021
Os vários responsáveis, assim como a comunidade internacional, apelaram também “à negociação de um cessar-fogo duradouro e à criação de condições para um diálogo inclusivo na Etiópia para resolver a crise e criar as bases para a paz e estabilidade em todo o país”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tem estado em contacto frequente com o primeiro-ministro etíope, e apelado “à contenção e ao diálogo, disponibilizando os seus bons ofícios”. O Secretário-Geral ofereceu também “ao presidente Obasanjo o total apoio das Nações Unidas aos seus esforços para resolver o conflito”.
“Os colegas da ONU no terreno continuam a exortar todas as partes neste conflito a mostrarem moderação e a permitirem o acesso irrestrito às populações vulneráveis”.
Já em tom de conclusão, a subsecretária-geral da ONU deixou claro que as Nações Unidas estão “firmemente comprometidas em permanecer e realizar ações na Etiópia em apoio a todo o povo do país”.
“A Etiópia, membro fundador das Nações Unidas, precisa do nosso apoio. Exortamos os etíopes a unirem-se para construir um futuro próspero e compartilhado antes que seja tarde demais”, concluiu.