EUA alertam para consequências "terríveis" em caso de um ataque russo à Ucrânia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Joshua Roberts - Reuters

Os Estados Unidos alertaram que uma invasão russa à Ucrânia seria “horrível” para ambos os lados, com um número significativo de vítimas. Washington afirma, porém, que o conflito “não é inevitável” e apela à diplomacia.

As tensões entre a Rússia e a Ucrânia continuam a aumentar e os EUA insistem que estamos perante um iminente ataque russo a Kiev, à medida que cerca de 100 mil soldados russos se encontram estacionados na fonteira com a Ucrânia.

Durante uma conferência de imprensa no Pentágono, o principal general dos EUA, Mark Milley, afirmou que o número de soldados russos na fronteira com a Ucrânia é o maior desde a Guerra Fria e alertou para consequências “terríveis” caso um ataque russo a Kiev se venha a concretizar.

“Se isso fosse desencadeado na Ucrânia, seria significativo, muito significativo, e resultaria num número significativo de vítimas", disse o presidente do Estado-Maior Conjunto. "Podem imaginar como seria em zonas urbanas densas. Seria horrível, será terrível”, acrescentou.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que o presidente russo, Vladimir Putin, tem agora um vasto leque de opções militares, incluindo pequenas acometidas antes de uma invasão em grande escala. Mas Austin acredita que uma guerra com a Ucrânia pode ainda ser evitada.

“O conflito não é inevitável. Ainda há tempo e espaço para a diplomacia”, disse Austin, que falava ao lado do general Mark Milley. “O senhor Putin também pode fazer a coisa certa. Não há razão para que essa situação se deva transformar em conflito. Ele pode ordenar uma retirada das tropas”, afirmou o secretário de Defesa dos EUA.

O presidente norte-americano anunciou na sexta-feira que enviará “a curto prazo” soldados norte-americanos para os países da Europa de leste e da NATO. No início desta semana, o Pentágono anunciou que tem cerca de 8500 soldados norte-americanos em prontidão para o caso de ser necessário prestar auxílio à Europa.

A Rússia tem negado qualquer intenção de ataque à Ucrânia, mas fez depender a redução da ameaça de conflito na região do fim da política de alargamento da NATO, em especial à Ucrânia, e do regresso dos destacamentos militares ocidentais às fronteiras de 1997.

Washington não cedeu à exigência russa sobre o não alargamento da Aliança Atlântica à Ucrânia, mas insistiu, na quinta-feira, que estava a oferecer "uma via diplomática séria, se a Rússia assim o desejar".

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou o Ocidente de ignorar as preocupações de segurança da Rússia, mas afirmou que iria analisar a resposta dos EUA antes de decidir o que fazer, de acordo com uma leitura do Kremlin de uma chamada telegónica entre Putin e seu homólogo francês.

França, por sua vez, disse que os dois líderes concordaram com a necessidade de diminuir a escalada e que presidente Emmanuel Macron disse a Putin que a Rússia deve respeitar a soberania de seus Estados vizinhos.
“Não precisamos deste pânico”
Do lado ucraniano, o presidente Volodymyr Zelensky não afasta a possibilidade de um ataque, mas não acredita que a ameaça russa seja agora mais grave do que num passado recente. Durante uma conferência de imprensa em Kiev, Zelensky apelou a que não seja ampliado o pânico que está a ser criado em termos internacionais.

“Há uma impressão no exterior de que estamos em guerra aqui. Não é o caso”, disse o presidente ucraniano. “Não estou a dizer que uma escalada não seja possível, [mas] não precisamos desse pânico”, acrescentou.

A "desestabilização da situação dentro do país" foi a maior ameaça para a Ucrânia, disse Zelensky.

A Ucrânia está envolvida numa guerra com separatistas pró-russos na região industrial do Donbass, no Leste do país, desde 2014, que diz ser fomentada e apoiada militarmente por Moscovo. A guerra no Donbass já provocou cerca de 14.000 mortos e 1,5 milhões de desalojados, segundo a ONU.

As autoridades de Moscovo recusam-se a falar com o Governo de Kiev sobre o conflito, alegando que a Rússia não está envolvida, e defendem que os ucranianos devem antes discutir a questão com os líderes separatistas de Donetsk e Lugansk.

Na sequência do conflito, Rússia, Ucrânia, Alemanha e França criaram uma plataforma de diálogo conhecida por Formato Normandia, mas os líderes dos quatro países não se reúnem desde 2019. Conselheiros políticos dos quatros líderes reuniram-se na quarta-feira, em Paris, e marcaram um próximo encontro para fevereiro, em Berlim, mas não discutiram a realização de uma nova cimeira, que tem sido sugerida pelo Presidente da Ucrânia.

c/agências
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