EUA acusam três homens de tentar assassinar ativista iraniana em solo americano

por Graça Andrade Ramos - RTP
O Irão contratou uma equipa de assassinos para matar a ativista e jornalista Mahsi Alinejad em Nova Iorque Reuters

O Departamento da Justiça dos Estados Unidos anunciou esta sexta-feira a detenção e acusação de três homens suspeitos de integrar uma conspiração iraniana para assassinar Masih Alinejad, uma dissidente iraniana com cidadania norte-americana.

Alinejad critica abertamente o regime de Teerão.

Um tribunal federal de Nova Iorque acusou Rafat Amirov, Polad Omarov e Khalis Mehdiyev, com base em alegações de assassínio a soldo e lavagem de dinheiro.

Os três homens integram uma organização criminal da Europa de Leste, de acordo com o Departamento de Justiça.

“Estas acusações têm origem numa investigação em curso aos esforços do Governo do Irão para assassinar em solo norte-americano, uma jornalista, autora e ativista dos direitos humanos, que é uma cidadã norte-americana de origem iraniana”, explicou o procurador-geral Merrick Garland durante uma emissão televisiva.

“O Departamento da Justiça não vai tolerar tentativas de qualquer regime autoritário para fragilizar a proteção e a regra do direito nas quais se baseia a nossa democracia”, frisou.
"Não temo"
A visada mostrou-se desafiadora, numa publicação na rede social Twitter, dizendo ter acabado de ser informada das acusações por membros do FBI.

"A República Islâmica é o ISIS com petróleo", acusou, referindo-se à organização terrorista Estado Islâmico, que conseguiu controlar durante meses partes da Síria e do norte do Iraque.

“Não temo pela minha vida”, garantiu Masih Alinejad numa gravação vídeo a comentar o sucedido.

“Deixem-me esclarecer: eu não temo pela minha vida, porque eu sei que assassinar, torturar, violar, está no ADN da República Islâmica”, afirmou. 


Na mesma intervenção, Masih Alinejad lembrou as vítimas da repressão "desta nova revolução" no seu país de origem, apelando aos Estados Unidos para não esmorecerem na sua defesa de quem luta pela sua liberdade.“Não se pode negociar com um regime terrorista” sublinhou.

Agradecendo a ação do FBI, a dissidente lembrou que "este é tempo de lutar pelos inocentes no Irão a quem ninguém protege" e a quem prometeu "continuar a dar voz".

A jornalista e ativista avisou ainda que qualquer falha em agir irá desembocar num incrementar das atividades terroristas em solo americano.

“Se não reagirmos com firmeza agora, iremos enfrentar mais e mais estes terroristas em solo norte-americano”, avisou.

As reações ao anúncio do Departamento de Estado não se fizeram esperar.

Muitos mostraram-se perturbados com as ameaças "transnacionais" que a conspiração revela com outros a deplorarem o financiamento de Teerão destes assassínios perante as dificuldades vividas pelos iranianos no próprio país.

"É um tributo para Masih Alinejad que o Irão tenha contratado uma equipa de assassinos para a eliminar em Nova Iorque", argumentou um terceiro.
Outras ameaças
Rafat Amirov, iraniano, foi detido terça-feira nos Estados Unidos, enquanto Omarov, com o alias Araz Aliyev, foi preso na Chéquia dia 4 de janeiro. Os Estados Unidos requereram a sua extradição. Já Mehdiyev foi detido nos EUA a 29 de julho de 2022.

Após a divulgação das acusações, o conselheiro para a Segurança Nacional, Jake Sullivan, criticou o “padrão preocupante” de esforços patrocinados pelo Governo de Teerão para assassinar, torturar e intimidar até ao silêncio ativistas que defendem a liberdade de iranianos no mundo inteiro.

A vice-procuradora-geral, Lisa Monaco, afirmou que o Irão se mantém uma ameaça aos Estados Unidos através das suas redes e representantes.

O incidente, referiu Monaco, expõe uma ameaça perigosa à segurança nacional, uma “dupla ameaça representada por um grupo criminoso transnacional operando a partir do que pensava ser um refúgio seguro numa nação trapaceira”.

A vice-procuradora-geral lembrou que no ano transato, os Estados Unidos acusaram membros do IRGC – Os Guardas da Revolução do Irão – de conspiração para matar o conselheiro para a segurança John Bolton.

Outras individualidades sob ameaça nos Estados Unidos são o ex-secretário de Estado, Mike Pompeo, e o ex-enviado-especial para o Irão, Brian Hook. Ambos os diplomatas continuam sob proteção federal em resposta a pedidos do Departamento de Estado a ameaças em curso.
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