EUA ameaçam fechar Embaixada norte-americana em Bagdade

por Andreia Martins - RTP
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, durante uma visita à Embaixada em Bagdade, em janeiro de 2019. Reuters

É uma das maiores missões diplomáticas norte-americanas no mundo mas corre o risco de encerrar nas próximas semanas. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, acenou pela primeira vez com a possibilidade de fechar a Embaixada em Bagdade muito em breve, isto caso os líderes iraquianos não consigam evitar ataques das milícias pró-iranianas, que são cada vez mais recorrentes desde a morte do general Qassem Soleimani, em janeiro.

Ao encerrar a Embaixada norte-americana em Bagdade, que se tornou numa das maiores missões diplomáticas do país desde a invasão em 2003, Washington pretende proteger os diplomatas destacados na capital iraquiana. No entanto, a confirmar-se, a decisão poderá comprometer vários anos de esforços no sentido de estabilizar o Governo local e evitar que este se aproxime e dependa ainda mais do país vizinho, o Irão.

Numa altura em que prosseguem os ataques discretos, mas potencialmente mortais, a decisão norte-americana de encerrar a Embaixada poderia levar outros países ocidentais a seguirem o mesmo caminho, o que levaria a perdas de posições relevantes na luta contra o terrorismo. 

De acordo com o Washington Post, o primeiro aviso enviado ao Governo de Bagdade chegou no último sábado. A ameaça de fechar a Embaixada surpreendeu desde logo os responsáveis iraquianos. “Esperamos que a Administração norte-americana reconsidere. Existem grupos fora da lei que estão a tentar as nossas relações, e o encerrar da Embaixada seria estar a enviar uma mensagem negativa”, disse um porta-voz do primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al-Kadhimi.

Um responsável iraquiano frisou ainda que o Governo norte-americano pediu uma ação mais incisiva contra os ataques levados a cabo por milícias, de forma a evitar o encerramento da representação diplomática no país.

Já um porta-voz do Departamento de Estado recusou-se a comentar "conversas diplomáticas privadas” de Mike Pompeo com líderes estrangeiros, mas reconheceu a frustração dos Estados Unidos com os ataques de "grupos apoiados pelo Irão” contra a Embaixada em Bagdade.

“Vitória de proporções épicas” para o Irão

Estas investidas apoiadas por milícias pró-Teerão têm sido cada vez mais constantes desde há nove meses, altura em que a Administração Trump ordenou o ataque que matou o general iraniano Qassem Soleimani no aeroporto internacional de Bagdade, no início de 2020.

Ainda na última segunda-feira, dois morteiros fizeram pelo menos cinco mortos – duas mulheres e três crianças – numa casa situada precisamente junto ao aeroporto de Bagdade, onde estão destacados vários militares norte-americanos.

Só em setembro, as milícias xiitas levaram a cabo mais de duas dezenas de ataques na capital iraquiana ou arredores, incluindo ataques que procuraram visar forças norte-americanas. Este crescente número de ataques integra a estratégia iraniana de resposta a longo-prazo à morte do general iraniano, figura de grande relevo na hierarquia da República Islâmica.

Para a ex-diplomata no Iraque e Emirados Árabes Unidos, Barbara A. Leaf, a decisão de encerrar a Embaixada norte-americana no Iraque seria “uma vitória propagandística de proporções épicas” para o Irão e para as milícias pró-iranianas no Iraque.

No entanto, só o facto de se ameaçar encerrar a Embaixada foi “muito arriscado e potencialmente contraproducente”, uma vez que “estimulou o furioso apetite das milícias pró-iranianas para pressionarem ainda mais no sentido de obterem o que mais desejam: os Estados Unidos totalmente de fora [do Iraque]”, considera a especialista.

Mesmo que não se concretize, só a ameaça de fechar a Embaixada “poderá prejudicar significativamente os nossos próprios interesses de segurança nacional e potencialmente destabilizar o Iraque no futuro”, acrescenta Leaf em declarações ao New York Times.

No entanto, os serviços de inteligência norte-americanos concluíram que os iranianos pretendem adotar uma postura mais discreta nas próximas semanas por receio de inquinar a eleição presidencial nos Estados Unidos em favor de Donald Trump.

De acordo com a imprensa norte-americana, o Departamento de Estado norte-americano deverá tomar uma decisão sobre esta matéria até às eleições presidenciais nos Estados Unidos, a 3 de novembro.

Ainda assim, mesmo que a decisão seja tomada nas próximas semanas, a retirada da missão norte-americana levaria até 90 dias, o que permitiria a um futuro presidente anular a decisão, avança um diplomata em declarações ao Washington Post.
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